Coordenadora Nacional da 2ª Mostra e conselheira do Conselho Federal de Psicologia, Monalisa Barros
Durante esses três dias, a 2ª Mostra Nacional de Práticas em Psicologia demonstrou o crescimento expressivo da profissão. Foram mais de 150 atividades que refletiram a diversidade e a maturidade da atividade psicológica nos dias de hoje.
Esse grande encontro da Psicologia vai ficar marcado na memória. Segundo a coordenadora nacional da 2ª Mostra e conselheira do Conselho Federal de Psicologia, Monalisa Barros, a Mostra é a grande oportunidade de fazer o reconhecimento do que a categoria quer para os próximos 50 anos.
“Temos de saber o que fomos e o que somos, para sabermos o que seremos”, foi com essa frase do educador Paulo Freire que ela pontuou os bastidores e seus reflexos futuros do evento, na entrevista que você lê a seguir.
Como foi o processo de construção de um evento tão grande, tão diversificado?
A 2ª Mostra é o resultado de 16 meses de um trabalho intenso que envolveu mais de mil pessoas, incluindo curadoria, grupo de funcionamento com um representante de cada estado brasileiro, comissão de programação, pareceristas, além de funcionários e conselheiros dos Conselhos Federal e Regional, da Federação Nacional dos Psicólogos (Fenapsi) e produção técnica.
A construção da 2ª Mostra vai além da equipe técnica, inclui também participantes e visitantes. Como você enxerga essas presenças?
A Mostra é feita por cada uma das pessoas que aqui está. Ela só tem essa magnitude porque inclui a participação dos atores sociais em cada um dos espaços ocupados, afinal, eles também construíram o evento. Tudo isso faz com que a 2ª Mostra seja esse evento lúdico, cultural, alegre, solidário, colorido, porque tem esse monte de gente envolvida. Isso sem contar nos mais de 4 mil trabalhos inscritos envolvendo 12.500 psicólogas (os) e estudantes. Todo esse cenário reflete a dimensão do que está acontecendo aqui nesses três dias.
A Psicologia está cada vez mais conectada com a sociedade e isso ficou evidente na Mostra. Quais atividades traduziram melhor esse contexto?
Tivemos presenças muito importantes, uma delas é a do movimento social, um parceiro nosso que é a voz da sociedade e que está presente em vários espaços da Mostra, tanto na produção da economia solidária, como na Tenda Paulo Freire e nas mesas redondas. Outra marca forte da interdisciplinaridade da profissão foi a instalação Vladimir Herzog. Depois dela ninguém mais vai ter dúvidas de que a Psicologia deve trabalhar conectada nos direitos humanos. Quem entra naquela sala não tem dúvida que essas duas áreas precisam caminhar juntas para garantir a voz e o direito de ressignificação das pessoas, garantindo a conquista da autonomia e do empoderamento do ser humano.
A Mostra contou com uma série de debates e homenagens. Qual deles foi marcante para você?
Ouvir dona Dijé, quebradeira de coco, foi ter o privilégio de assistir uma aula sobre a vida de uma mulher com 80 anos, antenada, que sabe o que quer. A coisa que ela falou que mais me impressionou foi: “Nós não precisamos ser assessores para nos ajudar, a gente precisa aprender a falar pela gente, precisa entender o valor do nosso produto, entender de comunicação, de internet”. A indígena Valdelice Veron falando da dor dela também me tocou muito. Essas são lições que a Mostra traz para a Psicologia, uma atividade que precisa ser muito maior na compreensão desses sofrimentos para poder efetivar a construção do bem comum.
Qual será o legado deixado pela 2ª Mostra?
A Mostra não termina aqui, ela deixa o registro gravado de todas as falas e mesas. Com esse material podemos produzir uma série de livros sobre todos os processos de trabalho apresentados. Os mais de 4 mil trabalhos inscritos também merecem um tratamento especial: estamos pensando em uma publicação online que sirva de referência para pesquisas. Isso sem contar os impactos da Mostra sobre a história da Psicologia e sobre a vida das pessoas que estão aqui, isso ainda vai reverberar muito. Para se ter ideia, a 1ª Mostra aconteceu há 12 anos e ainda repercute. Sabemos da potência do que temos, mas não sabemos dos efeitos dessa potência no futuro, isso a gente vai precisar viver para ver.