Olhe à sua volta. Na plataforma do trem, no ponto de ônibus, na pista expressa: hoje em dia, alguém provavelmente está fingindo, mantendo uma rotina de trabalho sem ter um emprego para o qual ir. O sujeito estilo Wall Street, com suspensórios e sua pasta chamativa; a mulher usando pérolas, dedilhando seu BlackBerry; o construtor em suas botas de trabalho e cinto de ferramentas – eles todos poderiam estar se dirigindo à mesma cafeteria, ou bar, para passar o dia.
“Tenho um novo cliente, um advogado desempregado, que se desloca todos os dias – para seu Starbucks”, disse Robert C. Chope, professor de aconselhamento na Universidade Estadual de São Francisco e presidente da divisão de empregos da American Counseling Association. “Ele se veste de acordo, encontra-se com seus colegas, faz relacionamentos; ele chama isso de sua Casa Branca do Oeste (como são chamadas as residências adicionais do presidente dos EUA). Eu o encorajei a manter sua rotina.”
A fina arte de manter as aparências pode parecer vazia e enganadora, a própria personificação da negação. Mas muitos psicólogos ousam discordar. Pelo lado de que mantém bons hábitos e reflete o orgulho pessoal, dizem eles, esse tipo de representação pode ser uma estratégia social extremamente eficaz, especialmente em tempos incertos como os nossos.
“Se mostrar orgulho nesse tipo de situação é uma falta de adaptação, então por que as pessoas fariam isso com tanta frequência?” disse David DeSteno, psicólogo da Northeastern University em Boston. “Mas as pessoas o fazem, é claro, e estamos descobrindo que o orgulho é centralmente importante não só para sobreviver a perigos físicos, mas para prosperar em circunstâncias sociais complicadas, de maneiras nada óbvias.”
*Jogado para escanteio*
Durante a maior parte de sua existência, o campo da psicologia ignorou o orgulho como emoção social fundamental. Ele era considerado marginal e variável demais individualmente em comparação com expressões viscerais básicas de medo, nojo, tristeza ou alegria. Além disso, ele pode significar coisas diferentes em culturas diferentes.
Porém, pesquisas recentes de Jessica L. Tracy, da Universidade da Columbia Britânica, e Richard W. Robins, da Universidade da Califórnia, em Davis, mostraram que as expressões associadas ao orgulho na sociedade ocidental – geralmente um leve sorriso e uma inclinação de cabeça – são praticamente idênticas entre culturas. As crianças experimentam o orgulho pela primeira vez por volta dos dois anos e meio, sugerem os estudos, e o reconhecem aos quatro.
E tampouco é uma simples questão de imitação. Num estudo de 2008, Tracy e David Matsumoto, psicólogo da Universidade de São Francisco, analisaram reações espontâneas a vencer ou perder uma disputa de judô durante as Olimpíadas e Paraolimpíadas de 2004. Eles descobriram que as expressões de orgulho após uma vitória eram similares nos atletas dos 37 países, incluindo 53 competidores cegos de nascença.
“Trata-se de uma emoção autoconsciente, refletindo como você se sente em relação a si mesmo, e tem esse importante componente social”, disse Tracy. “É o mais forte sinal de status que conhecemos entre as emoções; mais forte que uma expressão de felicidade, contentamento, qualquer coisa.”
*Status elevado*
Num experimento continuado, Tracy, junto a Azim Shariff, um estudante de doutorado da Columbia Britânica, descobriu que as pessoas tendem a associar uma expressão de orgulho com status elevado – mesmo quando sabem que a pessoa está por baixo na hierarquia. Em seu estudo, os participantes impulsivamente atribuíram status mais elevados a um orgulhoso gandula do que a um técnico do time que parecia envergonhado.
