São Paulo – Estudantes egressos da escola pública são maioria (51,9%) entre os aprovados no vestibular 2016 da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Desse total, 43% são autodeclarados pretos, pardos ou indígenas (PPI). O anúncio foi feito na manhã de hoje (12) pelo reitor José Tadeu Jorge.
Segundo ele, o resultado antecipa em um ano e supera a meta definida em 2013, que previa que em 2017, 50% das matrículas seriam de candidatos vindos do ensino médio público, dos quais 35% autodeclarados pretos, pardos ou indígenas. O percentual de 35% corresponde à proporção de PPIs na população paulista, segundo dados do IBGE. Até então, o maior percentual era de 34%.
De acordo com Tadeu, a maioria prevalece também nas carreiras mais concorridas, como Medicina, Arquitetura e Urbanismo, Midialogia, Ciências Biológicas e Engenharia Civil. Dos cinco, apenas Arquitetura e Urbanismo terá menos de 35% de PPIs, tendo atingido uma taxa de 26,9%.
“O dia de hoje é uma data histórica, um marco para a Unicamp, um marco para as ações de inclusão das universidades públicas”, disse o reitor, descrevendo o resultado como um sucesso do Programa de Ações Afirmativas e Inclusão Social (Paais) da universidade.
Diferentemente do sistema de cotas, o Paais concede bônus em pontos no vestibular de candidatos egressos do ensino médio público ou que se autodeclaram PPIs. Criado em 2004 como alternativa à simples reserva de vagas, segundo o reitor, o programa passou por mudanças no ano passado. Passou a conceder 60 pontos para estudantes do sistema público e mais 20 pontos para estudantes do sistema público autodeclarados PPIs na primeira fase do vestibular. Já na segunda fase, as bonificações passaram a ser de 90 pontos para egressos do ensino médio público e de 30 pontos para egressos de escolas públicas autodeclarados PPIs.
Para o coordenador geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, o resultado é, antes de tudo, uma conquista. “Democratizar o ensino superior significa democratizar o país. Em segundo lugar, as pessoas passaram a se identificar por sua cor e etnia. Há poucos anos, uma geração atrás, muitos brasileiros cediam ao branqueamento, o que é nefasto. Ou seja, em termos sociológicos, outro país está emergindo, certamente melhor, mais justo. Não se trata de otimismo, é a realidade. A maior parte dos alunos das escolas públicas se equivalem à maior parte dos alunos das escolas privadas. Mas agora têm oportunidades”, afirmou.
“Os alunos das escolas públicas estão ocupando as boas universidades públicas tal como os alunos ocuparam as escolas. Os não brancos estão também ocupando o ensino superior público. O Brasil precisa ser o país das ocupações, como estratégia de justiça social”, destacou, referindo-se ao movimento dos secundaristas paulistas.
Entre outubro e o começo de dezembro passado, eles chegaram a ocupar 213 escolas em todo o estado em defesa da escola pública e contra o projeto de reorganização do governo de Geraldo Alckmin (PSDB). A resistência, apesar da repressão policial, levou à queda do então secretário da Educação, Herman Voorwald, e foi legitimada pelo Tribunal de Justiça de São Paulo.
Na sua avaliação, toda política de ação afirmativa é válida. “O acréscimo de pontuação, que é a estratégia do Paais mostrou funcionar. Porém, as cotas demonstram ser melhores em termos de justiça étnico-racial e de renda. Mas isso não desabona a vitória dos estudantes de escola pública e a importância deles terem ingressado na Unicamp.”
No seu entendimento, aumentar a pontuação não ameniza de forma tão contundente quanto as cotas o alto grau de seletividade do vestibular. “Mesmo as cotas não capazes de neutralizá-lo, mas são mais eficazes.”
Ele ressalva, porém, que iniciativas como o Paais – que são melhores do que nenhuma política de ação afirmativa – não podem impedir a implementação das cotas da universidade estadual.