Conselho Regional do Serviço Social de São Paulo divulgou nota de repúdio à ação policial e denuncia “violência desmedida” na região por parte da polícia
A Polícia Civil vai investigar o caso envolvendo a detenção de uma orientadora socioeducativa na tarde de terça-feira (20/06), na região da Cracolândia, no centro de São Paulo. O registro da ocorrência foi feito no 77º DP, responsável pela área. Identificada como Estela, a profissional presta serviço para a prefeitura de São Paulo na região, atuando na abordagem de pessoas em situação de rua, usuárias de crack e outras drogas.
A orientadora socioeducativa teria questionado a abordagem de dois policiais, que teriam pedido para revistar a mochila de duas adolescentes dependentes químicas. Segundo outros profissionais que testemunharam a cena, Estela teria interpelado os PMs diante da ausência de uma policial mulher para fazer a abordagem. Uma discussão começou e os policiais deram voz de prisão por desacato.
Testemunhas falam em abuso da polícia na detenção de Estela – que chegou a ter o sutiã exibido em público quando era conduzida à viatura (veja imagem abaixo) – e uma nota de repúdio divulgada pelo CRESS-SP (Conselho Regional do Serviço Social) que denuncia a violência rotineira por parte das forças de segurança.
“As ações repressoras contra a população de rua e profissionais que atuam na abordagem e encaminhamento das/os usuárias/os aos serviços de atendimento na região têm sido frequentes, com violência desmedida, como a ocorrida na quarta-feira passada, quando a polícia lançou bombas de efeito moral em um dos espaços destinados ao atendimento de pessoas em situação de rua”, diz a nota do CRESS.
Uma manifestação dos profissionais que atuam na área aconteceu na tarde da última quarta-feira (21) na Praça Princesa Isabel, novo endereço do ‘fluxo’ da Cracolândia, para prestar solidariedade e marcar a resistência da política de redução de danos, ainda em vigor na região. Tanto é que os profissionais como Estela trabalham na região desde o extinto De Braços Abertos, da gestão anterior.
Ainda de acordo com a nota do CRESS, há um “compromisso ético-político na defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do autoritarismo e no empenho à eliminação de todas as formas de preconceito, incentivando o respeito à diversidade, à participação de grupos socialmente discriminados e à discussão das diferenças”.
Por fim, o conselho ratifica a denúncia de repressão à ação da assistência social e de saúde na região: “também manifestamos nossa solidariedade à orientadora socioeducativa e todo o nosso respeito a todas/os trabalhadoras/es que tem empreendido esforços para lidarem, sobretudo no último mês, com as ações higienistas, truculentas e autoritárias”.
As imagens que colegas de Estela fizeram no momento da prisão foram enviadas à Defensoria Pública.
Procurada, a Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS) afirma que está acompanhando o caso e informa que, antes de definir qualquer posição, uma apuração interna será realizada para verificar quais foram as circunstâncias da ocorrência.
Atualizado às 10h30 desta quinta-feira – A Ponte Jornalismo enviou à PM duas questões:
1. Testemunhas afirma que houve abuso de autoridade, já que os PMs teriam até mesmo levantado a blusa da assistente social no momento de coloca-la no camburão, causando constrangimento público. O que a polícia tem a dizer sobre isso?
2. O entendimento da PM na região não seria amparar o trabalho da assistência social, já que o próprio governador já disse que é necessário um trabalho conjunto no local?
A CDN Comunicação, assessoria contratada pela SSP, enviou a seguinte nota:
A SSP informa que policiais militares abordaram duas mulheres em atitude suspeita na Praça Princesa Isabel. Os agentes relatam que pediram para verificar bolsas e casacos para confirmar se não havia drogas. Não houve revista pessoal e, como não foi encontrado nada de ilícito, elas foram liberadas. Uma mulher tentou impedir a ação dos policiais e passou a insultá-los, dizendo que tinham cometido abuso. Ela foi autuada por desobediência e conduzida ao 77º DP.
É importante esclarecer que qualquer pessoa que tenha reclamações quanto à atuação de policiais pode formalizar queixas à Corregedoria das Polícias para a devida apuração dos fatos.