No programa Contraponto, presidente da Comissão da Verdade SP, deputado Adriano Diogo, fala da importância de resgatar os horrores da ditadura para que nunca mais aconteçam
Por mais de uma hora o deputado estadual Adriano Diogo (PT) fez relatos de causar arrepios mesmo aos mais insensíveis. Lembrou da perseguição e das torturas que ele e outros companheiros sofreram e falou do trabalho árduo da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo, que preside, na apuração dos fatos ocorridos nos porões da ditadura.
Adriano Diogo foi o entrevistado do programa Contraponto, mediado na terça-feira 8 pelo coordenador da Rede Brasil Atual, Paulo Salvador. Em quatro blocos, respondeu às perguntas de jornalistas e blogueiros – Eduardo Guimarães (Blog da Cidadania), Renata Mieli (Barão de Itararé), Vitor Nuzzi (Rede Brasil Atual) e Ana Paula (da CUT). “A Comissão da Verdade é um movimento, trabalha sobre o tripé: memória, verdade e justiça. Durante mais de 40 anos no Brasil só falamos da memória, nunca da verdade. E como falar em justiça, sem falar da verdade”?
Questionado sobre quem está ganhando o debate, na queda de braço com os militares que se recusam a apurar o que realmente aconteceu no período e punir os culpados, Adriano Diogo foi enfático: “Essa é uma luta política no campo das ideias. O povo brasileiro só vai ganhar essa luta se tiver discriminado: quem tem as mãos sujas de sangue não pode conviver na mesma sala que os perseguidos”. E lembrou: “o golpe mortal na cabeça da ditadura foi dado pelos trabalhadores”, com as greves no final da década de 1970.
Destacou a importância dos debates que vêm ocorrendo e lembrou a participação de grandes empresas no financiamento do golpe. “Quando você não esclarece, não coloca um cordão de isolamento. Tem de dizer que quem financiou a ditadura foi o banco tal. Temos de marcar essas empresas. Essas histórias precisam ser contadas. Mas eles são poderosos”, reforçou. “Após documentos obtidos no Dops, a Comissão da Verdade ouvir que não se devia falar em Fiesp e no Consulado Americano. Mas tudo que foi descoberto vai constar dos relatório”, revelou, lembrando a participação de figuras como o ex-juiz Nicolau dos Santos Neto, o Lalau, e da ex-ministra Zélia Cardoso de Mello, a quem acusou de “gostar de assistir sessões de tortura”.
Para Adriano Diogo, só vai haver avanço de fato, sobre o tema, no dia em que se reciclar os currículos da escola militar. “Não dá para ficar olhando no buraco da fechadura da história, por método de adivinhação. Tem de abrir os arquivos, documentos. Os arquivos do IML, por exemplo: não abrem o armário, sabem que tem tudo lá e não devolvem para saber pelo menos como os caras morreram.”
Há um longo trabalho pela frente e o deputado sabe disso. “Muita gente acha que sou louco. Tomara que muitos outros loucos continuem falando… O maior relatório que a Comissão da Verdade pode fazer é: perdemos o medo.”
O canal do Sindicato no YouTube tem a íntegra do programa. Clique aqui.