Indícios apontam que os presos comandem a milícia Escritório do Crime, especializada em assassinatos por encomenda. Alvos de operação foram homenageados por Flávio Bolsonaro, em 2003 e 2004
Uma operação policial no Rio de Janeiro realizou na manhã desta terça-feira (22) a prisão de ao menos cinco suspeitos de envolvimento no assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e de Anderson Gomes, que dirigia o carro em que ambos foram emboscados, em março do ano passado. De acordo com o jornal O Globo, os presos são integrantes da milícia mais perigosa e antiga do estado, a chamada Escritório do Crime.
A Justiça expediu 13 mandados de prisão preventiva contra a organização criminosa. Os principais alvos da operação são o major da Polícia Militar Ronald Paulo Alves Pereira, o ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope) Adriano Magalhães da Nóbrega, chefe da milícia de Rio das Pedras; e o subtenente reformado da PM Maurício Silvada Costa, o Maurição.
A ação foi desencadeada pelo Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ), com o apoio da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) e da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) da Polícia Civil.
Apesar do objetivo da ação do MP-RJ seja atacar a milícia que explora o ramo imobiliário ilegal, em Rio das Pedras, com ações violentas e assassinatos, há indícios de que dois dos alvos de prisão comandem o Escritório do Crime, especializado em assassinatos por encomenda. O jornal aponta que os principais clientes do grupo de matadores profissionais são contraventores e políticos.
A Operação Os Intocáveis é resultado de seis meses de investigação conduzida pelo Gaeco e pela 23ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal. A denúncia, com os pedidos de prisão, busca e apreensão, foi distribuída para o 4º Tribunal do Júri da Capital.
Testemunhas apontavam ex-Bope
O Intercept Brasil teve acesso ao inquérito que a Justiça proibiu que a Rede Globo divulgasse. Nele, ao menos seis testemunhas citam um policial, ex-capitão do Bope, como assassino da vereadora e do motorista.
O grupo paramilitar, na qual o policial participa, tem ao menos outros dois ex-caveiras, homens altamente, que desvirtuaram o aprendizado em troca de dinheiro. Um deles é também ex-oficial, parceiro dos tempos de academia, conforme o inquérito da Polícia Civil. Ambos tiveram participação no assassinato de Marielle, de acordo com o inquérito.
Marielle e Anderson foram assassinados em 14 de março de 2018, e após nove meses o crime segue sem que sejam apontados os culpados.
Homenagem de Bolsonaro
Principais alvos da operação, Adriano Magalhães da Nóbrega e Ronald Paulo Alves Pereira, foram homenageados, em 2003 e 2004, na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) por indicação do deputado estadual Flávio Bolsonaro. O parlamentar sempre teve ligação estreita com policiais militares.
Adriano chegou a receber a medalha Tiradentes – a mais alta honraria do Legislativo fluminense. Já Ronald ganhou a moção honrosa quando já era investigado como um dos autores de uma chacina de cinco jovens na antiga boate Via Show, em 2003, na Baixada Fluminense.
O texto da moção de número 2.650/2003 dizia que ele era homenageado “pelos inúmeros serviços prestados à sociedade”. Flávio Bolsonaro justificou o ato: “no decorrer de sua carreira, atuou direta e indiretamente em ações promotoras de segurança e tranquilidade para a sociedade, recebendo vários elogios curriculares consignados em seus assentamentos funcionais. Imbuído de espírito comunitário, o que sempre pautou sua vida profissional, atua no cumprimento do seu dever de policial militar no atendimento ao cidadão. É com sentimento de orgulho e satisfação que presto esta homenagem”.
Já em março de 2004, Ronald Paulo Alves Pereira também recebeu uma homenagem por meio de uma moção honrosa proposta por Flávio Bolsonaro. A moção de número 3.480 foi de louvor e congratulações pelos serviços prestados por Ronald, que na época estava no 22º BPM da Maré, na zona norte.