São Paulo – Um dos maiores eventos em prol da diversidade sexual do mundo, este ano em sua 18ª edição, a Parada do Orgulho LGBTT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais), realizada neste domingo (4), na capital paulista, reuniu um público total estimado em cerca de 4 milhões de pessoas, com o lema: “País vencedor é país sem homolesbotransfobia. Chega de mortes!”
O objetivo, segundo os organizadores, foi ressaltar a urgência da questão e reforçar o pedido por punições mais rígidas a quem praticar crimes de homofobia. “O que querem os gays na avenida que é o maior símbolo do capital? Nós queremos respeito. Queremos dignidade”, disse o sócio-fundador da associação da parada, Nelson Matias, sobre o espírito do evento. “Amar quem eu quero é um direito de foro íntimo. A sociedade tem que respeitar e o governo, garantir”, acrescentou.
Presente na abertura da parada, a ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Ideli Salvati, disse que a comunidade LGBTT deve aproveitar a mobilização demonstrada em eventos como o de domingo para pressionar o Parlamento a aprovar projetos contra o preconceito e contra a violência provocada pela discriminação. “Vocês colocam 2 ou 3 milhões de pessoas na rua. Vocês precisam transformar isso em votos no Congresso Nacional. Porque essa imagem de poder do homem branco, rico e hétero está instalada lá”, ressaltou a ministra.
O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), destacou que, apesar do clima festivo, a parada ainda remete a temas de grande seriedade. “Nós entendemos que isso aqui é uma parada cívica. Para nós, infelizmente, ainda não é uma festa”, disse, ao lembrar “atrocidades” cometidas por pessoas que mantêm o preconceito.
Por sua vez, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), aproveitou para anunciar a instalação definitiva da sede do Museu da Diversidade Sexual, num casarão, ainda a ser desapropriado e reformado, da própria Avenida Paulista, onde ocorreu a parada –a instituição funciona atualmente na Estação República do metrô e recebeu cerca de 35 mil visitantes no ano passado.
O ex-ministro da Saúde e pré-candidato do PT ao governo paulista, Alexandre Padilha, também esteve na Paulista, onde visitou o camarote da Prefeitura e andou em três trios elétricos – o da organização da Parada GLBT, o da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e de uma drag queen. “Essa celebração da diversidade é muito importante para São Paulo”, disse, enquanto acenava aos participantes na rua.
Neste ano, a 18ª Parada do Orgulho LGBTT, tradicionalmente realizada no primeiro domingo após o feriado de Corpus Christi, em junho, foi antecipada para não coincidir com a Copa do Mundo, o que deverá encarecer os preços na rede hoteleira. “Mudamos a data pensando no grande número de participantes que vêm de fora de São Paulo”, explicou o presidente da associação da parada, Fernando Quaresma.
Para a transexual Lara Pertille, a parada é um momento de afirmação para as transexuais e o restante de comunidade LGBTT. “Acho que é um dia de protesto, de visibilidade. Um dia para mostrar que existimos, que pagamos impostos e que somos ‘limpinhos'”, ironizou a jornalista, de 26 anos, que veio de Paulínia, interior paulista
O estudante universitário Anderson Melo, de Mairinque (SP), relatou que veio para se divertir, mas igualmente protestar. “Além de toda a festa, eu faço questão de me integrar à militância”, disse. Ele se preocupa, entretanto, que o apelo festivo possa enfraquecer a mensagem contra o preconceito. “Talvez esse formato tire um pouco da atenção da causa social. Não para o público LGBT, mas para quem vê de fora.”
A festa não é um problema para a consultora financeira Ana Braz. “Eu acho super legal esse tipo de manifestação, é alegre e dá um ar diferente”, disse Ana, que afirmou ser heterossexual. Este ano, 14 trios elétricos desfilaram na Avenida Paulista. A parada foi encerrada com show da cantora Wanessa Camargo, na Praça da República, no chamado Centro Velho da cidade.