Notícias

Decisão de romper com governo é golpe de Cunha contra democracia

“Ele está cansado de saber que a presidenta não tem como controlar nem a Polícia Federal, nem o Janot e o Ministério Público”, afirma o comentarista político Paulo Vannuchi

São Paulo – A decisão do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de romper com o governo como vingança por seu nome ter sido citado ontem (16) em depoimento na Operação Lava Jato, no qual o lobista Julio Camargo o acusou de ter recebido US$ 5 milhões de propina, é um ataque à democracia articulado por Cunha e a mídia conservadora e golpista, avaliou hoje (17) o analista político Paulo Vannuchi, em comentário à Rádio Brasil Atual.

“Cunha reage tentando colocar a culpa no Janot (Rodrigo Janot, procurador-geral da República) e na Dilma, quando ele está cansado de saber que a presidenta não tem como controlar nem a Polícia Federal, nem o Janot e o Ministério Público”, afirmou Vannuchi. “Mas a mídia não cuida de deixar isso claro e passa para os seus telespectadores, ouvintes e leitores a ideia de que agora o governo vai ficar mais fraco com essa ruptura e quem sabe agora conseguem emplacar o Aécio (senador Aécio Neves, do PSDB-MG), corrigindo o erro da população brasileira porque a população não sabe votar”, criticou.

Para Vannuchi, “é a democracia que segue em risco; não vamos aqui fazer o aplauso fácil das operações midiáticas, por mais que as figuras políticas de Eduardo Cunha e de Collor de Melo (que também foi alvo do PF) causem ojeriza, é preciso colocar em primeiro lugar a defesa das instituições republicanas, o respeito à lei, e apostar na democracia, na vontade das urnas como o único caminho para equacionar os problemas brasileiros”.

Ontem, enquanto Cunha era citado na Lava Jato, parlamentares realizaram ato no Congresso Nacional contra a maneira arbitrária com que o presidente da Câmara vem dirigindo o trabalho legislativo. No balanço negativo, os deputados destacaram a reforma política, que mantém o financiamento privado nas eleições, e a redução da maioridade penal. O ato marcou o último dia de trabalho dos deputados no primeiro semestre e agora haverá um recesso de duas semanas.

O ato foi uma resposta a Cunha, que nesta sexta-feira (17), de forma inédita, vai se pronunciar em cadeia nacional de rádio e TV. Para o deputado federal Chico Alencar (Psol-RJ), nunca houve tanto desrespeito na Câmara. “Nunca se votou tanto na Câmara? É possível, mas nunca se votou também tão atropeladamente e os exemplos que cada colega pode detalhar também são inúmeros”. O deputado também disse que “por outro lado, nunca se engavetou também propostas, projetos, CPIs de maneira tão célere e desconsiderando a própria demanda; nunca se desrespeitou tanto também comissão especial e o caso notório é o da reforma política”.

Um dos pontos mais criticados na gestão de Eduardo Cunha foi a forma como ele conduziu as votações, quase sempre trazendo projetos de interesse pessoal e criando as próprias regras, deixando de lado o regimento interno da Casa. Foi assim que Cunha conseguiu aprovar em uma segunda votação o texto que pode constitucionalizar o financiamento privado nas campanhas eleitorais. O texto foi rejeitado na primeira votação. O fato se repetiu com a PEC de redução da maioridade penal. O peemedebista sofreu uma derrota na votação inicial, mas horas depois, e após alguns acordos, aprovou a proposta que reduz a maioridade penal de 18 para 16 anos.

Para o deputado federal Alessandro Molon (PT-RJ), quem sai perdendo com essas manobras é o povo brasileiro. “Quando o time dele estiver perdendo, o jogo nunca termina, faz-se uma votação após a outra, até que se alcance o resultado que ele quer impor à Casa e ao Brasil. É a democracia que corre risco com uma gestão com essa na presidência da Casa.”

Ouça aqui o comentário de Vannuchi para a Rádio Brasil Atual.

Deixe um comentário