Uma oportunidade para a educação e a cultura serem percebidas como instrumentos indispensáveis ao crescimento pessoal e social. Assim foi o Pé de Poesia, que aconteceu de setembro a dezembro de 2014, no Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) de Itu, em parceria com a Secretaria Municipal de Promoção e Desenvolvimento Social e com o educador, poeta e rapper Renan, do grupo musical Inquérito.
Em nove encontros, o evento, que reuniu música e poesia, teve o propósito de proporcionar aos usuários do CREAS um espaço reflexivo sobre o cotidiano social.
“Discutimos temas pertinentes à realidade dos jovens e adultos que utilizam os serviços do CRES Itu. Violência, desigualdade social, mídia, drogas cultura, preconceito, política, educação, tudo isso foi tema de produção artística. Assim, estimulamos o senso crítico, a autoestima individual e coletiva, a produção e a valorização da cultura”, explicou Vinícius Saldanha, dirigente SinPsi e psicólogo do CREAS Itu.
A discussão foi embasada por textos apresentados em ambiente lúdico e pela troca de vivências entre os participantes. Ao final de cada encontro, os participantes eram estimulados a escrever sobre seus sentimentos e pensamentos a respeito dos temas abordados, com liberdade de expressão singular e liberdade poética.
As produções deram origem a livros confeccionados por eles próprios, cada qual tendo a capa montada e decorada à sua maneira.
“Experiências desse tipo são muito positivas. Primeiramente para os participantes, que passaram a aderir mais ao trabalho ofertado no CREAS. Buscamos valorizar e respeitar a cultura da periferia, em especial o rap, tão marcante entre eles. Houve também o ganho de uma escuta diferenciada, que qualifica o espaço de expressão ilimitada desses jovens, diferente do espaço institucionalizado, fechado, que, como se sabe, não dá conta de contemplar o indivíduo em sua diversidade”, avaliou Saldanha.
O psicólogo conclui que a conscientização sobre os temas abordados pode romper com soluções estereotipadas e transformar a realidade individual e comunitária. Além disso, é importante ressaltar que a atividade mostra seu potencial de intervenção institucional, uma vez que rompe com a lógica unilateral e elitista que prega – a de que a população atendida por serviços públicos deve se colocar passivamente frente ao serviço oferecido.
“O que ocorreu aqui foi uma produção conjunta, de mão dupla, onde os profissionais também aprenderam, ao saber de maneira mais ampla como os jovens veem questões pontuais de seu cotidiano. Foi uma produção grandiosa por passar a mensagem de que é possível e promissor ao jovem produzir cultura, marcando um contraponto ao modo de oferta do sistema capitalista, marcantemente comercial, com segregação dos recursos de produção, imperialista, em busca de jovens que simplesmente a consumam e a assimilem”, disse o dirigente SinPsi.
Por fim, a atividade corroborou com o estímulo à leitura em um contexto de considerável evasão escolar.
“A educação vem passando por um debate crescente no país. Portanto, o evento valeu para pensarmos sobre quais modelos de educação temos vigentes e quais melhor se adequam às necessidades dos nossos jovens e adolescentes”, finalizou Vinícius Saldanha.
