‘Presidente, escute o verso ligeiro e tome ciência: cancele esse projeto, bote a mão na consciência. Enquanto falar de corte, seremos resistência’, dizem alunos do Instituto Federal Santa Cruz (RN)
Perto de completar um mês à frente do Ministério da Educação (MEC), Abraham Weintraub teve hoje (6) uma demonstração da resistência à sua política de cortes especialmente no ensino superior. Pela manhã, uma multidão tomou as ruas de Salvador em apoio não só à Universidade Federal da Bahia (UBFA), mas a todas as 60 universidades federais e aos 40 institutos federais (IFs) que terão 30% de corte no orçamento deste ano.
Os IFs oferecem cursos técnicos em tempo integral, com formação concomitante do ensino médio e técnico, cursos técnicos subsequentes, para o estudante que já concluiu o ensino médio – nesse caso, somente a formação técnica, cursos superiores que formam tecnólogos, bacharéis e de licenciatura para o magistério, além de pós-graduação nas modalidades especialização e mestrado.
Durante a manifestação, o reitor João Carlos Salles rebateu afirmações do ministro Weintraub. Em entrevista na última terça-feira (30), ele disse que universidades federais são espaço de “balbúrdia” e que precisam mostrar resultados.
“A UFBA melhorou seus índices e avançou em rankings e avaliações, como a do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) nos programas de pós-graduação. Afastada a justificativa de balbúrdia, era preciso afastar a justificativa de desempenho insuficiente, o que constituiria vício de motivação. Com isso, o governo recuou para em seguida avançar sobre todo o ensino superior e agora sobre a educação básica, ameaçando o futuro do nosso país”, disse.
Ainda segundo Salles, o corte da UFBA totaliza R$ 55.906.441,00. “Não só a UFBA, mas as universidades não suportam a dimensão de bloqueio dessa ordem. A UFRJ teve bloqueio de R$ 114 milhões. Para a universidade que já está combalida de recursos, isso é uma sentença de destruição.”
Institutos federais
Por todo o país, estudantes e professores dos IFs também se manifestaram contra os cortes no orçamento. Por meio da hashtag #TireaMãodoMeuIF, os alunos marcaram atos realizados nos institutos.
“Presidente, escute o verso ligeiro e tome ciência: cancele esse projeto, bote a mão na consciência. Enquanto falar de corte, nos seremos resistência”. Os versos são parte do recado dos estudantes do Instituto Federal (IF) Santa Cruz (RN)
Resistência
O Ministério Público Federal já começa a apurar os impactos desses cortes. Nesta sexta-feira (3), em Goiás, foram abertos três inquéritos civis. Um sobre o direito à educação dos alunos da Universidade Federal em Goiás (UFG), do Instituto Federal de Goiás (IFG) e do Instituto Federal Goiano (IF Goiano).
No mesmo dia, a Defensoria Pública da União (DPU) protocolou ação civil pública contra o Ministério da Educação (MEC) pelo corte de verbas. Diversas outras ações foram protocoladas em diferentes tribunais do Brasil.
O movimento pela derrubada da medida do governo começa a definir sua agenda. O Diretório Central de Estudantes da UFBA convoca assembleia geral para a próxima quinta-feira (9). Na pauta, defesa da Universidade Pública e da Educação, além da definição do calendário de lutas.
Na Bahia, manifestantes dizem o que pensam das universidades e do governo de Jair Bolsonaro. No Rio Grande do Sul, alunos e professores se unem na defesa do Instituto Federal. Uma amostra do que aconteceu em todo o país.