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Mais Médicos, pesquisas, vacinas, novos tratamentos: 2013 foi de avanço na saúde

São Paulo – Os avanços na saúde em 2013 podem ser vistos nos resultados promissores de pesquisas em andamento para a obtenção de novas drogas, personalizadas, com alvos específicos, baseados em alterações genéticas do paciente, como no tratamento do câncer, ou aquelas em telemedicina, com a qual as telecomunicações e outras tecnologias vão permitir, por exemplo, capacitação e atualização permanentes de equipes de saúde da família das regiões mais afastadas por meio da conexão com grandes centros universitários de referência.

Avançaram também estudos para a obtenção de imagens mais precisas do cérebro, de técnicas cirúrgicas minimamente invasivas e em nanomedicina, que se utiliza de estruturas que, de tão minúsculas, poderão levar medicamentos diretamente à região do órgão doente. Isso tudo sem contar os testes com próteses e exoesqueletos, como os que o neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis está desenvolvendo em seus laboratórios no Brasil e nos Estados Unidos. Por causa de seus estudos pioneiros, um jovem paraplégico deverá dar o pontapé inicial no jogo de abertura da Copa do Mundo de 2014 usando um desses aparatos.

Mais Médicos

Os resultados positivos vão além dos laboratórios e incluem políticas para o setor. Segundo especialistas, o programa federal Mais Médicos é o principal deles. Lançado em julho com o objetivo principal de suprir a falta desses profissionais nos municípios do interior do país e nas periferias das grandes cidades com a contratação de 15 mil médicos, brasileiros e estrangeiros, foi duramente criticado pelo Conselho Federal de Medicina, Federação Nacional dos Médicos e Associação Médica Brasileira. “Uma decisão política ousada, uma ação que vai além da presença do médico, dos recursos humanos, e passa pela estruturação de investimentos na atenção básica, com melhoria das unidades de atendimento. É um forte estímulo para o setor”, avalia José Noronha, pesquisador do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict), vinculado à Fiocruz e diretor do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes).

Câncer

Em maio, a atriz Angelina Jolie anunciou a dupla mastectomia profilática. “Mais do que reduzir em perto de 80% as chances de ter câncer de mama, a atriz protagonizou um papel educativo formidável, aumentando o debate e a circulação de informações sobre o tema”, avalia o oncocirurgião Ademar Lopes, vice-presidente do Hospital A.C. Camargo, de São Paulo. A decisão da atriz, conforme ressalta o especialista, só foi possível graças a avanços nas técnicas cirúrgicas, cada vez menos mutiladoras, e ao conhecimento dos genes envolvidos nos tumores. “Por meio de exames genéticos específicos, ela soube que tinha risco aumentado para o tumor mamário e ovariano.”

Há exatos 60 anos, os cientistas Francis Crick e James Watson revolucionaram a ciência ao descreverem a estrutura do ácido desoxirribonucleico (DNA, da sigla em inglês). É graças à descoberta que foi possível o sequenciamento do genoma humano e o consequente conhecimento dos genes envolvidos no surgimento das doenças, inclusive o câncer. Entretanto, todo esse avanço – que não ocorre do dia pra noite – ainda não está ao alcance de todos. O diagnóstico é tardio em muitos casos e o tratamento também demora a começar, reduzindo as chances de cura. Em maio, foi aprovada lei que dá 60 dias para o SUS começar a tratar pessoas diagnosticadas com câncer. “Isso é muito positivo, mas sabemos que o país não está estruturado para garantir o cumprimento da lei”, diz Lopes.

Aids

Anunciado em 1° de dezembro, o novo Protocolo Clínico de Tratamento de Adultos com HIV tem como destaque a distribuição gratuita de antirretrovirais a todos os adultos soropositivos, mesmo aqueles que ainda não têm comprometimento do sistema imunológico. “A medida, pioneira em todo o mundo, tem impacto na saúde individual ao melhorar a qualidade de vida da pessoa infectada pelo HIV, e coletivo, ao reduzir as chances de transmissão do vírus por diminuir a carga viral e a sua propagação”, diz o farmacêutico Ronald Ferreira dos Santos.

