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1º Seminário de Socioeducação: espaço legítimo de apresentação de trabalhos e práticas profissionais

Um espaço inédito para profissionais falarem de suas práticas e para suprir a falta de capacitação e atualização dentro da Fundação CASA. Assim aconteceu o 1º Seminário de Socioeducação, no último dia 20, na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). Idealizado pelo Grupo de Trabalho (GT) Pedagogia da instituição e organizado pelo Sindicato dos Trabalhadores em Entidades de Assistência e Educação à Criança, ao Adolescente e a Família do Estado de São Paulo (SITRAEMFA), o evento contou com a presença de diversos sindicatos da socioeducação de outros estados e de catedráticos ilustres que escrevem sobre socioeducação no Brasil e no Mundo.

O presidente do SITRAEMFA, Aldo Antônio, e a vice-presidente, Miuda Nery, fizeram a abertura do evento, ressaltando que a proposta do Seminário foi a de reconhecer o trabalho do socioeducador no estado de São Paulo. Na mesa de debates, o deputado Carlos Giannazi salientou a importância do trabalhador socioeducativo e demonstrou respeito por estes profissionais, o qual rendeu dois Projetos de Lei, um deles sobre a diminuição da carga horária de trabalho.

Dirigente do SITRAEMFA e do SinPsi, Maria Helena Machado destacou o apoio dos palestrantes quando entrou em pauta o assunto da precarização do trabalho da socioeducação.

“Todos compreenderam que o estado a nossa segregação como classe trabalhadora. Há técnicos, psicólogos, assistentes sociais e seguranças atuando na instituição, só que não há diálogo entre as práticas. Não há pensamento de equipe. E isso é para que a gente não se articule como trabalhador”, desabafa.

Por essa razão, muito mais do que criticar o que não funciona bem no trabalho socioeducativo, o maior anseio entre os presentes era de apresentar suas práticas profissionais. Tanto que o evento, em momento algum, ficou esvaziado. As pessoas que chegaram às 8h ainda estavam dispostas ao debate às 18h.

“Assim como os meninos internos, os trabalhadores também são estigmatizados. A Fundação amordaça a fala do trabalhador, engessa mesmo. As equipes não conversam entre si. Nós não fazemos cursos de capacitação, atualização ou formação. A Fundação deseja que o trabalhador fique tão contido quanto o adolescente, mas isso é inviável. Tanto que estamos aqui”, afirmou a dirigente sindical.

Presenças ilustres

Um dos destaques do evento foi a participação do professor-doutor Roberto da Silva, ex-detento da Fundação CASA. Em palestra emocionante, ele relembrou e criticou a violação de direitos civis ao longo de sua infância e adolescência, período em que esteve custodiado pelo estado.

“Ele é a historia viva de uma vida de violações. Admiro a coragem em retratar a história de sua vida, marcada por sofrimentos consentidos pelo estado de São Paulo. Dr. Roberto deixou uma lição para cada participante do Seminário e para mim uma reflexão profunda acerca do trabalho técnico da Fundação CASA”, refletiu Maria Helena.

O jornalista, sociólogo e agente educacional da Fundação CASA, Niva Lima, um dos coordenadores do GT Pedagogia, explicou, em palestra, que o GT se articula há anos no enfrentamento das questões da área pedagógica, ressaltando a marca de luta desta categoria. Em seu discurso, Niva avaliou as conquistas do setor pedagógico e faz chamamento para a união de todos os trabalhadores, em palestra propositiva, que propôs a busca de identidade da pedagogia da Fundação CASA.

O GT Pedagogia se reúne todo último sábado do mês, na sede do SITRAEMFA, à Av. Celso Garcia n° 4031, metro Tatuapé, das 9h às 12h. O próximo encontro será no dia 27 de setembro.

Outra presença de destaque foi a do coordenador do Sistema Nacional de Socioeducação (Sinase), da secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Claudio Augusto. Ele levou a temática do Sinase e as propostas públicas de enfrentamentos que o setor pedagógico faz para que haja implantação da ressocialização e da educação nos centros de atendimento.

Já o psicólogo da Fundação CASA da DRM 4 – Raposo Tavares, Celso Yokomiso, apesar de doutor pela USP e pesquisador de medidas socioeducativas de internação desde 2002, nunca teve escuta dentro da instituição. O Seminário foi a primeira oportunidade de Celso apresentar seu trabalho para os colegas, com o tema “Famílias, Comunidades e Medidas Socioeducativas: a construção dos espaços compartilhados”.

Presidenta da Federação Nacional dos Psicólogos (Fenapsi), diretora do SinPsi e conselheira nacional de saúde, Fernanda Magano proferiu a palestra “Fundação CASA, Psicologia e Socioeducação: retratos da contradição, como superá-los no cotidiano”. Foi o momento de levantar o debate sobre as contradições e interfaces da profissão de psicóloga (o), reconhecendo a importância deste trabalho, acolhendo e fortalecendo os trabalhadores daquela instituição como categoria que atua na difícil medida socioeducativa de encarceramento, a internação. 

Ao final, foram dados os encaminhamentos para a construção de uma pauta nacional de reivindicação da socioeducação e para a realização de pequenos seminários mensais na própria sede do sindicato.

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