As cinco cidades brasileiras que lideram o ranking da exploração sexual de crianças e adolescentes e mais seis capitais receberão nos próximos dias a campanha “Não é curtição, é exploração sexual contra crianças e adolescentes”, lançada hoje (26) pelo Instituto Promundo. A iniciativa quer combater ideias machistas que naturalizam o sexo com menores de idade.
Segundo a Secretaria de Direitos Humanos, Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Fortaleza e Natal são as capitais em que o problema é mais crítico, e, além delas, a campanha passará por Curitiba, Brasília, Porto Alegre, Belo Horizonte, Manaus e Recife.
“A gente parte de alguns mitos associados à masculinidade, que fazem, por exemplo, com que homens achem que estão ajudando uma criança quando têm relações sexuais pagas com ela. Partimos de uma pesquisa e os resultados mostram como muitos homens percebem o seu papel na sociedade, e como isso reforça a exploração sexual. Muitos não enxergam isso como um crime”, explicou a coordenadora de projetos do Instituto Promundo, Vanessa Fonseca.
A pesquisa, feita em 2012 pelo próprio instituto, questionou qualitativamente os entrevistados em Florianópolis, São Paulo e Itaperuna (RJ) e quantitativamente no Rio de Janeiro e em Natal. A pesquisa qualitativa concluiu que há uma crença de que os homens recorrem com maior frequência à prostituição por terem uma tendência natural de satisfazer seus desejos, apesar de considerarem isso degradante.
Já o levantamento quantitativo revelou que, dos 602 entrevistados no Rio, 77% acham comum o sexo com “prostitutas menores de idade” e consideram que seja algo que todos os homens fazem ao menos uma vez na vida. Em Natal, 83% concordam com a primeira afirmativa, e 69% com a segunda. Nas duas cidades, cerca de 70% dos homens e 80% das mulheres acham que a “escolha é da ‘prostituta'”, no caso, a criança ou a adolescente.
Por outro lado, a pesquisa quantitativa mostrou que 91% dos homens ouvidos no Rio de Janeiro acham que a prostituição de menores deve ser proibida, e 89% concordam que os homens que fazem sexo com crianças ou adolescentes devem ser penalizados. Em Natal, as porcentagens de respostas positivas para as mesmas perguntas foram 79% e 87%.
A campanha foi lançada durante seminário sobre o assunto, promovido pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). Durante o evento, a ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Ideli Salvatti, destacou a importância da rede de combate à exploração sexual de menores funcionar articuladamente durante a Copa do Mundo e afirmou que esse pode ser um dos maiores legados do evento.
“Tem muito questionamento a respeito da Copa. Muitas vezes, as pessoas querem um legado de concreto, ferro e aço, mas um dos legados mais importantes é essa articulação entre as instituições dos governos estaduais, federais e municipais”.
Ideli comemorou o fato de o Estatuto do Estrangeiro proibir a entrada de envolvidos em pedofilia no Brasil, a partir de uma portaria publicada na última semana. Como os dados usados para permitir ou não a entrada de estrangeiros terão como base informações da Interpol e do banco de dados do Disque 100 (que recebe denúncias de abuso contra menores), a ministra acredita que a regra estará em pleno funcionamento durante a Copa. “Não interessa ao país receber esse tipo de turista, ele não é benvindo. Ele não fará bem”, disse.