“Milhares de pessoas estão sofrendo e ainda sofrerão danos sociais e psicológicos irreparáveis por toda a vida”, avalia médica de família
Como todos devem estar acompanhando, nas últimas notícias, sobre a tragédia na última sexta-feira, queria aproveitar esse espaço para pensarmos um pouco sobre a magnitude dos impactos da saúde das vítimas desse devastador crime ambiental
Eu fui voluntária, integrando a Rede de Médicas e Médicos Populares (RNMMP), em uma ação de acolhimento às vítimas em Mariana (MG), em 2015. Lá a gente produziu um vasto relatório [Desastre no Vale do Rio Doce…] sobre os impactos que tragédias como essa podem causar na saúde humana, animal e ambiental.
Em Brumadinho (MG), além da catástrofe ambiental, o mar de lama tóxica, assim como em Mariana, impactou e impactará na saúde de milhares de pessoas. Com efeitos e danos incalculáveis a curto, médio e longo prazo.
O primeiro grande e irreversível dano dessa tragédia se dá com a morte de dezenas e, possivelmente, centenas de vidas humanas e animais que foram soterradas pela lama. Para os sobreviventes, direta e indiretamente pela lama, o cenário é devastador, além das perdas materiais diretas, milhares de pessoas estão sofrendo e ainda sofrerão danos sociais e psicológicos irreparáveis por toda a vida.
Sabemos que as vítimas de tragédias ambientais são acometidas por diversos transtornos mentais como depressão, ansiedade, síndrome do pânico e estresse pós-traumático.
Além disso, existem relatos que identificam aumento da incidência do abuso de uso de drogas e suicídio nessas populações. A gente ainda pode pensar nos impactos da saúde que a contaminação da água, do solo e todo o meio ambiente pode afetar nessas populações, que utilizam esses recursos naturais. Essa tragédia, sem precedentes, causou e seguirá causando danos incalculáveis na vida de milhares de pessoas. Esse crime precisa ser apurado e as vítimas precisam receber a assistência necessária em todas a dimensões de suas vidas, a fim de minimizar esses danos.
Não esqueceremos Mariana e Brumadinho.
Não foram acidentes.
* Ana Melodias é preceptora do Programa de Residência de Medicina de Família e Comunidade na Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro.