Manifestantes realizam terceiro ato contra tarifa de R$ 4,30 do ônibus e metrô em São Paulo, depois que o governador João Doria proibiu uso de máscaras por manifestantes, regra que não vale para a PM
O Movimento Passe Livre (MPL) realizou nesta terça-feira (22) o terceiro ato contra o aumento das passagens dos ônibus e metrô em São Paulo. A concentração começou pouco depois das 17h, com um pequeno atraso em razão de uma forte chuva na capital paulista. Após as 18h30, o ato saiu em passeata do local de concentração, na Praça da Sé, região central, em direção à Avenida Paulista.
Após a manifestação acessar a Avenida Paulista, pela Avenida Brigadeiro Luis Antônio, a PM fez um bloqueio, impedindo o avanço por cerca de uma hora. Durante o cerco, os militares realizaram manobras com as tropas. Mais a frente, o ato MPL se uniu com um debate sobre a relação das armas de fogo com a violência urbana, que acontecia no vão-livre do Masp, com a presença do líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) Guilherme Boulos.
As passagens subiram, no início do ano, de R$ 4 para R$ 4,30. Os manifestantes consideram o aumento, que ficou acima da inflação, abusivo e cobram respostas do governador João Doria (PSDB) e do prefeito, também tucano, Bruno Covas. Nas duas últimas manifestações, em especial a última, que aconteceu no dia 16, a Polícia Militar agiu de forma violenta, deixando detidos e feridos, entre eles jornalistas.
Após as cenas de violência, o governador ainda decretou a proibição do uso de máscaras por manifestantes, o que o MPL considera inconstitucional. Um fato chamou a atenção: todos os policiais militares que acompanharam as movimentações estavam usando máscaras. Soma-se a isso o fato deles não possuírem mais identificação com nome, apenas um código alfa-numérico extenso.
Para a jornalista Laura Capriglione, dos Jornalistas Livres, que acompanha o ato, a ausência de identificação dos policiais revela o arbítrio e a truculência da instituição. “Não querem proteger os bons policiais, mas os maus policiais que cometem excessos. Em uma situação de abuso, como a vítima vai decorar esse código enorme?! Ninguém sabe ao certo o que pode acontecer, os policiais podem ficar nervosos e agredirem a qualquer momento”, disse.
Para a estudante Luna, do Diretório do Centro Acadêmico (DCE) da Universidade de São Paulo (USP), a ação policial do último ato foi um dos motivadores para seu ativismo. “Estamos aqui, principalmente para denunciar a repressão policial. No último ato teve uma repressão incrível e o Doria está fechando o cerco contra manifestações democráticas e legítimas. O principal é trazer o debate. Quando aumentamos a tarifa, excluímos parte da população mais pobre e todos que precisam andar pela cidade.”
Já Dimitri Sales, do Conselho Estadual de Defesa da Pessoa Humana (Condepe), pede cautela aos manifestantes. “Acompanhamos as manifestações desde o começo. Direito de protestar é direito humano. Vemos desde a eleição de Bolsonaro que a tônica é impedir manifestação. Para isso estão utilizando de muita violência policial. Por isso, o Condepe está aqui para fiscalizar a Polícia Militar e exigir que os governantes atuem em razão do interesse do povo. Acompanhamos prisões na última manifestação e a orientação é tomar cuidado, evitar mochila, é provável que a polícia plante provas.”
A próxima manifestação do MPL contra o aumento das passagens já tem data marcada. Acontecerá na quarta-feira da semana que vem (30), com concentração às 17h, no Largo da Batata, zona Oeste da capital.