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Gestão fecha os olhos para a saúde mental do servidor

Os relatos circulam quase que diariamente pelos corredores dos hospitais até chegarem ao SindSaúde, entidade que defende e luta pelos direitos dos servidores da área da Saúde. Perseguições, assédios, total falta de condições de trabalho, entre tantos outros problemas já conhecidos dentro da Secretaria de Saúde (SES-DF), têm andado lado a lado como surgimento de transtornos psicológicos entre os servidores, gerando afastamentos por licença médica e até mesmo alguns casos de suicídio.

Os efeitos colaterais desse cenário como depressão, estresse, ansiedade, transtorno pós traumático e outros distúrbios mentais, são uma realidade na vida e no ambiente de trabalho. A Previdência Social aponta que, só em 2016, 75,3 mil trabalhadores foram afastados em todo o Brasil. No DF, 6,2% da população adulta sofre com esses problemas, conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS) em dados divulgados em abril deste ano.

Mulheres são as mais afetadas

Segundo dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) do Ministério da Saúde, foram notificados no período de 2007 a 2017, 7.770 casos de transtornos mentais relacionados ao trabalho. As trabalhadoras são maioria, com 60% dos casos no?ficados (4.646).

Com relação à faixa, trabalhadores entre 30 e 49 anos correspondem a 67,3 % dos casos.

O SindSaúde tentou obter dados específicos sobre os servidores da Saúde junto à SES-DF e a Subsecretaria de Segurança e Saúde no Trabalho (SubSaúde), da Secretaria de Planejamento (Seplag) — responsável pelas perícias em casos de licenças e afastamentos por motivo de saúde. A Pasta negou acesso a qualquer tipo de informação nesse sentido. ”A impressão que temos é que a categoria está adoecendo e nada tem sido feito pela Secretaria de Saúde e demais órgãos do governo para que isso seja evitado”, crítica a presidente do SindSaúde, Marli Rodrigues.

Problema recorrente

Não é de hoje que o SindSaúde está preocupado com os constantes relatos de adoecimentos na categoria, principalmente no que diz respeito ao psicológico dos trabalhadores, e vem cobrando do governo que cuide da saúde de quem cuida do brasiliense.

Há dois anos, o sindicato denunciou o caso da servidora Beatriz Fernandes, do Hospital Regional de Santa Maria (HRSM), que entrou em quadro depressivo devido a constantes assédios sofridos por parte da gestão. A história da trabalhadora terminou de forma trágica.

Trauma e perseguição

Diagnosticado com transtorno pós-traumático, associado à síndrome do pânico e quadro depressivo, em decorrência de uma situação ocorrida no local de trabalho, um técnico de enfermagem — que prefere não se identificar por temer perseguição — conta que há dois anos vive um verdadeiro calvário.

Ao longo desse período, ele já foi afastado e reintegrado ao trabalho algumas vezes. “Meu médico não tinha me dado alta por achar que não estava pronto, mas a Medicina do Trabalho sim, porém, com restrição. Daí eles começaram a me constranger, sem saber onde me colocar, querendo que eu desse a solução”, relata. O servidor queixa-se ainda que até mesmo sua vida pessoal vem sendo monitorada “numa tentativa de insinuar que não estou doente”.

Doença e abandono

Outra servidora corrobora esse pensamento. Ela conta que há cinco meses perdeu o cargo de chefia devido a perseguições dentro do ambiente de trabalho, o que também teria resultado em sua remoção. De lá para cá, desenvolveu um quadro depressivo diagnosticado no fim de setembro por uma psiquiatra da própria unidade em que atua. “Ela notou que eu não estava bem, fiquei fugindo da consulta porque nunca gostei de dar atestados e sempre achei que depressão fosse uma balela. Quando finalmente me consultei, fui afastada por quinze dias”, conta a trabalhadora que diz ainda não se sentir preparada para retornar ao serviço.

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