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Saúde pública: quem defende não usa?

Pesquisador aponta contradição: minoria isolada, que defende assistência no SUS, opta por planos privados. Melhorar sistema exige sair dessas “bolhas”

Numa entrevista muito boa ao Observatório de Análise Política em Saúde, o professor da USP Mario Scheffer diz que, embora o momento atual seja especialmente positivo para os planos de saúde, a conjuntura política nunca foi ruim para eles e nunca houve de fato uma frente de resistência contra os seus avanços: a mobilização é restrita e ficaram de fora do debate os trabalhadores e sindicatos, inclusive no funcionalismo público, os gestores e conselhos de saúde  e mesmo parte do movimento sanitário.

Ele traz algumas provocações importantes. “É bom tocar em nossas contradições. Muitos de nós, sanitaristas, na hora da assistência médica e hospitalar, pouco usamos o SUS; para nós mesmos e nossos familiares preferimos planos privados. Temos experiências ruins como usuários do privado, temos dificuldade de agendar consultas (pagamos, então, particular) e de pagar as mensalidades, como o resto da população que tem planos. Recentemente, me deparei com o material de propaganda do FioSaúde, o plano privado da Fiocruz, que passou a vender um plano mais barato chamado Total Saúde (o público-alvo devem ser os trabalhadores menos remunerados). Esse material menciona, com depoimentos de colegas pesquisadores, os méritos de ter um plano privado de atenção primária”.

E mais: “Retomemos a pergunta tradicional, que forjou nosso campo: quais são as especificidades de um sistema de saúde em um país capitalista como o Brasil? O SUS não é um fenômeno extra-mercado ou extra-capitalismo. Não é possível seguir nesse ritmo de resistir, falhar ao governar o SUS, resistir de novo. Disputar o hegemonismo em bolhas pode até saciar desejos emocionais, mas quem fracassou e desviou-se no governar dificilmente triunfará sozinho no resistir. Como uma minoria isolada, é o que somos, se transforma em uma voz e em uma demanda unificada pelo SUS?”

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