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Defesa dos direitos e proteção social é luta mundial dos trabalhadores

Dirigentes do Brasil e Itália debatem estratégias contra os efeitos da crise econômica

A intensidade e os impactos podem ser diferentes, mas, tanto no Brasil quanto na Itália, a crise econômica insiste em repassar seus custos ao bolso dos trabalhadores (as) com redução de direitos e da proteção social.

A conjuntura dos dois países e os embates do movimento sindical nos ramos metalúrgico, químico e financeiro foram debatidos na tarde da segunda (8), no Seminário Internacional O Papel das Organizações Sindicais em São Paulo e Lombardia-Milão.

O evento visa aprofundar as estratégias do movimento sindical para defesa de direitos em meio a crise financeira e é realizado numa parceria entre a CUT São Paulo e Confederação Geral Italiana do Trabalho (CGIL Lombardia e Milão) até terça (9), na sede da Federação dos Metalúrgicos (FEM-CUT/SP), em São Bernardo do Campo. 

Entre outros pontos em comum, Brasil e Itália também passam por uma onda conservadora e seus governos têm aprovado leis contrárias aos interesses dos trabalhadores. Com dados da produção, importação e exportação de multinacionais de São Paulo e da Lombardia, região norte da Itália, os dirigentes puderam comparar avanços e desafios nos acordos coletivos e na ação sindical das centrais.

Precarização mundial

Secretário Geral da Federação dos Trabalhadores Metalúrgicos de Bergamo (FIOM CGIL Bergamo), Eugenio Borella explica que o ramo é o que mais sofre com a instabilidade econômica e, nos últimos seis anos, o governo italiano se restringiu a isenções tributárias para as empresas.

Mesmo com incentivos, diz Borella, a questão envolve a precarização mundial do trabalho e a busca por um diálogo internacional é o meio para conhecer as estratégias das multinacionais em todos os países. “As regras e as condições são diferentes em cada país e é preciso evitar que isso seja um dos fatores para produzir onde custa menos, onde há menos obrigações com os trabalhadores e com o meio ambiente”.

Para proteção do emprego, além de cláusulas em acordos coletivos, a Itália tem um fundo social e um “fundo de ocupação”, financiados pelas empresas e pela sociedade, com recursos que podem, por exemplo, evitar demissões em massa.

“Vocês foram contra as marés de privatização da década de 1990, os italianos, não, e a reestruturação dos bancos, comprados por multinacionais, expulsou 30 mil trabalhadores do setor. Por sorte, o problema foi administrado pelo fundo social, fruto de uma negociação dos sindicatos no final da década de 1980”, relata Luca Natali, secretário da Federação Italiana dos Trabalhadores de Crédito e Seguro (FISAC CGIL).

Segundo Natali, com o grande número de empréstimos que não serão recuperados, e a forte queda na renda familiar, há muita prudência na política de crédito e os bancos italianos se concentraram na venda de serviços, como os seguros, aumentando a pressão por metas sofrida pelos bancários.

Sindicatos na economia

Mario Principe, secretário da Federação Italiana dos Trabalhadores da Indústria Química, Têxtil e de Energia (FILCTEM CGIL Milão), esmiuçou o caso de uma empresa com sede em Milão, onde o acordo entre sindicato e patrões garantiu jornada flexível, fim do cartão de ponto e cinco dias por mês para trabalho em casa – tudo atrelado à produtividade, beneficiando, principalmente, as cerca de 300 mulheres que compõem o quadro de 450 funcionários.

Mas o caso é exceção e não regra nos acordos, ressalva o dirigente, pois o setor químico, teoricamente rico, foi outro bastante afetado na década de 1990, com a venda de vários laboratórios farmacêuticos italianos a multinacionais.

“Há uma necessidade de se examinar o papel do sindicato na economia porque, na Itália, no passado, a intervenção do Estado na economia ficou como algo negativo, mas é preciso uma intervenção pública moderna dentro da economia”, defende.  

Confira também a reportagem da TVT sobre o seminário, clicando aqui.

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