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Ações na internet denunciam ameaças contra blogueira feminista

Tuítaço e denúncias expõem intolerância contra escritora e professora Lola Aronovich e, sobretudo, contra a libertação das mulheres da opressão machista

Brasília – Mulher, professora, feminista. Há sete anos, Lola Aronovich começou a escrever em um blog opiniões sobre arte, política e, sobretudo, feminismo. Os textos ganharam repercussão por meio do Twitter, mas não resultaram apenas em debates.

Desde 2011, a blogueira tem sido vítima de seguidas ameaças de estupro, tortura e até mesmo morte. As tentativas de intimidação se intensificaram nos últimos meses, levando-a a procurar a polícia pela segunda vez para registrar um boletim de ocorrência.

Desde a sexta-feira (9), internautas usam a rede social para manifestar apoio a Lola e às mulheres vítimas de opressão também no ambiente virtual. Utilizando a frase “Porque não me calo”, um tuitaço repudiou as ações dos que Lola aponta serem masculinistas – pessoas que se declaram defensores de direitos dos homens, muitas vezes contra as mulheres – e reafirmou que as mulheres não aceitam ser coagidas.

“Porque o machismo mata todos os dias #PorqueNãoMeCalo”, “Basta de violência online contra as mulheres” e “porque quase semanalmente mulheres são expostas em vídeos e fotos íntimas por parceiros e são humilhadas e xingadas” foram algumas das frases usadas na rede, quando a campanha se tornou um dos assuntos mais comentados do dia.

As publicações dos masculinistas variam de fotos editadas, muitas vezes humilhantes, coação contra comentaristas, defesa do estupro “corretivo” e até mesmo de assassinato de mulheres – além de negros e homossexuais.

No caso de Lola, junto às ameaças, os autores das ameaças costumam publicar informações pessoais dela, como endereço residencial, foto da casa, CPF, placa do carro, entre outras.

“No começo, eram os trolls [pessoas que interferem em publicações de forma deliberada] normais, que sempre incomodam e são chatos, mas você não leva muito a sério, tanto que nos primeiros quatro anos do meu blog eu não tinha moderação de comentários. Mas chegou a um nível insustentável”, diz a professora. Ela acrescenta que “não se deixa abater, porque eu sei que é o modus operandi deles. É o que eles fazem. Não só aqui no Brasil”.

Em 2012, quando pela primeira vez procurou a polícia, ela denunciou dois homens que acabaram sendo processados e presos. Apesar das ameaças, ela não pretende parar de escrever. “Não é uma opção, porque se não seria dizer que eles ganharam”, afirma Lola, reiterando a reivindicação que circulou no Twitter: “não nos assediem”.

Na avaliação dela, os autores das ameaças se escondem na própria estrutura da internet, que preserva a identidade do internauta. “É muito fácil você intimidar e perseguir usando o anonimato”, avalia, e acrescenta que faltam mecanismos de combate, investigação e resposta rápida em relação a ameaças pessoais no ambiente virtual.

Prevenção

Atualmente, quem se sentir ameaçado pode procurar a polícia – ou registrar a queixa pelo serviço telefônico Disque 100 –, enviar carta para a Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos ou usar a própria rede, acessando a SaferNet Brasil – uma ONG formada por cientistas da computação, professores, pesquisadores e bacharéis em Direito que atua no enfrentamento aos crimes e violações aos direitos humanos na internet. Apenas em 2013, a SaferNet recebeu 8.328 denúncias de crimes de ódio praticados virtualmente.

O crescimento desse tipo de situação levou a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República a criar, em novembro do ano passado, um grupo de trabalho com o objetivo de mapear as ocorrências.

Questionada pela reportagem sobre o caso de Lola Aronovich, a assessoria da SDH respondeu que “não pode divulgar os casos analisados de forma específica, uma vez que aqueles identificados como de fato envolvendo violações à legislação são encaminhados às autoridades competentes para investigação”.

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