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Médica opta pelo Mais Médicos e deixa rede privada

São Paulo – O serviço humanitário sempre foi um desejo da médica Kátia Marquinis, 39 anos, formada há 15. Enquanto estudante da Faculdade de Medicina de Jundiaí, SP, chegou a considerar a participação em missões de organizações internacionais como Médicos Sem Fronteiras e Cruz Vermelha. A realização do sonho foi adiada devido à impossibilidade de dedicação pelo tempo mínimo exigido. Mais tarde, durante a residência médica em oftalmologia no Hospital do Servidor Público do Estado de São Paulo, que a aproximou da clínica médica, voltou a sonhar com o serviço.

Especialista em doenças oculares muitas vezes associadas a outros problemas que afetam o organismo, como é a tuberculose ocular e hanseníase ocular, entre outras, chegou a atender no Hospital das Clínicas de São Paulo. E nos 10 anos em que atuou no Hospital Cema, na bairro paulistano da Mooca, no qual também atendia pacientes pelo SUS, conviveu de perto com as dificuldades enfrentadas pela maioria da população no acesso à saúde.

Para Rogério Giannini, presidente do SinPsi e diretor da CUT, esse tipo de atitude põe em e evidência a necessidade de que as profissões da saúde cumpram função de serem garantidoras de direitos sociais fundamentais e que não é possível achar que podemos escolher uma profissão que cuida diretamente da vida de um ser humano sem incorporar valores societários humanistas.

“Há de se pensar também no caráter regulador que o estado, democraticamente, tem que exercer nas políticas de saúde pois só induzir com programas e financiamento não da resultados a longo prazo. O Brasil precisa optar para uma maior presença do estado na saúde e questionar os planos privados que são um sistema concorrente e predatório dos SUS.” afirma Giannini.

Mais do que reacender seu antigo desejo, o Programa Mais Médicos permitiu a sua realização: “Somos os médicos brasileiros sem fronteiras”, diz, numa referência ao trabalho da organização humanitária internacional. “Tenho agora uma  grande chance de um trabalho dessa natureza sem sair do meu país”, define a médica, que largou seu emprego como especialista para trabalhar em Unidade Básica de Saúde (UBS) do bairro Batistini, periferia de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista.

Confira a seguir os principais trechos da entrevista que ela concedeu à Rede Brasil Atual:

Por que a senhora aderiu ao programa?

O Mais Médicos me despertou a atenção logo no início. Fui ler a respeito, entender direito o que é o Pacto pela Saúde. E percebi que faz mais sentido quando é visto no conjunto. Aí pensei: é nessa que eu vou. Quando eu estava terminando a faculdade, cheguei a procurar informações para ir pra África, de preferência atuar num país em guerra. Não fui porque não poderia ficar pelo tempo mínimo necessário; eu estava para prestar a residência. O plano acabou meio adiado, mas aí veio o programa federal, sem que eu precisasse sair do meu país. Não preciso ir para fora porque faltam médicos aqui. Precisamos dos ‘brasileiros sem fronteiras’. Comecei a pensar: se a gente está precisando de médicos na periferia de cidades ricas não se consegue contratar, imagina nos extremos do país. Como eu já tinha em mim essa vontade de um trabalho humanitário, resolvi aderir.

Teve apoio da família ao largar um emprego de 10 anos?

Saí do hospital para me focar no Mais Médicos. Eu já estava ali havia 10 anos, e queria mudar de vida; já tinha essa coisa em mim. Minha família apoiou. Todos me apoiaram. Quando você faz uma escolha e as pessoas estão vendo que te faz bem, elas apoiam.

Como está sendo o trabalho pelo Mais Médicos?

A UBS aqui, no bairro Batistini, tem uma estrutura muito boa, equipe de saúde da família completa, tem medicamento. Ali se coloca na prática o que o SUS tem de ser. A impressão que tenho é que o SUS vai chegar em sua sua plenitude ali. Tudo muito limpo, padronizado, tem equipe de saúde bucal, funcionários atenciosos com a população, entrosados com a comunidade. Fui muito bem recebida. A gente sente que não é uma consulta só, que a gente vai acompanhar o paciente por um bom tempo.

A senhora está satisfeita?

Tenho participado de curso de formação continuada. Dia desses tive palestra de atualização sobre saúde da mulher. Há previsão de cursos para o ano inteiro. A jornada é de 40 horas semanais e vou receber uma bolsa de R$ 10 mil, que não deixa nada a dever a muitos salários pagos no país. O programa prevê ainda outros benefícios, auxílio refeição, como auxílio moradia, capacitação permanente. Só estou me dedicando ao programa. Deixei tudo para me dedicar a ele.

Por que a senhora escolheu trabalhar na periferia de SBC?

Optei por São Bernardo porque a situação ali é muito semelhante a de outras regiões onde também faltam médicos. Então meu trabalho teria a mesma importância ali como em outro lugar. Daria no mesmo se eu tivesse escolhido Santo André, Diadema. Fico pensando: se no ABC, onde o IDH é altíssimo não tem médico para trabalhar, imagine no resto do país…

Qual a sua avaliação sobre a recepção a seus colegas estrangeiros?

Das manifestações de junho para cá, quando todos foram às ruas pedindo inclusive saúde, acho que todos nós devemos repensar nossas ideias. Todos nós devemos repensar. O estado, nossos governantes e a classe médica. A questão deve ser vista pelo lado humanitário. Se nós estamos precisando de médicos, por que não médicos estrangeiros? Se vai somar, porque não?

Quais as suas perspectivas em relação ao programa?

Acho que esse programa pode ser prorrogado. Fiquei contente de ver o ministro falando esses dias no Congresso que é um programa apartidário, o que me faz pensar que é uma política de Estado. Isso me deixa muito feliz. E fico contente de saber que a gente vai chegar onde precisa chegar, que é aos milhões e milhões de brasileiros que não tinham acesso à saúde, a nada

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