28ago2024 Por Norian Segatto
Agosto costuma ser um mês de baixas temperaturas em São Paulo. Aquele agosto de 1983, em especial, as temperaturas na capital paulista estavam polares; e em São Bernardo, no ABC Paulista, ao pé da Serra do Mar, ainda mais baixas. A cidade fora escolhida para sediar o congresso de fundação da Central Única dos Trabalhadores, sonho acalentado há anos, gestado e parido nas lutas reivindicatórias do novo sindicalismo que surgia principalmente com os metalúrgicos do ABC e suas greves históricas.
O início da década de 80 representava o ascenso do movimento reivindicatório e o ocaso do regime militar, que aos poucos ia cedendo à pressão popular. Uma série de fatos marcaram o começo da década de redemocratização no país:
1981
Realização da 1ª Conferência Nacional das Classes Trabalhadoras (CONCLAT), de 21 23 de agosto, reuniu 5030 delegados no município de Praia Grande. Foi a primeira grande reunião intersindical realizada no Brasil desde 1964.
1º de outubro de 1981 – Dia Nacional de Luta, organizado pela Comissão Nacional Pró-CUT entregou ao governo militar um manifesto exigindo o fim do desemprego, da carestia, contra a redução de benefícios da previdência social, pela reforma agrária, direito à moradia, liberdade e autonomia sindicais, e por liberdades democráticas. Se você acha essa pauta ainda bastante atual, está correto, apesar das décadas, diversas demandas continuam na pauta das lutas sindicais.
1983 – Greve geral dia 21 de julho. Um dos principais eventos dessa nova sociedade que se organizava e lutava por liberdades democráticas. Diversas categorias paralisaram as atividades, várias manifestações públicas ocorreram país afora; em resposta, o governo militar decretou intervenção em diversos sindicatos. Em São Bernardo, uma multidão lotou o ginásio do sindicato dos metalúrgicos quando foi anunciada a intervenção. A comoção era visível, o golpe atingira forte a organização sindical, mas não foi suficiente para frear o ímpeto de luta; o então presidente do sindicato, Jair Meneguelli, cuja diretoria havia sido cassada pela intervenção militar naquela tarde, chorava em um canto. Foi consolado pelo companheiro Lula, que o abraçava, também com os olhos marejados.
Um mês depois, de 26 a 28 de agosto, mais de cinco mil delegados de todo o país se reuniram no grande galpão dos Estúdios da Vera Cruz para o 1º Congresso Nacional da Classe Trabalhadora, que fundaria a Central Única dos Trabalhadores. Delegações do Acre gastaram mais de uma semana para chegar, entre transporte fluvial (sim, vários precisaram se deslocar em pequenas embarcações até a capital Rio Branco) e uma viagem de 3,5 mil quilômetros de ônibus. Saíram com uma temperatura de 35 graus e chegaram em São Bernardo com o termômetro marcando 5 graus, foram os dias mais frios daquele ano.
Ah!, mas eles ficavam em um hotel com aquecimento! Não, muitos dormiam em colchonetes colocados no chão de cimento do galpão da Vera Cruz. Estudantes, militantes sindicais e moradores se mobilizaram para arrecadar cobertores e blusas para centenas de delegados que congelavam na glacial São Bernardo. As barracas de cachaça eram mais concorridas do que a de livros.
Mesmo todas as dificuldades e pouca estrutura não esmoreceu os ânimos daquela geração que há anos lutava contra a repressão do Estado militar, em cada semblante se via o orgulho de participar de um momento histórico, da fundação da que viria a ser a maior central sindical da América Latina e que, em 41 anos, é a principal responsável pelos avanços nos direitos dos trabalhadores.
Dados de março deste ano demonstram o tamanho da entidade:
3.326 sindicatos filiados
7.468.855 trabalhadores/as sindicalizados
22.487.987 trabalhadores/as representados
A direção do SinPsi, entidade que completou 51 anos neste agosto, e que estava presente com representantes no congresso de fundação da CUT, parabeniza a entidade e, principalmente, a cada trabalhadora e trabalhador que nessas quatro décadas lutaram e ainda lutam para a manutenção e avanço dos direitos dos trabalhadores, pela democracia e por um país com justiça e desenvolvimento econômico e social.