No dia 18 de dezembro Itapetininga vivenciou a reunião, em praça pública, de usuários, trabalhadores e trabalhadoras dos serviços da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) com a população em geral para juntos participarem do “Ato em Defesa da Saúde Mental Brasileira: nenhum direito a menos”.
O evento, organizado por profissionais dos CAPs locais, ocorreu de maneira contagiante, contando com o projeto “Viaje com os Livros”, que oferece a oportunidade de trocar ou escolher livros sem custo, além de apresentações artísticas, tendo o microfone aberto para manifestações livres.
Em rodas de conversa foi abordada toda a luta contra os manicômios e instituições similares, como as comunidades terapêuticas. Os participantes ouviram relatos da dor de quem teve em sua história a passagem por manicômios, bem como ouviram falas de alegria pelo tratamento em liberdade.
“Estamos aqui para compartilhar com a população de Itapetininga o quanto o interior está atento e mobilizado contra todo retrocesso nos projetos de governo. Estamos cientes de que a nova proposta de Políticas de Saúde Mental é inconcebível frente a décadas de lutas e conquistas. O velho modelo apenas causou dor e sofrimento aos usuários desses serviços”, explicou José Júnior, representante sindical do SinPsi.
Estiveram presentes moradores de três residências terapêuticas, frequentadores do CAPS, profissionais de diversos setores e demais parceiros da luta. Juntos, todos assinaram documento contra os retrocessos promovidos pela proposta da nova política nacional de Saúde Mental.
O Ministério Público de São Paulo esteve representado pelo promotor de justiça José de Paula Barreira, que fez enfática fala contra o golpe na Reforma Psiquiátrica, chamando todos os presentes à reflexão.
“Não há motivos para festejar. As mudanças propostas para a política de Saúde Mental afrontam todo o direito conquistado em anos de luta. Hoje, nos reunimos em Itapetininga para dizer não ao retrocesso”, disse.
Um telão exibiu o documentário “Holocausto Brasileiro”, que mostra pessoas sendo expostas a condições sub-humanas. Muitos moradores de residências terapêuticas e frequentadores do CAPs já passaram por experiências semelhantes.
O psicólogo Marcelo Tchelo, um dos organizadores do evento, falou sobre a dívida que a nação tem com essas pessoas.
“Do manicômio não há boas lembranças. Há dor, ferida e vazio. O vazio de um tempo roubado, que agora, de forma intensa, revivem. Visitam lugares. Alguns com a vaga lembrança que um dia já estiveram ali. Talvez na infância, antes de terem a liberdade roubada. Nossa luta é com eles, a favor da liberdade e contra toda a opressão. A luta não acabou, pois, como já versou o poeta Sérgio Vaz, ‘Não confunda briga com luta. Briga tem hora para acabar e luta é para uma vida inteira’. Continuaremos na luta!”, frisou.
Já o psicólogo Erico Pontes, também à frente da organização, do Núcleo Técnico da Atenção Psicossocial no município, ressaltou a importância de mobilizar a sociedade, em espaços públicos, para reforçar a resistência ao retrocesso.
“Além de lutar contra a destruição da RAPS, a articulação das pessoas vai manter viva a esperança e a possibilidade de união para lutar por outras causas”, afirmou.