As implicações disso são difíceis de exagerar. Pesquisadores tendem a dividir o orgulho em pelo menos duas amplas categorias. O orgulho considerado “autêntico” surge de feitos reais, como criar uma criança problemática, iniciar uma empresa ou reconstruir um motor. O orgulho chamado por Tracy de “hubrístico” se aproxima mais da arrogância ou do narcisismo, sem fundamentação substancial. O fato de “vestir” uma boa expressão pode atrair elementos dos dois tipos.
Porém, ninguém consegue diferenciá-los pelo lado de fora. Expressões de orgulho, por quaisquer motivos, parecem iguais. “Assim, contanto que você seja um bom ator e as pessoas não saibam demais sobre sua situação, todos os sistemas funcionam”, disse Lisa A. Williams, candidata a doutorado em psicologia na Northeastern University.
Os vários sabores do orgulho podem até mesmo parecer similares por dentro, quando os riscos são altos o suficiente. “Ela sempre foi cuidadosa em manter as aparências para si mesma”, escreveu Edith Wharton sobre sua trágica heroína Lily Bart, de “A Essência da Paixão”. “Sua autoexigência tinha um equivalente moral, e quando ela realizava um tour de inspeção em sua própria mente, havia certas portas fechadas que ela não abria.” Se você acredita, eles também acreditarão.
*Ímã emocional*
Um sentimento de orgulho, quando convincente, age como um ímã emocional. Num estudo recente, Williams e DeSteno, da Northeastern, submeteram um grupo de 62 graduandos a testes, supostamente medindo seu QI espacial. Os padrões piscavam rápido demais para que qualquer um conseguisse avaliar seu próprio desempenho.
Os pesquisadores manipularam a quantidade de orgulho sentido por cada participante a respeito de sua pontuação. Para alguns eles não disseram nada sobre o resultado; para outros, afirmaram, em tom direto e sem emoção, que havia sido uma das melhores pontuações que já tinham visto; e para outros, derramaram elogios de que o desempenho havia sido maravilhoso, dos melhores já vistos.
Em seguida, os participantes se sentaram em um grupo para solucionar enigmas similares. Como era de se esperar, os estudantes que haviam sido calorosamente encorajados relataram sentir mais orgulho que os outros. Mas eles também consideravam seus parceiros do exercício em grupo como sendo mais dominantes e mais agradáveis do que aqueles que não tinham o brilho interno da auto-aprovação. Os participantes, tendo ou não sido estimulados, ignoravam completamente esse efeito na dinâmica do grupo.
“Nós imaginávamos, no início, se essas pessoas seriam consideradas babacas arrogantes”, disse DeSteno. “Bem, não – foi exatamente o oposto; eles foram vistos como dominantes, mas ao mesmo tempo agradáveis. Essa não era uma combinação que esperávamos.”
Terapeutas dizem que com o tempo, as pessoas geralmente se saem melhor quando são sinceras. “Sob alguns aspectos, é mais fácil fazer isso agora, com tantas pessoas desempregadas”, disse Michael C. Lazarchick, um conselheiro de empregos do sul de Nova Jersey. “Você pode muito bem descobrir que outros estão passando pelas mesmas coisas, ou algo parecido – ‘Ah sim, acabei de receber um grande corte no pagamento’.”
Porém, no curto prazo, projetar orgulho pode fazer mais do que ajudar a administrar as impressões de terceiros. Psicólogos descobriram que vestir uma expressão feliz ou triste pode surtir um efeito transformador para como uma pessoa se sente: sorria e você pode se sentir momentaneamente feliz. O mesmo provavelmente também vale para uma expressão de orgulho. Em estudo de 2008, os pesquisadores da Northeastern descobriram que induzir sentimentos de orgulho em pessoas resolvendo enigmas espaciais as motivava a tentar com mais afinco no próximo round.
O orgulho, em resumo, gera perseverança. Tudo isso pode explicar por que, quando o cobrador aparece, as pessoas muitas vezes se lembram de que ainda têm o seu, e que ele vale alguma coisa. Porque eles valem, e porque isso vale. Não importando o tanto de orgulho que ocorre antes de uma queda, ele pode ser muito mais útil depois de uma.