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13 de maio, será que somos livres?

Por Valter Martins e Cinthia Vilas Boas

A conjuntura política e o cada vez mais constatado racismo estrutural nos conduzem à necessidade de contribuir para o fortalecimento de um processo reflexivo por parte daqueles que se sentem atingidos, pessoal e ou coletivamente, por esse desafeto, esse dissabor, essa dor. Reflexões sobre o 13 de maio, embora não inovadoras, buscam manter sempre abertas as linhas contestatórias que são primordiais para uma vigilância constante, diante das manobras elitistas, para nos manter afastados do exercício cidadão. Vale lembrar que a elite no Brasil tem cor!

Diante do exposto, nos posicionamos de imediato, contra qualquer forma de discriminação. Não é novembro, mês da consciência negra, porém o mês de maio, quando as pessoas lembram da abolição da escravidão negra. Há de se considerar o contexto histórico em que ocorreu a promulgação da “Lei Áurea” e os interesses políticos / necessidade de limitar o ato daqueles que de fato foram os protagonistas da luta pela abolição.

Assim, a princesa, chamada Isabel, que tinha um povo, uma cultura, uma história, naquele momento, despontou como a “salvadora” dos negros escravizados, contribuindo para que se normatize o infelizmente e ainda atualmente, combatido racismo estrutural.  Poupando-nos da pesquisa de uma ampla narrativa, que oficialmente se abriga nos compêndios escolares e nos induz à visão de uma sociedade igualitária; na falaciosa, “Democracia Racial”. História contada por colonizadores, com apenas um ponto de vista sempre fica fixada na estrutura.

Partindo do pressuposto de que nos dirigimos a um público criticamente engajado, alertamos para a luta e o protagonismo histórico de pessoas como João de Mattos, homem negro, padeiro e líder sindical. Responsável por forjar as cartas de alforrias num movimento de fuga dos trabalhadores escravizados, aqui significado como uma grande liderança na formação da classe trabalhadora brasileira, entre 1876 e 1912; ou Virgínia Bicudo, reconhecida como a pioneira do debate do racismo. Psicanalista negra, foi a primeira brasileira credenciada pela Associação Internacional de Psicanálise. Em 1945, defendeu a tese “Estudo das Atitudes Raciais de Pretos e Mulatos” em São Paulo, na Escola Livre de Sociologia e Política. Lembremos também de Antonieta de Barros, primeira deputa estadual negra, eleita em 1937 em Santa Catarina, José do Patrocínio, Luís Gama e Maria Firmina dos Reis, maranhense, primeira romancista negra da América Latina; assim como Dandara e Zumbi dos Palmares, verdadeiros heróis da abolição, protagonistas e líderes da resistência negra.

O número de lutadores é grande, cada qual com a sua importância, o que sugere uma satisfatória leitura em que se aflora uma gratificante sensação ocasionada pela identificação, não só epidérmica, fenotípica, étnica, como padrões de mobilização e luta.

O leque de protagonistas dessa história é grande e significativo e nos incita a olhar de maneira franca a luta constante da população negra, pela “consciência negra”; uma vez que a história contada é referenciada somente com a população branca; e entre fatos e evidências para serem pesquisados, analisados, compreendidos e assimilados nessa construção diária; olhamos para todos os lados do que chamamos de processo histórico.

Cumpre ressignificar essa data, considerada como um ato de “generosidade” da elite branca, na figura de uma mulher branca, chamada de princesa e a rememorar com valor histórico que equivale na vitória do “Movimento Abolicionista”, mulheres negras princesas, rainhas e trabalhadoras. Sempre que lembramos daqueles que não se curvaram passivamente à escravidão e não deixamos que descaracterizem o 20 de novembro – Dia da Consciência Negra em homenagem a Zumbi dos Palmares e Dandara – como tentam a todo o momento, apelando para “consciência” humana; lembramos também das mortes e das dores dos que ficaram. Essas ficam vivas, sempre será ficar atento, 24 horas, para contar uma outra visão da história.

A nosso ver, mais uma tática para nos distanciar da ainda necessária luta racial. Abrir mão, libera espaço para a perpetuação de atitudes racistas que nos mantenham afastados da verdadeira integração social. Queremos cuidar de quem cuida, queremos uma classe trabalhadora livre das amarras históricas, queremos ressignificações, queremos respirar, queremos liberdade.

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Valter Martins – Representante Sindical

Cinthia Vilas Boas – Vice Presidente SINPSI

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