Em destaque, Notícias

Congresso da Abrasme reúne mais de 1.400 pessoas em Belém para discutir saúde mental e direitos humanos

22nov2024 Texto, fotos e vídeo Norian Segatto

Diz a lenda urbana que morador de Belém (PA) marca encontro antes ou depois da chuva, em referência à regularidade climática da cidade amazônica. No entanto, queimadas, poluição, desmatamento, ambição e invasão de terras indígenas entre outros fatores estão tornando a lenda da chuva em Belém algo do passado. Durante os três dias (15 a 17 de novembro) do 9.o Congresso Brasileiro de Saúde Mental não caiu uma gota de chuva sobre a cidade, realidade que perdurava há quase 15 dias e servia de alerta para os perigos da devastação da floresta amazônica.

Os problemas climáticos e seus reflexos na saúde mental da população e o respeito aos povos originários foram tônicas constantes durante o Congresso, que reuniu mais de 1.400 pessoas, segundo os organizadores.

Auditório lotado para acompanhar os “grandes debates”

Promovido pela Abrasme – Associação Brasileira de Saúde Mental, o Congresso, que nesta edição teve como nome Potências do bem viver: ancestralidade, diversidade e sustentabilidade, é um dos eventos mais importantes do calendário da saúde mental no país, reunindo a cada edição milhares de pessoas, entre estudantes, pesquisadores, profissionais da saúde, usuários, familiares e militantes antimanicomiais.

Durante os três dias, mais de 70 palestrantes se dividiram em 14 minicursos, cinco oficinas temáticas, simpósio de Ecosol (economia solidária), 74 rodas de conversa, oito mesas redondas, e dois grandes debates, além da assembleia de filiados da Abrasme, feira de economia solidária, lançamento de livros, atividades culturais, mostra de fotografias e cineclube, que exibiu 14 obras de cineastas e coletivos independentes. Ufa! O detalhamento de cada uma dessas atividades pode ser encontrado no site da Abrasme.

Debates instigaram à reflexão das grandes questões da atualidade

A bem da verdade, o Congresso mobilizou setores da sociedade mesmo antes de sua abertura. Na Assembleia Legislativa do Pará ocorreu uma sessão solene para homenagear a Abrasme e o Congresso, que contou com as participações de Ana Paula Guljor, presidente da Abrasme, e Paulo Amarante, renomado psiquiatra, fundador e presidente de honra da entidade. Ambos abordaram diversos aspectos da promoção de políticas públicas de saúde mental, dos perigos ambientais e da luta antimanicomial contra as ditas comunidades terapêuticas.

Congresso marca posição contra o projeto de marco temporal

Participação do SinPsi

Fernanda Magano, Nita Tuxá (do CFP) e Rogério Giannini

Espalhadas pelas salas de aula da Unama – Universidade da Amazônia, as rodas de conversa serviram para trocas de experiências, aprofundamento teórico, propostas e reflexões sobre os mais diversos temas; foram 74 eventos espalhados por dois dias de congresso.

O presidente do SinPsi, Rogério Giannini, coordenou, juntamente com Milton Santos, da Coalização Orfandade e Direitos o minicurso A construção de políticas de proteção integral à orfandade, que apresentou a dimensão social da tragédia da Covid-19, classificando como crime de Estado a atuação do governo Bolsonaro durante a pandemia. Rogério e Milton enfatizaram a necessidade de haver o reconhecimento histórico por parte do governo da responsabilidade sobre milhares de mortes que poderiam ter sido evitadas, reparação para os órfãos.

Mesa de debate do painel Desinstitucionalização

No debate Desinstitucionalização: Uma agenda inacabada, a diretora do SinPsi, Fernanda Magano, discorreu sobre os processos e políticas governamentais e da sociedade civil para o fim dos manicômios judiciários. Fernanda, que também faz parte da mesa diretora do Conselho Nacional de Saúde, abordou, ainda, os desafios de implementar o rol de propostas que surgiram na 5.a Conferência Nacional de Saúde.

Cenário multicultural

Feira de artesanato, comidas típicas, lançamento de livros, mostra de cinema e diversas atrações musicais e de dança, com usuários dos serviços de saúde, deram o tom da multiplicidade cultural do evento.

As majés (correspondente feminino aos pajés) Cintia Guajajara e Nadia Pitaguary abrilhantaram a conferência de abertura com cânticos de proteção.

Cartaz da mostra de cinema

No circuito cinematográfico, o curador Kayky Avraham trouxe uma interessante mostra de produções independentes, como o emocionante documentário sobre o complexo de Manguinhos, no Rio de Janeiro; a instigante ficção Javyju, documentário Domingo no golpe, feito a partir dos registros das câmeras de segurança durante os atentados de 8 de janeiro, o filme de animação Gyuri, produzido a partir de uma lenda do povo Tukano, entre outros.

E, óbvio, não podia deixar de faltar uma apresentação de carimbó, ritmo típico do Pará, que, literalmente, colocou a plateia para dançar.

Eleição da Abrasme

O Congresso serviu também para a realização de uma assembleia de filiados da Abrasme, que discutiu mudanças no estatuto da entidade, principais eixos de luta para o próximo período de eleição da direção. A psiquiatra Ana Paula Guljor foi reeleita presidente (ou presidenta, como gostam alguns), Leonardo Pinho assumiu a vice-presidência. Rogério Giannini, que já fazia parte da gestão anterior, continua nesta, à frente da Diretoria de Relações Institucionais.

Entre os pontos prioritários, Ana Paula destaca:   

O fechamento dos manicômios judiciários;

Redução de danos como principal estratégia da política sobre drogas;

Fortalecimento do protagonismo de usuários e familiares nas agendas da saúde mental;

Combate ao racismo ambiental.

Para saber mais sobre o congresso, suas pautas e debates você pode acessar o site da Abrasme ou assistir a transmissão feita pelo canal de Youtube a Assembleia Legislativa do Pará. O próximo congresso está originalmente marcado para ocorrer em Vitória (ES).

Depoimento de Ana Paula Guljor, presidente da Abrasme