Fundador do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário e um dos principais intelectuais da esquerda brasileira faleceu na tarde desta terça-feira (11)
Jacob Gorender, um dos mais importantes intelectuais da esquerda brasileira, faleceu nesta terça-feira, 11, aos 90 anos. Gorender foi membro do Partido Comunista Brasileiro (PCB) por quase três décadas e fundou o Partido Comunista Revolucionário Brasileiro junto com Mário Alves, Apolônio de Carvalho e outros comunistas.
Em nota, o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra) lamentou a morte do intelectual. “O MST lamenta a perda de Gorender e rende homenagens à sua trajetória de luta e compromisso com as mudanças estruturais no Brasil”, diz a nota. “Gorender lutou contra a ditadura militar, foi preso e torturado. Estudou profundamente a realidade brasileira, buscando compreender o passado colonial, reconstituir a memória da resistência à ditadura e analisar as experiências socialistas no século 20”, destaca o MST.
“Combate nas Trevas, do Jacob Gorender, foi um daqueles livros que me fez entender como a pluralidade de vozes é algo muito mais complexo do que só ter lado. A esquerda perde um dos seus mais importantes intelectuais com o seu falecimento hoje”, publicou Renato Rovai, editor da Revista Fórum, presidente da Altercom (Associação Brasileira de Pequenas Empresas e Empreendedores Individuais de Comunicação) e professor da Faculdade Cásper Líbero, através da sua página no Facebook.
“Acima de tudo, Gorender foi sempre um bravo revolucionário. Dirigente do PCB por décadas, fundou nos anos 60, ao lado de Mário Alves e Apolônio de Carvalho, o PCBR, uma das organizações de combate armado contra o regime militar. Combatente contra o nazifascismo nas fileiras da FEB, desde jovem escreveu seu nome entre os heróis do povo brasileiro”, afirmou na sua página pessoal do facebook Breno Altman, diretor editorial do site Opera Mundi e da revista Samuel.
Jacob Gorender será enterrado amanhã, 12, às 10h, no Cemitério Israelita do Butantã, localizado na Av. Eng. Heitor Antonio Eiras Garcia, 5530, em São Paulo.
Trajetória
Nascido em 20 de janeiro de 1923, filho de imigrantes russos judeus, Gorender teve uma infância difícil, marcada por dificuldades financeiras, o que o obrigou a ingressar no mundo do trabalho aos 11 anos, dando aulas particulares, e depois, aos 17, como arquivista do jornal O Imparcial. Ao ingressar na Faculdade de Direito, em 1941, teve contato com Mário Alves, militante do PCB. Em 1942, Gorender ingressava no partido.
Em 1943, com vinte anos de idade, Gorender alistou-se na FEB (Força Expedicionária Brasileira) e foi combater o nazismo e o fascismo na 2ª Guerra Mundial. Quando retornou ao Brasil, em 1945, o PCB já não estava mais na ilegalidade. Foi quando instalou-se no Rio de Janeiro e conheceu Luís Carlos Prestes. De volta a Salvador, Gorender decide abandonar o curso de direito e foca todos os seus esforços na militância política como membro do secretariado do Comitê Municipal do PCB.
Gorender retorna ao Rio de Janeiro em 1946 para trabalhar no jornal Classe Operária, órgão de fundamental importância para o PCB. Nove anos depois, ele viaja para a União Soviética para participar de um curso da Escola Superior do Partido Soviético. Junto com outros 50 brasileiros, e sob a coordenação de Maurício Grabois, Gorender aprende sobre materialismo diáletico, política e sobre a história do movimento operário.
Após retornar ao Brasil, Gorender se torna membro do Comitê Central do PCB. Em 1964, após o golpe militar, passa a atuar na clandestinidade. Mesmo assim, consegue prosseguir com os estudos com a ajuda de amigos. O intelectual permaneceu no PCB até 1968, quando ao lado de figuras como Mário Alves e Apolônio de Carvalho, dentre outros comunistas, funda o Partido Comunista Revolucionário Brasileiro.
Em 1970, Gorender foi preso e torturado por agentes da ditadura militar. Na sua cela, no Presídio de Tiradentes, começou a organizar debates e aulas sobre assuntos diversos. Chegou inclusive a ministrar um curso sobre história econômica do brasil. O curso apresentava algumas das ideias publicadas posteriormente na obra O Escravismo Colonial, lançada em 1978.
Entre as suas obras, merecem especial destaque o livro Combate nas trevas: a esquerda brasileira: das ilusões perdidas à luta armada, uma análise da luta da esquerda após 1964; e A escravidão reabilidata, uma crítica historiográfica a produção das Ciências Sociais sobre o tema da abolição.
Autodidata, Gorender só teve seu mérito acadêmico reconhecido em 1994, quando recebeu da Universidade Federal da Bahia o título de Doutor Honoris Causa.