Central apresenta proposta de executiva que será submetida aos 2.400 delegados que participarão do congresso nacional. Segundo o presidente, momento é de enfrentar uma “direita hostil e truculenta”
São Paulo – A 12 dias do início de seu congresso nacional, a CUT antecipou sua chapa única, que será submetida aos 2.435 delegados, para, segundo explica, concentrar esforços na discussão da conjuntura política e na apresentação de uma política econômica “popular”, em contraponto à aplicada atualmente pelo governo. Segundo o presidente da central e candidato à reeleição, Vagner Freitas, a preocupação é preparar o “enfrentamento” contra o conservadorismo e defender a unidade da esquerda. Neste momento, diz o dirigente, os movimentos sociais estão diante de uma “direita hostil e truculenta”.
A apresentação prévia de uma chapa é inédita em congressos da CUT, que costuma fazer essa discussão durante o evento. A nova direção, que será proposta no congresso, passa a ter 44 integrantes, sendo 22 homens e 22 mulheres – a paridade de gênero, implementada este ano, foi decisão do congresso anterior, em 2012. Já foi aprovada nos 27 congressos estaduais, conforme destacou o secretário-geral da entidade, Sérgio Nobre. Entre os novos nomes, figuram na direção executiva as presidentas do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Juvandia Moreira, e do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), Maria Izabel Azevedo Noronha, a Bebel.
Estão sendo criadas três secretarias: Mobilização (para estreitar relações com os movimentos sociais), Cultura e Assuntos Jurídicos (que, ao lado da Secretaria-Geral, coordenará o escritório de Brasília). O atual secretário-geral deve permanecer, assim como a vice-presidenta, Carmen Foro.
O 12º Congresso Nacional da CUT (Concut) será realizado de 13 a 17, em São Paulo. O senador José Mujica, ex-presidente do Uruguai, estará na cerimônia de abertura, enquanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participará de debate no segundo dia.
Nobre lembrou que já houve uma abertura do congresso em março, em Brasília, para discutir a realidade brasileira e procurar alternativas de retomar o crescimento, além da defesa de uma reforma política. “Com esse sistema de representação, a classe trabalhadora não avança em direitos.”
Inimigos
O presidente da Confederação Sindical Internacional (CSI), João Felício, adiantou que na abertura do congresso será feita uma denúncia contra “essa inaceitável tentativa de golpe” em curso no Brasil, que representaria um retrocesso para todo o continente e uma derrota política para a esquerda. Ele destacou a presença de delegados internacionais (232, de 71 países) no Concut. E lembrou que a taxa de sindicalização na central (entre 33% e 34%) supera a média nacional (de 16% a 18%).
Para Felício, que deixará a executiva da CUT (foi presidente e atualmente é secretário adjunto de Relações Internacionais), um desafio é aglutinar, politicamente, uma nova massa de trabalhadores que ascendeu socialmente nos últimos anos. E também enfrentar avanços conservadores, exemplificados por projetos apresentados no Congresso. “Temos inimigos por todos os lados”, afirmou.
O diretor executivo Júlio Turra ressaltou a importância da unidade em um momento político e econômico difícil, desde a virada do ano, com medidas do governo como as medidas provisórias que dificultaram o acesso a benefícios sociais e as nomeações de ministros como Joaquim Levy (Fazenda), Kátia Abreu (Agricultura) e Armando Monteiro (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), e um cenário de governo “extremamente impopular” – não apenas por causa da mídia, acrescentou. “A saída para o Brasil é mais direitos, mais democracia. A CUT teve a maturidade de ser unida nesse combate (ao retrocesso). A unidade se forja quando a gente enfrenta nossos inimigos de peito aberto e não fica discutindo picuinhas entre nós.”
A proposta de executiva a ser apresentada ao congresso tem essa preocupação, lembra Vagner Freitas. “Não vamos mais viver aquela maldição de os principais dirigentes ficarem trancados numa salinha (para definir a chapa). Temos de preparar a classe trabalhadora para o enfrentamento contra a direita. A discussão mais importante não é o cargo. Passamos três anos fazendo política no fio da navalha. A CUT tem autoridade política para defender que não haja retrocesso”, afirmou.
O presidente da central adiantou que a CUT apresentará uma proposta de “política econômica popular para o Brasil, não essa atrasada do Levy”, além de dizer “não” ao que chama de golpe, em nome de 4 mil entidades filiadas e 20 milhões de trabalhadores representados por sindicatos cutistas. A central quer se manter alinhada a outros movimentos em defesa de reformas estruturais, com o Estado como indutor da economia e em defesa da Petrobras. “Não vamos permitir que seja fatiada.”
A CUT também organiza um dia nacional de luta, neste sábado (3), e aproveitará a presença de delegados de todo o país para um ato pela democracia no dia 15, durante o congresso. “Estamos capacitados para o enfrentamento. A CUT nasceu para defender os trabalhadores e derrotar a direita”, diz Freitas.