A partir de 1º de março, usuários do vale-transporte só poderão fazer uma integração. Nova licitação do transporte da capital paulista vai reduzir linhas e aumentar conexões
O prefeito da capital paulista, Bruno Covas (PSDB), determinou a redução do número de integrações para usuários do Bilhete Único Vale-Transporte. De acordo com decreto publicado no Diário Oficial do Município, no sábado (23), a partir de 1º de março, os trabalhadores só vão poder fazer uma integração: utilizando duas linhas de ônibus ou um ônibus e um trem/Metrô, em um período de três horas.
Ao mesmo tempo, a licitação do transporte coletivo, realizada por Covas no início do mês, prevê corte de linhas, redução no número de ônibus na cidade e aumento das baldeações. A medida deve afetar cerca de 1,2 milhão de pessoas por mês, que utilizam essa modalidade de cartão, segundo dados da São Paulo Transporte (SPTrans).
Antes da medida, usuários do vale-transporte podiam fazer três integrações em ônibus com a mesma tarifa (R$ 4,30), em um período de duas horas. Ou duas integrações em ônibus e uma no sistema de trens/Metrô (por R$ 7,48). Agora só será permitida uma baldeação.
O problema se agrava com a previsão de redução de linhas e aumento nas baldeações, conforme o edital da nova licitação do transporte coletivo de São Paulo, realizada em 5 de fevereiro. Serão extintas 149 linhas e outras 186 terão seu trajeto reduzido. Isso vai levar a um aumento no número de integrações. Em 2017, antes da licitação, a RBA já havia revelado que a prefeitura estava extinguindo linhas de ônibus em várias regiões da cidade.
Como exemplo, na região sul da cidade – área 6, azul claro – serão 53 as linhas modificadas. A linha 675X Terminal Grajaú/Vila Mariana será cortada no Campo Belo. Quem já pega uma linha para chegar ao Terminal Grajaú terá de pagar mais uma para chegar à Vila Mariana. Na região de Parelheiros, a linha 695H-Jardim Herplin/Terminal Santo Amaro, passará a ir apenas até o Terminal Grajaú. Será preciso mais uma integração para chegar a Santo Amaro.
Desigualdade social
Situação semelhante à dos moradores da região noroeste – área 1, verde claro – que terá 51 linhas modificadas. Essa área ainda possui muitas linhas que vêm dos bairros ao centro e grande parte delas será cortada. Entre os mais prejudicados, estão os usuários da linha 8622 Morro Doce/Praça Ramos de Azevedo. A linha vai passar a fazer final do Terminal Jardim Britânia. De lá será preciso ir até o Terminal Lapa e daí pegar um ônibus para o centro da cidade. A nova licitação ainda vai definir como serão realizados os cortes de linhas.
Para o coordenador de projetos da Rede Nossa São Paulo, Américo Sampaio, a medida é muito prejudicial para os trabalhadores mais pobres e que moram mais longe da região centro-oeste da cidade, onde estão concentrados os empregos, conforme mostra o Mapa da Desigualdade. “É uma medida que não faz sentido para (se buscar) a melhoria do sistema e que amplia a desigualdade social. Prejudica o desenvolvimento econômico da cidade, porque estimula as empresas a contratar quem mora mais perto do local de trabalho. E vai prejudicar aqueles trabalhadores que vivem nas periferias e procuram emprego na região central”, afirmou.
As mudanças fazem parte de um pacote de medidas com objetivo de reduzir fraudes no Bilhete Único. As recargas feitas até este sábado valiam por cinco anos. A feitas agora só valerão por um ano. Além disso, os cartões sem identificação terão limite de recarga de R$ 43. O Bilhete Único passa a poder receber publicidade e ser aceito para locação de bicicletas e patinetes disponíveis nas ruas, que mantenham parceria com a prefeitura, assim como aplicativos de táxi e transporte individual.
Covas justificou a medida alegando que a responsabilidade com o vale-transporte é dos empresários. E estimou uma economia de R$ 400 milhões para a prefeitura. Em janeiro, quando a gestão Covas aumentou a tarifa de ônibus de R$ 4 para R$ 4,30, o prefeito determinou a extinção do subsídio para os empresários. Com isso, a tarifa paga pelos empresários, que por lei precisam custear o transporte de seus empregados, passou para R$ 4,57.
Para Américo, a medida visa aumentar o caixa da prefeitura às vésperas de um ano eleitoral, em que Covas deve concorrer à reeleição. “É uma medida para fazer caixa às custas do trabalhador. O empresário não vai arcar com isso. Vai dizer pro trabalhador: ‘O Bilhete Único agora funciona assim, se vira’. Não faz sentido dizer que a responsabilidade do VT é só das empresas, já que é obrigação do poder público reduzir as gigantescas desigualdades existentes em São Paulo e ajudar que as condições para buscar emprego sejam iguais em todas as regiões da cidade”, afirmou.