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A cada 25 horas, uma pessoa LGBT morreu vítima de violência no Brasil em 2016

Levantamento foi realizado pelo Grupo Gay da Bahia (GGB), com base em notícias e informações passadas por grupos e pessoas que conheciam as vítimas

Os corpos de dois professores foram encontrados carbonizados em um porta-malas, em Santa Luz, na Bahia. Um homem de 34 anos morreu degolado e esquartejado, em Porto Velho, Rondônia. A 4.300 km dali, em Belém, capital do Pará, outro homem morreu com 80 facadas atravessadas no corpo. Mesmo Estado em que Brenda foi espancada e jogada do alto de uma passarela, na cidade de Castanha. Mesmo Pará onde um menino de 10 anos morreu violentado e espancado. No Paraná, uma menina trans de 14 anos foi encontrada morta a beira de um lago. Em Porto Alegre, um homem trans morreu com 17 tiros e terminou arrastado pelo carro de seus assassinos.

Essas são apenas algumas das 343 mortes de pessoas LGBT registradas em 2016 no Brasil. Uma morte a cada 25 horas. Um ano em que os registros e a violência bateram recorde, segundo relatório do Grupo Gay da Bahia que, há 37 anos, faz o trabalho de resgatar dados e informações nas cinco regiões do país para revelar até onde vai a homo-lesbo-transfobia – em 2015, haviam sido levantados 318 casos. O último relatório do GGB foi divulgado nesta segunda-feira (23).

Segundo o levantamento, os crimes contra LGBTs atingem todas as cores, idades e classes sociais. Dos dados levantados, 64% das vítimas eram brancas e 36% negras. A mais jovem tinha 10 anos, a mais velha 72. Mortes de pessoas entre 19 a 30 anos foram a maioria – 32% dos casos. Em seguida, menores de 18 anos – 20,6% dos casos. Vítimas já na terceira idade representaram 7,2% dos casos. O GGB aponta que os dados também denunciam a grande vulnerabilidade a que estão expostos adolescentes LGBT no país.

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Quando se fala de vulnerabilidade, as travestis e transexuais seguem sendo a população que mais sofre violência. O relatório do Grupo Gay afirma que, proporcionalmente, uma mulher trans tem 14 vezes mais chance de ser assassinada do que um homem cisgênero gay. Comparado aos números dos Estados Unidos – que registrou no ano passado 21 trans assassinadas contra 144 no Brasil – o risco de brasileiras morrerem por morte violenta é 9 vezes maior. São elas também quem têm mais chance de morrer na rua, por arma de fogo ou espancamentos.

Os gays, por outro lado, são o grupo que registrou maior número de mortes em 2016: 173. Seguido por trans e travestis, com 144. Houve 10 vítimas identificadas como lésbicas, 4 bissexuais e 12 heterossexuais – pessoas em relacionamento com pessoas trans do sexo oposto ou que morreram por defender LGBTs, como foi o caso do ambulante assassinado no metrô de são Paulo, na noite de Natal.

Este ano, além dos homicídios, o grupo decidiu incluir na contagem os suicídios de pessoas LGBT, motivados pelo preconceito e discriminação contra identidade de gênero e/ou orientação sexual.

Sem estatísticas oficiais e sem punição

O relatório também chama a atenção para a falta de estatísticas e dados oficiais relativos a violência contra a população LGBT no país. As próprias polícias não possuem sistema ou protocolo para inserir termos relativos a sexualidade em seus boletins, o que dificulta o levantamento de dados e as investigações. O relatório aponta, por exemplo, que menos de 10% dos casos tiveram processo aberto para investigação e apenas 17% dos homicídios contabilizados tiveram o autor identificado. Ou seja, apenas em 60 casos.

“Tais números alarmantes são a ponta de um iceberg de violência e sangue, pois não havendo estatísticas governamentais sobre crimes de ódio, são sempre subnotificados já que nosso banco de dados se baseia em notícias publicadas na mídia, internet e informações pessoais”, explica o antropólogo Luiz Mott, que coordena o site Quem a Homotransfobia matou hoje?, responsável pelo levantamento de dados do relatório.

O documento do GGB aponta ainda que em pelo menos metade dos casos, as vítimas conheciam seus agressores: 34% morreram pelas mãos de companheiros ou ex-companheiros, 13% foram mortos por familiares. Por outro lado, “clientes, profissionais do sexo e desconhecidos em sexo casual foram responsáveis por 47,5% desses crimes de ódio”, diz o texto.

Com poucos avanços em políticas públicas – a lei de criminalização arquivada – e o reforço da onda reacionária no país, o relatório não parece otimista para 2017. Nos primeiros 22 dias do ano, 23 mortes de pessoas LGBT já foram contabilizadas pelo site responsável pelo relatório.

O informe na íntegra pode ser acessado aqui.

 

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