Presidente da Federação Nacional dos Farmacêuticos (Fenafar) e coordenador do Movimento Saúde + 10, ele destaca ainda a retomada do protagonismo social na militância do movimento por ele coordenado, que conseguiu quase 2 milhões de assinaturas em todo o país para um projeto de lei de iniciativa popular que, se aprovado no Congresso, obriga a União a investir 10% das receitas correntes brutas na saúde pública.

Fim da epidemia?

“A melhor notícia do ano é a confirmação de que a epidemia de aids pode, sim, ser controlada e a infecção e mortes pela doença podem chegar a escalas jamais imaginadas”, diz Mário Scheffer, professor da Faculdade de Medicina da USP, integrante da Associação de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (Abrasco) e pesquisador em epidemiologia da aids.

Em todo o mundo avançam os testes com vacinas e drogas menos  tóxicas, de efeito prolongado, mesmo em dosagens menores e houve incorporação de novas abordagens, como a profilaxia pós-exposição (PEP) – forma de prevenção da infecção com medicamentos para pessoas que possam ter entrado em contato com o vírus. Para Scheffer, é uma cesta de novidades que, se bem coordenadas, permitirão avanço considerável.

No entanto, segundo o professor, há um abismo entre as boas notícias científicas em aids e a execução das políticas, permitindo retrocessos que colocam em risco as conquistas do país no enfrentamento à doença. Desde 2006, as taxas de mortalidade voltaram a crescer em alguns segmentos, ficando próximas às do período anterior ao advento do coquetel. “Há mais de 10 anos o Brasil está estacionado. O diagnóstico é tardio. Temos hoje o ressurgimento da epidemia em alguns grupos, como homossexuais do centro da cidade de São Paulo, onde um em cada seis está infectado – quadro pior que em muitos países africanos. Sem contar a censura nas campanhas. Por pressões de lideranças religiosas, o país retrocede na abordagem preventiva, faltam campanhas para gays, os testes não chegam onde o HIV está. Nunca tivemos tantas ferramentas e a falta de condições de implementá-las”, diz. “O Brasil seria capaz de lidar com isso mas não temos acompanhado as novidades.”

Vetos ao Ato Médico

Em julho, a presidenta Dilma Rousseff vetou parcialmente a Lei 12.842, mais conhecida como Ato Médico. A legislação, que regulamenta o exercício da carreira médica no Brasil, causou polêmicas por restringir aos médicos prerrogativas que eram compartilhadas por outros profissionais de saúde, como a prescrição e acompanhamento do uso de próteses, calçados ortopédicos, andadores e próteses auditivas, por exemplo. Além desse dispositivo, Dilma vetou também aquele que dava exclusividade aos médicos na direção e chefia de serviços médicos, que tem sentido mais amplo. Com os vetos, podem ser compartilhadas pelos profissionais da área da saúde, além dos médicos, o atendimento a pessoas sob risco de morte iminente; a realização de exames citopatológicos e emissão de seus laudos; a coleta de material biológico para análises laboratoriais e os procedimentos feitos através de orifícios naturais, desde que não comprometam a estrutura celular. “Ficam asseguradas ações e diretrizes clínicas do Sistema Único de Saúde (SUS) e protocolos consagrados em toda a rede de saúde”, disse Ronald Ferreira dos Santos, da Fenafar.

O SinPsi esteva atuante nas mobilizações de rua contra o Ato Médico. Leia aqui nota de repúdio divulgada pelo sindicato. Clique aqui e aquiaqui e aqui para saber como foram os atos e audiências contra a aprovação do projeto, em 2012 e 2013. E leia aqui artigo publicado pelo presidente do SinPsi, Rogério Giannini, na revista Fórum, sobre o assunto. Para entender mais sobre as falhas do PL do Ato Médico, clique aqui.

Segurança do paciente

Lançado em abril pelo Ministério da Saúde em parceria com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a Fiocruz, o Programa Nacional de Segurança do Paciente reúne protocolos básicos de segurança, entre eles sobre a identificação da pessoa atendida nos serviços de atendimento ou internada; a segurança na prescrição, uso e administração de medicamentos; para a cirurgia segura; prática de higiene das mãos em serviços de saúde; e a prevenção de quedas dentro dos hospitais, muito comuns. “Na saúde há muitas falhas que a mídia encobre ou tende a apontar culpados de um problema que é sistêmico. E o programa vai atuar justamente nas falhas que tornam o serviço de saúde inseguro”, diz José Noronha, da Fiocruz.

