O presidente da Câmara diz que se preocupa com o que a sociedade pede. Ora, eu também sou sociedade. Eu, milhões de LGBTs, mulheres e pessoas que vislumbram um mundo maior que o de seus seguidores
O cacique-mór dos fundamentalistas religiosos, Eduardo Cunha (PMDB), agora presidente da Câmara dos Deputados, já mostrou a que veio. Ele disse que debater casamento LGBT, aborto e temas como revisão da política de drogas está fora de cogitação.
“Só por cima do meu cadáver” disse em entrevista ao Estado. “Tenho que me preocupar com o que a sociedade está pedindo”. Ora, ora… Eu também sou sociedade… Eu, milhões de LGBTs, mulheres e pessoas progressistas que vislumbram um mundo maior que o dos seguidores do novo presidente da Câmara. “O povo quer respeito!”, hein seu Cunha. Não foi com esse bordão que o senhor conquistou eleitores em seu programa de uma rádio evangélica no Rio de Janeiro?
Segundo pesquisa Ibope, 40% dos brasileiros são a favor do casamento LGBT. Alguém aí pode argumentar que não somos maioria. Mas na democracia, a minoria também tem voz (os evangélicos, por exemplo, são 25% da população e estão muito bem representados no Congresso, de forma legítima). E numa democracia madura e desenvolvida, as minorias têm direitos assegurados.
Só que na conta do seu Cunha, os que estão nestes 40% (LGTBs, mulheres, indígenas, seguidores de religião de matriz africana, e minorias em geral) devem ficar quietinhos no seu canto. A decisão é basicamente ignorar o debate sobre a regulamentação do aborto, de uma política de drogas funcional e de questões urgentes como a criminalização da homofobia.
Mas o maior golpe de Eduardo Cunha ainda está por vir. A hora é de ficar de olho na composição da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, que deve ser decidida logo depois do Carnaval. Há dois anos, a falta de articulação da galera dos 40% abriu caminho para a indicação do pastor homofóbico machista e racista Marco Feliciano (PSC) para a vaga.
Alô deputados Jean Wyllys, Maria do Rosário, Érika Kokay, Luiza Erundina, Paulo Teixeira, Ivan Valente, Jandira Feghali, Chico Alencar! Precisamos firmar posição pelos Direitos Humanos. E não só em Brasília, mas também na rua.
Em São Paulo, vários movimentos já estão se juntando para construirmos a Comissão Extraordinária de Direitos Humanos e Minorias, um grupo de pressão contra a Liga Fundamentalista do Congresso (Feliciano, Cunha, Bolsonaro, Magno Malta e cia ilimitada). A primeira edição, no dia 21, será presidida por nossa diva Laerte Coutinho.
E nesse debate eu faço um apelo e uma provocação ao povo evangélico. É muito óbvio que nem todo crente é homofóbico, machista e racista. Por isso mesmo está na hora daqueles que seguem o Evangelho (Mt 22, 3440) soltarem o verbo e dizer que a Liga Fundamentalista do Congresso não os representa. Se ficarem quietos, serão apenas coniventes com tudo o que está aí.
E essa história de defensor da família e dos bons costumes é apenas uma cortina de fumaça para o novo presidente da Câmara, como já disse o Jean Wyllys. Os negócios dele são muito mais amplos (bancada da bala, interesses econômicos, empreiteiras, etc). Vide a proposta de Reforma Política com financiamento privado do seu Cunha (mas isso é assunto para outro artigo).
E para quem argumentar que este é um texto parcial, eu confirmo que é mesmo. Cunha declarou guerra para os 40% e este é um manifesto para quem é parte deste clube, para compartilhar como artilharia contra o inimigo. Nossa única arma é falar.
Como já disse nosso cronista humorista inteligente Gregório Duvivier, “ateus, maconheiros, vagabundas, pederastas, sapatões e travestis do mundo: uni-vos. Porque o lado de lá tá bem juntinho”.