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Contra a crise e as demissões

Mais de 30 mil manifestantes marcharam durante três horas pelo centro da capital paulista até o Teatro Municipal, onde foi feito o grande ato de encerramento com as principais lideranças das centrais sindicais e dos movimentos sociais. Desde a concentração pela manhã em frente à Fiesp, na avenida Paulista, passando pelos atos realizados em frente à sede do Banco Central e da Caixa Econômica Federal, o colorido das bandeiras das dezenas de entidades falou mais alto, deixando claro que os trabalhadores não vão pagar pela crise do capital financeiro internacional.

Faixas e cartazes reproduziam as reivindicações, recebendo o apoio da população desde os ônibus, nos prédios e nas calçadas: “não às demissões; redução dos juros; redução da jornada sem redução de salários e direitos; reforma agrária, já; por saúde, educação e moradia; em defesa dos servidores públicos”. Apesar da seriedade das propostas, os manifestantes esbanjavam bom humor. Havia de tudo: a guilhotina do desemprego com o seu carrasco paramentado, o Tio Sam preso numa jaula pedindo esmola, o Tio Sam solto suplicando a operários que paguem pela crise, grupos de estudantes batucando por mais investimentos na educação pública, aviões da Embraer ganhando os céus com a retomada do controle público da empresa, mulheres desfilando com lenços árabes – simbolizando o dia da terra palestina, comemorado na data, contra a política de terrorismo de estado de Israel.

De forma coordenada, CUT, MST, UNE, UBES, Marcha Mundial de Mulheres, entre tantas entidades, fizeram uso da palavra para expressar o compromisso coletivo de lutar pela redução dos juros, pelos investimentos públicos e em defesa dos direitos trabalhistas e sociais. O fortalecimento do mercado interno, da capacidade do Estado, do poder aquisitivo da classe trabalhadora, frisaram, é a melhor vacina contra a crise internacional, cujos impactos ameaçam o país.

“A manifestação foi uma demonstração de maturidade, de unidade das centrais e movimentos populares que estão nas ruas contra as demissões, exigindo medidas dos governos federal, estaduais e municipais para combater o desemprego e a alta rotatividade”, declarou o presidente nacional da CUT, Artur Henrique. Na sua avaliação, a principal ação contra a crise que emana do centro do capitalismo é o investimento público: “precisamos de crescimento econômico, geração de emprego e renda, esta é a saída”. A liberação de recursos para empresas em dificuldades, advertiu, precisa ser criterioso e vinculado a garantia de contrapartidas sociais, priorizando o fortalecimento do mercado interno. Ao condenar a apatia do governo estadual, Artur denunciou que “diante da crise internacional, Serra vendeu a última empresa de energia elétrica, vendeu o último banco público, e continua seguindo o fracassado receituário neoliberal, de entrega e privatização do patrimônio”.

Membro da executiva nacional da CUT e da Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS), Antonio Carlos Spis lembrou que a ação oportunista das multinacionais do setor automotivo e de empresas como a Vale, CSN e Embraer, privatizadas a preço de banana, levaram à demissão de mais de 800 mil trabalhadores nos últimos cinco meses. “Agora essas empresas chantageiam com demissões, arrocho e corte de direitos e ainda querem receber dinheiro do BNDES. Nós defendemos recursos públicos para investimentos sociais, para saúde, educação e saneamento”, declarou Spis, manifestando apoio à luta pela readmissão dos 4.270 demitidos da Embraer.

O secretário geral da CUT-SP, Adi dos Santos Lima, também condenou o governo tucano pela “entrega do patrimônio público à iniciativa privada”, numa concepção de “Estado mínimo que atenta contra o desenvolvimento”. “Neste momento em que o sistema financeiro mundial está se derretendo, com os grandes bancos, latifundiários e empresas preferindo a ciranda financeira do que investir na produção, estamos juntos para lutar contra os juros exorbitantes, que queremos menos juros e mais empregos”, acrescentou Adi.

Rosane Silva, da Secretaria Nacional Sobre a Mulher Trabalhadora da CUT, alertou que em momentos de crise são sempre as mulheres as mais penalizadas com o desemprego, o arrocho salarial e a precarização das condições de trabalho. A sindicalista exortou os participantes a se manterem mobilizados para derrotar as investidas dos neoliberais, que clamam pelo retrocesso, cerrando fileiras para afirmar uma agenda que dialogue com a melhoria das condições de vida da classe.

“Nenhuma demissão. Estabilidade no emprego, já! Exigimos medidas concretas do governo que protejam os empregos. Chega de dinheiro para empresas e banqueiros”, defendeu Júlio Turra, da executiva nacional da CUT.

Discursando no ato em nome da Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS), João Antonio de Moraes, dirigente da Federação Única dos Petroleiros (FUP), lembrou que a categoria saiu de uma greve vitoriosa de cinco dias, que mobilizou o país do Rio Grande do Sul ao Amazonas. “Nossa greve tem tudo a ver com esse ato. Lutamos contra a redução de postos de trabalho na Petrobrás, garantindo o emprego de mais de 200 mil contratados e arrancamos na negociação o compromisso de cessar a política de terceirização e combater a precarização”. Moraes explicou que a direção da Petrobrás se comprometeu a fazer com que a revisão dos contratos firmados com as empresas vão impactar na redução dos preços das matérias-primas e não nos valores da força de trabalho, nem nos empregos. A Petrobrás também vai passar a registrar todos os pequenos acidentes e incidentes com a mão-de-obra, a fim de garantir a melhoria das condições de saúde e segurança no trabalho, e apoiar a realização do Encontro Nacional de Cipistas (membros eleitos das Comissões Internas de Prevenção de Acidentes). Além disso, acrescentou, a empresa não pagava hora extra, e passará a remunerar o 1º de Maio, no que foi interpretado como uma inflexão, que se soma ao pagamento do trabalho nos dias de Natal e Ano Novo. Finalmente, esclareceu, a FUP reverteu a proposta de PLR, que agora será distribuída mais justamente para o peão, em vez de ficar concentrada na gerentada, como havia sido exposta inicialmente.

O presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sintapi/CUT), Epitácio Luiz Epaminondas (Luizão), destacou que a luta contra o fator previdenciário é uma prioridade, já que esse mecanismo de arrocho inventado pelos tucanos diminui os proventos das trabalhadoras em 42% e dos trabalhadores em 38%. Luizão também lembrou que 26 milhões de aposentados e pensionistas necessitam da Previdência Social e que embora 18 milhões tenham o índice de reajuste das aposentadorias vinculado ao aumento do salário mínimo, há oito milhões que estão à margem desta política, mantendo seus proventos extremamente arrochados.

Ao final do ato foi reafirmada a determinação dos manifestantes de seguirem mobilizados unitariamente, ampliando a comunicação com as bases e ampliando a pressão em defesa do salário, do emprego e dos direitos.

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