Mais do que bombons e flores, as mulheres querem mesmo é dividir o poder e as responsabilidades familiares com os homens, numa sociedade em que possam caminhar lado a lado em luta contra a desigualdade.
Em alto e bom som, esse foi o recado que cerca de cinco mil manifestantes deixaram pelas ruas do centro de São Paulo na tarde dessa sexta-feira (8), Dia de Luta das Mulheres.
Da Praça da Sé, a marcha partiu rumo à Praça Ramos de Azevedo. Primeiro, enfrentando o sol e, depois, uma forte chuva que castigou a cidade.
Secretárias da Mulher Trabalhadora da CUT e da CUT-SP, Rosane Silva e Sônia Auxiliadora, respectivamente, destacaram o papel da Central na manifestação e na transformação da realidade brasileira.
“Hoje vamos às ruas denunciar a opressão vivida no cotidiano e a desigualdade. Porque mesmo tendo melhor escolaridade, recebemos menos. Porque as trabalhadoras domésticas são sete milhões no Brasil e ainda não tem os mesmos direitos dos demais trabalhadores. Queremos uma sociedade justa e igualitária, que só será possível se rompermos com a sociedade machista e patriarcal”, afirmou Rosane.
“A missão da CUT é lutar para garantir políticas públicas que avancem no combate à desigualdade”, disse Sônia.
Acabar com a desigualdade: responsabilidade de homens e mulheres
Antes do ato, pela manhã, a Secretaria da Mulher Trabalhadora da CUT-SP promoveu no Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região o seminário “História de Luta por Igualdade na Vida, no Mudo do Trabalho, no Movimento Sindical e a Paridade na CUT.”
Com os dois auditórios lotados, a presidente da entidade, Juvândia Moreira, destacou que, os espaços de poder ainda não refletem a participação das mulheres na sociedade brasileira.
“Apesar de sermos 52% da população, estamos subrepresentadas na política. São apenas 8% de deputadas e 14% de senadoras. Eu mesmo sou a primeira presidenta do sindicato em 87 anos de história”, lembrou.
Para o presidente da CUT-SP, Adi Lima, a missão de mudar esse paradigma é de homens e mulheres e, portanto, o movimento sindical deve dialogar nas duas frentes.
“Se estamos falando em igualdade não podemos conversar só com as trabalhadoras, temos que tratar com os trabalhadores também”, ressaltou.
Solidariedade, amor e camaradagem
No encerramento da primeira mesa, a mestre e doutoranda em Direito Político, Paula Loureiro da Cruz, falou sobre os componentes da desigualdade na vida, no trabalho e na sociedade.
Ela iniciou a intervenção lembrando que o movimento feminista tem focado na alteração da legislação, mas, ponderou que muitas vezes isso pode se tornar uma armadilha ao combater os efeitos e não a causa do problema.
“A licença-maternidade de seis meses, por exemplo, tem um lado ruim porque é maternidade e não parental, não trata da divisão de responsabilidade com o pai sobre o cuidado dos filhos. A mulher fica seis meses fora e quando volta tem que correr atrás do tempo perdido, deixar o filho em creche ou procurar babá. Ou nem volta. Isso reforça o papel da mulher como única responsável pelos cuidados do lar e dos filhos.”
Para Paula, a mulher estar mais presente no mercado de trabalho não garante a isonomia entre gêneros, porque a opressão dentro do lar permanece, com o trabalho doméstico gratuito e a repressão sexual.
O mecanismo para reverter isso, defendeu, é exercer o papel que a CUT e seus sindicatos exercem.
“A CUT e os bancários chegam onde não há direitos.”
Por fim, ela apontou o papel de cada mãe na formação de homens e mulheres que definirão os valores das próximas gerações.
“Se continuarmos repetindo o mesmo comportamento, teremos as mesmas respostas. Ouve teu coração e tua intuição e pensa o que faz bem para você não faz mal ao outro. Vamos desconstruir as regras, vamos repensar nossa postura. É uma luta interna e depende da união de todas as mulheres. Toda luta é feita de bandeiras e é importante carregar bandeiras. Mas, é feita com solidariedade, amor e camaradagem.”
Papel do Estado
Na mesa que tratou do papel do Estado na promoção da igualdade, a secretária de Políticas para as mulheres de Santo André, Silmara Conchão, alertou para o caráter político das manifestações do 8 de março.
“A diferença biológica entre homens e mulheres é natural, a desigualdade social é que não é. Essa ordem precisa ser desorganizada e para isso é bom lembrar que a luta por nossos direitos é apartidária, mas política. Por isso precisamos lembrar de onde veio e para que serve o 8 de março
Secretária de Políticas para as Mulheres da cidade de São Paulo, Denise Motta Dau, falou sobre programas recém-lançados em parceria com as secretarias municipais de transporte, assistência social, habitação, serviços e saúde que beneficiam as mulheres. Ex-dirigente da CUT, ela reforçou também a bandeira histórica das cutistas de defender que a luta seja intersetorial.
“As demandas das mulheres são classistas e não só da secretaria. As políticas precisam estar organizadas e permear todas as ações da Central.”
Paridade não é só número
Um dos eixos dessa luta é a paridade na direção da CUT e suas entidades, aprovada no último congresso e tema da intervenção de Rosane Silva.
“A paridade não é só número, tem que ter política junto, um conjunto de outras medidas. Deve haver formação para que tenhamos à frente mulheres feministas defendendo nossa agenda. E as entidades devem pensar como fazem a política sindical, as assembleias, porque muitas vezes organizam reuniões e não pensam nas mulheres, que não tem com quem deixar os filhos. Isso também deve ser observado.”