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Antonio Lancetti, o homem da compaixão, empatia e visão dos dramas

“O seu trabalho sempre esteve associado ao que houve de mais avançado em iniciativas de saúde mental”, afirmou o ex-presidente, em homenagem ao psicanalista

São Paulo – Morreu na noite desta quarta-feira (14), no hospital Oswaldo Cruz, em São Paulo, o psicanalista Antonio Lancetti, 67, em decorrência de um câncer. Lancetti era militante da luta antimanicomial e defensor dos direitos humanos. O psicanalista atuou na intervenção que transformou Santos, litoral paulista, na primeira cidade brasileira sem manicômios.

O profissional também foi idealizador e consultor do programa De Braços Abertos, criado na atual gestão de Fernando Haddad na prefeitura de São Paulo, para recuperar usuários de crack, por meio de ações integradas entre direitos humanos, saúde e trabalho, sob a ótica de redução de danos e com oferta de trabalho e moradia. Nos últimos meses, ele vinha participando dos atos em defesa do programa, que corre o risco de ser extinto pelo prefeito eleito João Doria. Em setembro deste ano, ele participou de atos no Sindicato dos Psicólogos de São Paulo (SinPsi) e em 29 de novembro, no Tuca, o teatro da PUC-SP.

“Lancetti não acreditava que um psicanalista alienado politicamente ou de direita, tivesse condições de cuidar de alguém. Ele dizia que compaixão, empatia e visão dos dramas é a linha mínima para alguém poder cuidar de uma pessoa, e esses atributos não estavam ao alcance de pessoas do campo da direita ou que não entendessem a política como algo inerente e necessário para a vida das pessoas. Cuidar de pessoas, pensar nos outros, ter humanidade é incompatível com o egoísmo, qualidade marcante às pessoas de direita, conservadoras, elitistas”, escreveu o ex-secretário de Direitos Humanos da Prefeitura de São Paulo na gestão Haddad Rogério Sotilli, em carta de despedida ao psicanalista, divulgada no Facebook. Sotilli também diz que o psicanalista foi “imprescindível” para o seu trabalho à frente da pasta de Direitos Humanos.

O ex-presidente Lula também se manifestou em defesa da memória do psicanalista: “O seu trabalho sempre esteve associado ao que houve de mais avançado em iniciativas de saúde mental. Liderou junto com o saudoso Davi Capistrano a iniciativa revolucionária que acabou com os manicômios em Santos, atuou em políticas nacionais e também em São Paulo para tratamento dos viciados em crack. Dedicou sua vida a compreender e ajudar alguns dos segmentos mais discriminados da nossa sociedade. Um exemplo de generosidade e atuação pela missão pública da saúde não só para a classe médica como para todos os brasileiros”.

“Lamentamos a grande perda desse companheiro, mas ficam a gratidão e o respeito por todo o seu legado em defesa da luta antimanicomial, bem como a admiração pelo seu amor à liberdade e às pessoas. Seguimos, com seu exemplo na luta pela saúde mental”, disse Fernanda Magano, presidenta do SinPsi.

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