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Com apoio da CUT e movimentos sociais, Erundina para multa imposta pala Justiça

A deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP) agradeceu nesta quarta, dia 6 de janeiro, o apoio espontâneo que recebeu de movimentos sociais e partidos políticos para arrecadar R$ 352 mil e, com esse dinheiro, quitar uma multa imposta pela Justiça em última instância.

Erundina foi condenada recentemente pelo fato de, em 1989, quando era prefeita de São Paulo pelo PT, ter posição em defesa do direito de greve referrindo-se ao movimento liderado pela CUT e pela já extinta CGT, a Greve Geral. Por razões de segurança os onibus da CMTC (Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos) não circularam e a administração soutou informativo explicando o posicionamento da prefeitura etambém uma nota paga em jornal de grande circulação na capital. Um cidadão entrou com ação contra a prefeita alegando que ela teria usado dinheiro público para pagar uma publicação de caráter pessoal.

Ao saber da condenação em última instância, a CUT de pronto decidiu fazer ações para ajudar no levantamento de recursos. Junto com o PT paulista, realizou jantar em novembro com essa finalidade, além de abrir conta corrente para receber depósitos a favor da deputada. Até mesmo parlamentares e líderes de partidos como o PSDB realizaram ações semelhantes.

“Foi uma coisa muito bonita, com um significado político muito grande. É uma questão muito maior que alguém ter quitado uma dívida. Me comoveu muito”, disse hoje, por telefone, Luiza Erundina. Ela destaca que o movimento pluripartidário revela “um sentimento de justiça que as pessoas têm, a capacidade de notarem que a ação da prefeitura naquele momento foi diferente de outros casos. Isso demonstra também que é possível fazer política com ética e transparência”.

Para Erundina, o governo municipal de São Paulo, naquele momento, tinha lado bem definido, e não poderia se calar diante de uma greve geral que protestava contra uma inflação de 80%, do arrocho salarial galopante e de taxas altíssimas de desemprego.

A deputada pretende disputar mais um mandato de deputada federal em 2010, que por enquanto ela considera o último de sua carreira, e acredita que dois grandes desafios para o próximo período são a reforma política, que precisa ser enfrentada “pra valer” e o estabelecimento de uma estrutura tributária progressiva, que distribua renda. Sobre a disputa majoritária em 2010, Erundina lembra que deve aguardar a definição de seu partido, mas adianta: “Não podemos permitir qualquer alternativa que represente retrocesso em relação ao histórico marco político de avanços representado pelos últimos oito anos”.

Em novembro, logo após a CUT ter decidido ajudar no levantamento de recursos, o jornal da Central publicou o seguinte texto:

*20 anos da greve geral de 1989*
No ano de 2009, completam-se 20 anos da Greve Geral contra a política econômica do Plano Verão e pelo congelamento de preços, mobilização que somou 35 milhões de trabalhadores em todo o Brasil. A manifestação contou com amplo apoio da sociedade civil e, inclusive, de alguns governos que atuavam de forma democrática.

A então prefeita de São Paulo, Luiza Erundina, hoje deputada federal pelo PSB, foi uma das defensoras da paralisação e posicionou-se publicamente pelo direito de a classe trabalhadora se expressar com liberdade e autonomia. Por esta razão, a ex-prefeita foi condenada em processo que exige o ressarcimento de R$ 350 mil aos cofres públicos. Sem ter mais como recorrer da absurda decisão, a deputada teve todos os seus bens penhorados, mas seu patrimônio não conseguiu cobrir o conjunto da dívida.

Sendo assim, como principal interlocutora daquela histórica greve, a Central Única dos Trabalhadores abriu uma conta bancária para que seus sindicatos e militantes colaborem com a deputada.

*Como foi a greve*
Desemprego, perdas salariais e o aumento sucessivo dos preços dos produtos de primeira necessidade. Este era o cenário econômico e social do Brasil no final da década de 80. Com a instituição do Plano Verão pelo governo Sarney, as perdas salariais e o panorama caótico se agravaram. As mais diversas categorias resolveram sair às ruas para demonstrar todo o seu descontentamento com a situação. Na pauta de reivindicações, a recuperação imediata das perdas salariais acumuladas nos últimos anos, reajustes salariais mensais de acordo com o índice real de inflação, congelamento real dos preços, combate à recessão e ao desemprego.

Com a mobilização da CUT e dos trabalhadores, o governo e os empresários resolveram marcar uma reunião no dia 10 de março, em que admitiram as perdas salariais. Porém, não houve nenhuma evolução. Ambos deram as costas para os trabalhadores. O governo porque queria salvar o Plano Verão e os empresários porque queriam tirar proveito da situação para descongelar os preços.

A CUT, como central sindical com maior expressão e representatividade, organizou juntamente com a CGT a paralisação nacional e geral das atividades nos dias 14 e 15 de março de 1989, ação esta que mobilizou cerca de 70% da população economicamente ativa e teve o apoio e simpatia da grande maioria da população brasileira. A paralisação expressou de forma inequívoca o repúdio dos trabalhadores e da população à política econômica do governo Sarney.

A paralisação geral colocou a classe trabalhadora como um interlocutor vivo e forte da sociedade na conjuntura da época, com a CUT saindo fortalecida enquanto direção de todo o processo.

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