Após três dias de intensos debates, reflexões, provocações e busca de entendimentos sobre o papel que as tecnologias de inteligência artificial desempenham na sociedade contemporânea e como a Psicologia pode – e deve – intervir, o III Simpósio Nacional Compromisso Social e Psicologia chegou ao seu final nesta sexta-feira, 4 de dezembro, com a aprovação de uma carta ALERTA À SOCIEDADE BRASILEIRA.
O documento, assinado por 27 entidades que compõe a rede que organizou o Simpósio, entre elas o SinPsi, alerta que “o conhecimento psicológico está sendo usado de uma maneira que coloca em risco, tanto a saúde mental da população, quanto a própria convivência democrática”, e que “a sobreposição de quatro mecanismos diferentes – a captura generalizada de informações sobre as pessoas, a identificação de nichos de audiência, a informação dirigida e customizada a cada um desses nichos e, ainda, o advento de aparatos de comunicação que permitem um nível extremo de individualização e velocidade no acesso a ela – criou uma situação de grave risco para a convivência social e para o desenvolvimento de cada cidadão”.
Antes de iniciar o Simpósio, o SinPsi entrevistou a presidente do Instituto Silvia Lane, Ana Bock, sobre as expectativas para o evento. Clique aqui e confira.
Leia abaixo a íntegra do manifesto do III Simpósio e a relação das entidades que assinam.
ALERTA À SOCIEDADE BRASILEIRA
Esta manifestação é fruto do trabalho cooperativo de várias entidades de Psicologia no Brasil. Estas vêm a público para alertar a população dos ataques a que estamos sujeitos, impetrados pelas tecnologias da chamada inteligência artificial, e posicionarem-se contra o uso antiético dos conhecimentos da Psicologia nestas empreitadas.
O conhecimento psicológico está sendo usado de uma maneira que coloca em risco, tanto a saúde mental da população, quanto a própria convivência democrática. Não somente os saberes e fazeres de nossa ciência e profissão têm esse uso, mas também estão sendo realizadas interferências sobre dimensões da vida humana que são alvo de atenção da Psicologia. Isto obriga a nós, atores vinculados de diversos modos à Psicologia, a este posicionamento público.
Tal processo começa com a captura da atenção e das emoções das pessoas, seguida da transformação de ambas em dados processados por ferramentas baseadas na assim chamada inteligência artificial. Por meio do uso desses dados são estabelecidas possibilidades de manipulação das subjetividades, de um modo inimaginável, até hoje, na história da humanidade.
Nos médio e longo prazos, essa produção e coleta de dados é apontada por estudiosos como arma capaz de estabelecer um novo processo de colonização do planeta, por parte daqueles que detenham essas tecnologias. E nós da Psicologia, por tudo o que estamos conseguindo compreender, estamos vendo que essa ameaça seja algo real e iminente.
A sobreposição de quatro mecanismos diferentes – a captura generalizada de informações sobre as pessoas, a identificação de nichos de audiência, a informação dirigida e customizada a cada um desses nichos e, ainda, o advento de aparatos de comunicação que permitem um nível extremo de individualização e velocidade no acesso a ela – criou uma situação de grave risco para a convivência social e para o desenvolvimento de cada cidadão.
O que nos chama ao tema é o nível de sofisticação dos processos e a dificuldade generalizada de reconhecer que eles estejam acontecendo. Essas tecnologias são potentes, penetrantes e eficientes. Isso leva a uma naturalização de processos inaceitáveis do ponto de vista humano e a uma prostração da sociedade diante de suas prováveis consequências deletérias.
Ademais, tais tecnologias estão apropriadas por atores que não têm dificuldades em criar situações para que até mesmo o reconhecimento de seus malefícios seja obstaculizado.
Diante disso é que profissionais e entidades de Psicologia de diversas regiões do país, abaixo assinados, vêm a público alertar a sociedade brasileira sobre riscos em relação à saúde mental e à própria democracia.
Não se trata de rejeitar algum desenvolvimento tecnológico, que tem resultados positivos inegáveis na vida humana; é perceptível que os recursos advindos desse desenvolvimento seriam altamente eficazes para apoiar a sociedade em diversas dimensões de sua integração e autorreconhecimento. Trata-se de apontar que essas tecnologias não completaram ainda seu processo de humanização e precisam ser conhecidas, analisadas e objeto de controle social.
União Latino-americana de Entidades de Psicologia
Associação Brasileira de Ensino de Psicologia
Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional
Associação Brasileira de Psicoterapia
Conselho Regional de Psicologia 02ª Região – Pernambuco / Fernando de Noronha
Conselho Regional de Psicologia 03ª Região – Bahia
Conselho Regional de Psicologia 04ª Região – Minas Gerais
Conselho Regional de Psicologia 05ª Região – Rio de Janeiro
Conselho Regional de Psicologia 06ª Região – São Paulo
Conselho Regional de Psicologia 07ª Região – Rio Grande do Sul
Conselho Regional de Psicologia 08ª Região – Paraná
Conselho Regional de Psicologia 10ª Região – Pará e Amapá
Conselho Regional de Psicologia 14ª Região – Mato Grosso do Sul
Conselho Regional de Psicologia 16ª Região – Espírito Santo
Conselho Regional de Psicologia 19ª Região – Sergipe
Conselho Regional de Psicologia 22ª Região – Maranhão
Federação Latino Americana de Análise Bioenergética
Federação Nacional dos Psicólogos
Instituto de Psicologia de Birigui
Instituto de Psicologia do Grande ABC
Instituto Giramundo Mutuando
Instituto Sedes Sapientiae
Instituto Silvia Lane
Kitembo – Laboratório de Estudos da Subjetividade e Cultura Afro-brasileira
Libertas
Psicodrama Gaya
Sindicato das Psicólogas do Estado do Rio de Janeiro
Sindicato dos Psicólogos de São Paulo
Sindicato dos Psicólogos do Estado de Minas Gerais