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No Metrô, trabalhadores torcem para não ocorrer uma tragédia por falta de seguranças

Por relatórios e conversas de grupos fechados nas redes sociais, metroviários relatam preocupação e revolta com a falta de funcionários

São Paulo – Trabalhadores da Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô), empresa administrada pelo governo de Geraldo Alckmin (PSDB), passam os dias torcendo para que não aconteça uma tragédia. Em um relatório administrativo obtido pela RBA, um operador de trem relata seu desespero ao perceber uma briga dentro do trem e descobrir que só havia seguranças atuando na estação Itaquera da Linha 3-Vermelha. Outros relatam um imenso número de “burlas”, usuários que entram sem pagar no sistema. O Sindicato dos Metroviários está elaborando uma campanha para exigir melhores condições de trabalho e contratações de profissionais para o Metrô.

O relatório data a ocorrência em 26 de fevereiro. Ao sair da estação Carrão, sentido Itaquera, o operador percebeu uma briga entre os passageiros. “Imediatamente chamei o CCO (Centro de Controle Operacional) e o mesmo não me respondeu. Ao chegar em Penha e abrir a porta, jogaram um usuário para fora do trem. O Operador de Trem que estava no comando fechou as portas e seguiu viagem, pois acabara de ouvir uma comunicação do CCO que só havia seguranças na estação Itaquera”, relatou o metroviário. A estação Carrão fica a seis paradas de distância de Itaquera.

O trabalhador desabafa no mesmo documento, ressaltando que não tem condições de trabalhar na situação atual. “Nós funcionários temos que testemunhar um usuário matar outro e não podemos fazer nada. A companhia não oferece segurança”, escreveu. O relatório também destaca que vem sendo cotidiana a falta de retorno do CCO aos pedidos dos operadores. Apesar dos problemas, o Metrô reabriu – até amanhã (4) – as inscrições do Programa de Demissão Voluntária (PDV), que em dezembro já contava com 632 inscrições.

No Natal passado, o trabalhador ambulante Luís Carlos Ruas foi espancado até a morte na estação Pedro II da Linha 3-Vermelha. Não havia seguranças na estação.

No feriado de carnaval a situação não foi diferente. Relatos de trabalhadores cumprindo várias funções e nenhum segurança atuando fixo nas estações da Linha 3-Vermelha. Um mesmo metroviário tendo de fechar terminais de ônibus, fiscalizar as catracas e cobrir o CCO. Nos grupos de trabalhadores em redes sociais, os relatos são de revolta e desespero.

“Nestes dias de carnaval e blocos nas ruas no centro o excesso de usuários foi em República e Anhangabaú, principalmente. Poucas duplas nestas estações e uma dupla ou outra ao longo da linha. Em todas as estações o quadro é abaixo do mínimo. Não dá para acreditar no que está acontecendo. Grande risco para os funcionários e usuários porque o nosso sistema não foi projetado para as estações ficarem “em ATO” – gíria dos trabalhadores para locais em que não há nenhum trabalhador para cumprir as funções básicas. Não tem portas de plataforma e o terceiro trilho é ao lado da via. Exige monitoramento constante e seguranças para conter abusos e atitudes de risco”, relatou um trabalhador.

Segundo o diretor do Sindicato dos Metroviários Alex Santana, a situação tem sido recorrente e vem piorando ano após ano. “O que levou a isso foi a falta de investimentos do governo paulista. Não só em segurança. Hoje falta muita peça de trem, equipamentos, sistemas que nunca terminam de ser instalados, um monte de trem parado. Até itens básicos de higiene tem faltado. E o quadro de funcionários é consequência disso. Faz tempo que só vem saindo gente”, afirmou. Os metroviários têm uma assembleia marcada para segunda-feira (6) e uma paralisação indicada para o próximo dia 7.

Embora o Metrô justifique o PDV por redução de gastos, o sindicato estima que as demissões do programa já tenham custado aproximadamente R$ 10 milhões. “Não tem trabalhador suficiente e a companhia quer demitir mais. Isso já deixa várias estações sem cobertura. Em feriados a situação piora muito, porque ninguém suporta as escalas que são feitas e também não quer fazer hora extra depois que o Metrô passou a não remunerar e constituir banco de horas”, explicou Santana. Os metroviários ingressaram com uma ação na justiça para obrigar o Metrô a contratar mais servidores.

O Metrô não se manifestou.

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