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Participantes do programa De Braços Abertos reduzem consumo de drogas em até 70%

São Paulo – Ao anunciar o balanço do primeiro mês do programa De Braços Abertos, que oferece moradia, trabalho e atendimento de saúde para dependentes de crack da região da Luz, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), comemorou a redução do consumo pelos participantes de até 70% verificada pelas equipes de saúde da prefeitura. Desde o dia 14 de janeiro foram cadastradas 386 pessoas na iniciativa, que consumiam de 10 a 15 pedras. Ao todo, foram feitas 3 mil abordagens, 355 atendimentos médicos e 149 pessoas iniciaram tratamento de desintoxicação.

O prefeito disse que não irá mais referir-se à região como cracolândia, forma pejorativa pela qual é conhecida. “Eu chamo de Luz daqui para a frente. Eu confio muito nesse programa. Às vezes quando você fala em sucesso em um empreendimento, o sucesso é 100%. Então se tiver  ali três pessoas ou dez consumindo, vai se ver ainda a operação como não bem-sucedida. Eu sou mais humilde diante do objeto. É um objeto difícil, complexo de resolver. Se nós avançamos 70%, acho que tem espaço para avançar mais”, afirmou.

As equipes do poder público que atualmente permanecem nas imediações da rua Dino Bueno e Helvetia apenas até as 17h passarão a ficar nas ruas até as 22h, a partir da semana que vem. A medida é considerada fundamental para que o programa possa avançar mais, afirmou o prefeito. Desde o início, o fluxo, como é conhecida a aglomeração de usuários e traficantes, teve uma redução significativa, especialmente durante o dia, quando a

concentração não passa de 70 pessoas, contra mil antes do programa. Mas, durante a noite, usuários de outros bairros e até cidades, segundo o prefeito, vão para o bairro e o fluxo chega a até 300 pessoas. “A noite pode contaminar o dia se ela não for cuidada. Essa é minha preocupação”, disse.

A prefeitura também pretende afastar os participantes do programa da chamada cracolândia. A ideia é expandir o perímetro da varrição de ruas, única atividade laboral desenvolvida até agora (com exceção de sete participantes, que trabalham como copeiros em secretarias municipais) e empregá-los em outras atividades. Em até 20 dias, 40 vagas para trabalho de jardinagem devem estar disponíveis. A promessa é que sejam 80 ao todo. As equipes de assistência social vão começar um processo de busca ativa por familiares e amigos dos usuários para que eles restabeleçam vínculos e não fiquem “aprisionados ao quadrilátero”, que compõe o gueto de consumidores de crack.

A prefeitura acredita que 89% dos participantes conseguem manter frequência regular nas frentes de trabalho, cujo dia de trabalho tem rendido remuneração de R$ 15, mas a adesão aos cursos de qualificação permanece baixa. A secretária municipal de Assistência Social, Luciana Temer, atribui isso ao cansaço depois das quatro horas de varrição. Em função do vício, os participantes apresentam debilidades físicas e costumam dormir depois do almoço. 

Expansão

Haddad afirmou que a prefeitura estuda formas de trabalhar na recuperação de usuários de outras regiões da cidade, mas ponderou que o que acontece no bairro da Luz é um fenômeno único. “O que acontecia na Luz era um mercado livre de droga. O traficante que não tinha onde desovar a droga e o usuário que não encontrava o seu fornecedor vinham para a Luz com a certeza de que a oferta e demanda se encontrariam ali. Não é o que acontece nas outras regiões da cidade. O que existe é a concentração de usuários, mas não um mercado”, afirmou.

Haddad enfatizou a parceria com o governo do Estado, especialmente no combate ao tráfico. Apenas na última semana, mais de 2.700 pedras de crack teriam sido apreendidas. Desde 15 de janeiro, foram 4 mil apreensões e 25 presos. “É uma parceria essencial. Guarda Civil e Polícia Militar atuando conjuntamente para combater o trafico e para separar bem as coisas. É um trabalho de cooperação. Não há disputa de espaço com o governo do estado”, disse o prefeito.

Democracia

O presidente do SinPsi, Rogério Giannini, aprova a medida, lembrando que o abandono do usuário de drogas não vai livrá-lo do vício.

“O acolhimento é o que sempre pregamos. Os governantes assinam atestado de irresponsabilidade quando se utilizam de princípios de coerção ao invés de acolher o sujeito, que se encontra certamente em sofrimento. Indo na contramão da internação compulsória, esses resultados positivos aparecem em curto espaço de tempo. Esse é o Estado que profissionais de psicologia militantes querem construir. Acolher e dar oportunidades é exercer a democracia”, afirma.

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