Por Norian Segatto
Você já deve ter ouvido de algum amigo/a algo como “ufa, este ano não acaba nunca”! E, de fato, para a história há momentos tão marcantes que parecem durar uma eternidade. Um tempo que “passa voando” e gera a sensação de marcar nossas vidas para sempre. “Ontem mesmo”, em 2013, manifestações por passe livre se tornaram a vitrine de rua do ensaio golpista; ainda dói no lombo lembrar do 7×1, da surpreendente vitória de Dilma Rousseff contra Aécio Neves e, pouco depois, a derrocada que levou ao golpe de 2016.
Foi “logo ali” que vimos a ascensão de um ex-capitão fascista, do crescimento do ódio, da farsa da operação Lava Jato e de quatro anos de um governo que destruiu o país, negou vacina, incentivou a violência e a destruição do meio ambiente. Entre tantos desalentos, ainda enfrentamos uma pandemia, que com a ajuda/descaso do governo Bolsonaro, ceifou 700 mil vidas.
E chegamos em 2022. Para o presidente do SinPs-SP, Rogério Giannini, “talvez tenhamos vivido o ano mais importante e decisivo para a vida social brasileira desde a constituição proclamada em 1988. Depois do golpe de 2016 que gestou as eleições de 2018 como uma espécie pouco comum de fraude, que foi o impedimento de Lula disputar (como favorito) o pleito, amargamos mais quatro anos de retrocessos civilizatórios e sociais que minaram a Constituição”.
Na virada de 2021, o SinPsi estampou em suas redes a palavra “esperançar”, emprestada do pensamento revolucionário de Paulo Freire (também muito atacado nesse governo que se encerra), com o desejo da retomada da democracia. “O ano nos deu certo alívio pelo enfraquecimento da pandemia de Covid-19, em grande medida pela eficácia da vacina, mesmo que com a vacinação sendo atrapalhada pelo negacionismo criminoso difundido na sociedade e pela ineficiência proposital do Ministério da Saúde. A pandemia, insisto, ainda é grave, somente este ano vitimou 73 mil pessoas e neste mês de dezembro mantem média móvel diária acima de 100 óbitos”, observa Giannini, que completa: “Mas a esperança mesmo veio da eleição para presidente, com Lula como candidato. Com um governo protofascista em curso, acenando diuturnamente com golpe e disruptura institucional e abusando do poder e do uso da máquina governamental como nunca antes desde a redemocratização, coube a Lula a articulação de um amplo leque de aliança capaz de derrotar as forças reacionárias antidemocráticas, no que podemos chamar de uma frente política ampla. O resultado sabemos. Uma vitória política do campo democrático numericamente apertada, fato que nos alerta para o tamanho da tarefa que temos todas pela frente. Lula tem acenado que implementará um governo de salvação nacional construído com muito diálogo com a sociedade, recuperando e ampliando espaços institucionais de participação social”.
A experiência política de uma psicóloga
Nessa ampla aliança, a participação dos movimentos sociais foi fundamental para que as bandeiras democráticas não se esvaziassem. Assim, muitas lideranças foram convidadas a se engajar ativamente na eleição. Em nosso sindicato, a diretora de Comunicação, Marcella Milano, participou de uma candidatura coletiva encabeçada pela ex-parlamentar Iara Bernardi. Aqui, Marcella relata um pouco de sua experiência.
Me filiei ao PT em 2016, mas a minha maior atuação sempre foi dentro do sindicato e foi por meio dele que conheci a Márcia Viana, que é secretaria de Mulher da CUT, e por meio dela fui convidada para praticar da candidatura Coletiva. Num primeiro momento fiquei muito em dúvida, era algo totalmente novo para mim, levei a questão para a diretoria do SinPsi e todas me deram grande apoio e compreenderam a importância de aproveitar o momento eleitoral para também mostrar para outros segmentos da sociedade propostas gerais que a categoria defende. Com o aval da direção do SinPsi, me licenciei das atividades sindicais e parti para essa nova experiência.
Senti que essa campanha foi muito diferente da de 2018, quando o antipetismo influenciou muita gente, agora me pareceu que as pessoas estavam mais abertas ao diálogo e que tudo bem vestir vermelho nas ruas, embora ainda tivesse muito ódio, nada se compara aos anos anteriores. E fazer campanha para uma determinada pessoa é muito diferente de pedir voto para si mesma, quando você é a própria candidata que entrega seu panfleto nas mãos das pessoas, existe uma empatia aí”.
Marcella acredita, também, que a forma de mandatos coletivos é uma importante alternativa de participação política, “pois torna o universo de representação mais plural e diverso, muito além de um projeto pessoal”. Para ela, a participação como candidata foi um complemento de sua militância sindical e mais um campo onde pode levar bandeiras importantes da categoria e do sindicalismo. “Não consigo descolar a luta da classe trabalhadora em geral e da nossa categoria, na campanha minhas principais pautas foram a defesa dos direitos humanos, da diversidade sexual e de gênero, da luta antimanicomial e pela implementação da lei 13.935.
Desafios que o ano nos ensinou
Para os/as democratas em geral, o ano de 2022 iniciou sob o peso da pandemia, das perdas, das frustrações diante de um governo genocida e, também, com esperança e certeza de que o futuro é um projeto em construção e disputa. O ano termina com uma histórica vitória das forças democráticas e com enormes desafios pela frente: reconstruir o que foi destruído, entregue, abandonado, ficar atento para que tamanho descalabro nunca mais aconteça, exigir punição pelos crimes do governo e cuidar para que novas gerações conheçam essa história e trabalhem para um mundo melhor.
“Caberá aos movimentos sociais e sindical ocuparem esses espaços e apostarem na intensificação do diálogo com suas bases, num esforço de politização e educação política, pois a derrota eleitoral do fascismo não o erradica da sociedade que o criou. É sem dúvida tarefa do SinPsi e de toda a psicologia que se oriente pela defesa dos Direitos Humanos e das políticas públicas que buscam garantir direitos sociais”, finaliza Rogério Giannini.
Foto de abertura: Ricardo Stuckert