HPV

No mês passado, o Ministério da Saúde publicou portaria sobre a oferta da vacina quadrivalente contra o vírus HPV pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Em 2014, meninas dos 11 aos 13 anos vão receber as duas primeiras doses do imunizante. A terceira dose será aplicada cinco anos depois. E a partir de 2015, a vacinação vai abranger também pré-adolescentes de nove a 11 anos. Principal causa do câncer de colo do útero, o papilomavirus humano (HPV) se divide em mais de 100 tipos diferentes, dos quais 13 podem provocar tumores e outras complicações. Esta vacina protege contra quatro tipos do HPV: 6, 11, 16, 18.

“Há resultados positivos nos testes da vacina nonavalente, contra os tipos 6, 11, 16, 18, 31, 33, 45, 52 e 58, que amplia a proteção contra as doenças causadas por essa família de vírus”, explica o médico Mauro Romero Leal Passos, professor associado e chefe do setor de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) da Universidade Federal Fluminense (UFF).

No entanto, segundo Passos, nem tudo é avanço quando o assunto é DST. Os casos de gonorreia, por exemplo, tiveram aumento no mundo todo. “Para piorar, a bactéria causadora é cada vez mais resistente aos novos antibióticos.” Para o médico, a negligência é geral. A mídia não toca no assunto, os governos não investem na prevenção, no diagnóstico e tratamento, que geralmente são tardios, inadequados. O resultado pode ser o recrudescimento dessas doenças medievais que voltam a preocupar.

Alzheimer

Cientistas brasileiros de diversos centros de pesquisa, entre eles a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), descobriram neste ano que o uso de um medicamento usado no tratamento do diabetes, a liraglutida, poderá, no futuro, prevenir o mal de Alzheimer. Isso porque a degeneração cerebral que desencadeia a doença está associada a problemas na ação da insulina no cérebro. As pesquisas partiram da constatação de que as pessoas com diabete tipo 2 apresentam risco aumentado para desenvolver o Alzheimer. O estudo foi publicado no começo deste mês na revista científica Cell Metabolism.

Células-tronco

Professor do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenador do Laboratório Nacional de Células-Tronco Embrionárias, na mesma universidade, Stevens Rehen diz que há diversos estudos promissores sendo realizados em laboratórios de todo o mundo. Um deles, divulgado em maio na revista Nature por cientistas da Universidade de Yokohama, no Japão, recriou, em laboratório, um órgão vascularizado, com as propriedades de um fígado, a partir de células-tronco reprogramadas, extraídas da pele.

Os roedores que tiveram o órgão implantado sobreviveram mais que os demais, sem o implante. Embora cedo para saber se a técnica funcionará em humanos, o resultado abre a possibilidade de novas perspectivas para pacientes que aguardam um transplante do órgão. Em outro estudo, cientistas europeus conseguiram desenvolver “minicérebros” a partir de células-tronco reprogramadas. Com isso será possível, no futuro, estudar mais profundamente o desenvolvimento de doenças cerebrais. Há também diversos estudos clínicos sendo realizados. Entre eles, um na Universidade Federal de São Paulo, coordenado pela Universidade do Sul da Califórnia, nos Estados Unidos. O objetivo é testar a segurança – e não ainda a eficácia – de células-tronco embrionárias no tratamento da degeneração macular, maior causa de cegueira entre as pessoas idosas.

Autismo

Conhecidas como probióticos, as bactérias benéficas que colonizam o estômago humano têm tudo para ser utilizadas em novas drogas para aliviar os sintomas de alguns espectros do autismo. É o que indicaram testes com ratos em laboratórios do Instituto de Tecnologia da Califórnia, nos Estados Unidos. Os pesquisadores partiram do conhecimento de que muitos autistas têm problemas intestinais e que essas bactérias podem influenciar o comportamento emocional e social.

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