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A juventude brasileira, os retrocessos do país e o COVID-19

Atualmente, temos 51 milhões de jovens no Brasil, que representam a maior geração da história do país. Daqui para frente, a curva demográfica brasileira se inverterá e teremos muito em breve um país com mais velhos, consequência da diminuição da taxa de natalidade das famílias.

Contudo, o país vem jogando fora esse potencial presente nas novas gerações, principalmente a partir do golpe da presidenta Dilma, que representou uma agenda de retrocessos sociais com cortes de políticas públicas e fechamento democrático. A maior expressão dessa agenda foi a Emenda Constitucional 95 no governo Temer, que congelou os recursos da educação e saúde por 20 anos. Nada pode ser mais perverso com as novas gerações que paralisar o investimento em educação pública em um momento que o país começava a sanar uma dívida histórica com os filhos dos trabalhadores.

A educação pública no país foi um privilégio dos mais ricos até os anos 80, quando os filhos dos trabalhadores não chegavam nem ao Ensino Médio, quando muito concluíam o Ensino Fundamental. As dificuldades com a qualidade da educação experimentadas hoje, possuem forte relação com um passado colonial e escravocrata que renegou direitos por séculos ao seu povo. Essa equação começou a mudar com a Constituição de 1988 e teve seu ápice nos governos do Lula e  Dilma. Foi nesse período, que os jovens brasileiros puderem ver seus direitos ampliados e e sua cidadania alargada..

Em 2005, o país criou a Secretaria Nacional de Juventude, o Conselho Nacional de Juventude (CONJUVE) e o Projovem, um programa dedicado a elevação profissional e formação para o trabalho de jovens de 18 a 29 anos, que não tinham concluído o ensino fundamental. Em 2010, foi aprovado a Emenda Constitucional 65, que incluiu a expressão jovem na Constituição Brasileira. Em 2013, foi aprovado o Estatuto da Juventude, que foi regulamentado em 2015 e originou o programa Identidade Jovem (ID Jovem). O ID Jovem, direito que precisa ser mais conhecido, assegura meia entrada cultural e esportiva para jovens de baixa renda (até 2 salários mínimos familiares no CAD Único) e dois passes livres e dois meios passes em transporte ferroviário, rodoviário, aquático e aviário, assegurando o direito do jovem conhecer e circular pelo o país. Foram mais de 11 milhões de jovens beneficiados com a meia entrada e 18 milhões com o direito à mobilidade.  

Neste período o desemprego juvenil era metade do atual, as vagas públicas da Universidade dobraram, 240 escolas técnicas federais foram construídas e finalmente os jovens negros, índios, e que vivem em comunidades rurais obtiveram um diploma universitário e começaram a sonhar com uma futura profissão diferente dos seus pais.

O elemento decisivo para essas conquistas foi a participação ativa de jovens de muitos cantos do Brasil, que após muita pressão e luta conquistaram direitos e políticas públicas efetivas. As Conferências Nacionais de Juventude foram expressão máxima das mais variadas demandas e bandeiras dos jovens, realizadas em 2008, 2011 e 2015, apresentaram uma juventude diferente daquela que sempre ocupou os espaços de poder, a universitária, branca e oriunda das classes média e altas. Jovens rurais, quilombolas, das periferias, negros, mulheres, trabalhadores, dialogando sobre suas necessidades e projeto de presente e futuro. Foi a 1ª Conferência que chamou a atenção para um dos maiores problemas do Brasil, o extermínio dos jovens negros.  Um encontro da diversidade para produção de convergências potentes de um encontro do Brasil com sua juventude. 

Contudo, o presente é marcado por incertezas e angústias para as atuais gerações. A agenda de desmonte iniciada por Temer ganhou contornos mais dramáticos com Bolsonaro. Uma agenda de Estado mínimo encabeçada por Paulo Guedes e o mercado, trouxe junto uma prática obscurantista, conservadora, de estímulo ao ódio, de ataque aos direitos humanos e de promoção da morte, como vista nas mais de 100 mil mortes com o COVID-19.

Aliás, os mais atingidos pela pandemia foram os jovens, expostos ao trabalho precário e desprotegido, entregando alimentos nos aplicativos, trabalhando com serviços de e-commerce e telemarketing, em farmácias e supermercados. Outros milhões têm sofrido com a falta de uma educação, seja pela dificuldade dos governos garantirem, seja pela falta de acesso à internet e a dispositivos adequados para o acesso ao ensino remoto. Outro aspecto negativo é a impossibilidade da vivência no espaço público, do encontro nas ruas, praças, restando apenas convivência via internet, mediada pelo uso de plataformas privadas que promovem bolhas de conforto entre os iguais. Assim, perde-se o convívio com o diferente e proliferam se cultuas de ódio e intolerância, facilmente capturadas pelo bolsonarismo.

Em um período de profunda crise, organizado por uma agenda global conservadora produzida por homens brancos e conservadores, de cerceamento das liberdades, da democracia e da possibilidade da felicidade, impõe a necessidade da juventude se organizar para produzir um novo horizonte.

Esta nova geração traz consigo novas ideias, valores, sentimentos; é uma geração mais humana, respeitosa, que acolhe a diversidade e os direitos humanos. São esses os pilares que devem alicerçar um novo projeto de nação, soberana, diversa e mais justa.

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