No carnaval é comum que as pessoas brinquem em festa. Imagine então, no meio dessa profusão de cores e danças, uma multidão composta por crianças, adolescentes, educadores e representantes de movimentos populares em um único bloco que canta e defende os direitos das crianças e adolescentes? Esse é o objetivo do EURECA, bloco de carnaval que significa Eu Reconheço o Estatuto da Criança e do Adolescente, que nesse ano completou seu sétimo desfile pelas ruas de São Vicente, litoral de São Paulo.
O Conselho Regional de Psicologia de São Paulo, através da subsede da Baixada Santista, participou dessa folia engajada que reuniu cerca de 600 pessoas na orla da praia de São Vicente. Com o enredo Pra lá do fim do mundo, um canto à liberdade, o bloco foi uma experiência na qual diversos atores sociais puderam se encontrar para compartilhar suas ideias de um mundo novo. De acordo com João Carlos Guilhermino da Franca, coordenador geral do Centro Camará de Apoio e Pesquisa à Infância e Adolescência, que integra o coletivo organizador do bloco e trouxe a iniciativa para a cidade em 2005, o enredo faz coro com os profetas que acreditam no fim do mundo, mas no fim desse mundo de exploração.
A psicóloga, professora universitária e coordenadora de projetos no Camará, Lumena Celi Teixeira, membro da Comissão Gestora do CRP SP (subsede Baixada Santista e Vale do Ribeira), fala na pequena entrevista à seguir sobre a participação do CRP e sobre o tema levado para o bloco: Contra a patologização do cotidiano e a medicalização da vida, da educação e da sociedade.
Confira:
Como foi a participação do CRP SP Baixada Santista nesse ano?
O CRP SP adota a prática de apoiar movimentos sociais alinhados à defesa dos direitos humanos. Sendo assim, compreendemos que participar do Eureca significa contribuir para ampliar a consciência da população sobre seus direitos, além de dar visibilidade à temas de interesse coletivo que impactam a saúde mental das pessoas. Neste ano de 2012, através da subsede Baixada Santista e Vale do Ribeira, o Conselho levou o tema Contra a patologização do cotidiano e a medicalização da vida, da educação e da sociedade.
Por que o CRP levou esse tema para a avenida?
Pela relevância desta discussão. Somos apoiadores do Fórum sobre Medicalização da Educação e da Sociedade (Núcleo Baixada Santista), que se trata de uma articulação de entidades, grupos e pessoas para o enfrentamento e a superação do fenômeno da medicalização. Pretende-se mobilizar a sociedade principalmente para a crítica à medicalização da aprendizagem e do comportamento, tendo como pano de fundo o dado social, político e cultural de que diversas questões coletivas têm sido tomadas como individuais e problemas sociais e políticos tornados biológicos.
Foi a primeira vez que o CRP participou?
Não, participamos também em 2009, com o tema da Democratização da Comunicação. Era um momento em que a sociedade brasileira se articulava para produzir a primeira Conferência Nacional sobre o tema.
Qual a importância do Eureca, no seu ponto de vista?
Além de ser uma boa experiência de expressão pública de anseios legítimos da população envolvida, em especial de crianças e adolescentes, trata-se de um exercício efetivo de cidadania pela articulação de grupos diversos em torno de interesses comuns. Vivemos em um momento histórico onde a construção de redes de apoio configura-se uma necessidade premente para a garantia da saúde coletiva e da dignidade humana. Somos, cada um de nós, sujeitos históricos. Articulados em coletivos ganhamos força e podemos promover transformação social, essa é a idéia do Eureca e o CRP compartilha dessa visão.
Origem do Eureca Litoral:
A origem dessa manifestação se deu em 1991 na cidade de São Bernardo do Campo, quando o Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua decidiu ocupar o espaço público para mostrar e dar voz às crianças e adolescentes que vivem e trabalham nas ruas, se constituindo como um dispositivo de mobilização social logo após a ativa luta desse movimento para a consolidação do Estatuto da Criança e do Adolescente. A partir de 2005, em uma parceria do Centro Camará de Apoio e Pesquisa à Infância e Adolescência com o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA) e a rede de proteção social, o Eureca acontece em São Vicente, contando, com o passar dos carnavais com a participação ativa de entidades de outras cidades da região.