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Diretoria do SinPsi é empossada com falas sobre luta e esperança

“Que estejamos firmes no enfrentamento do temerário e que hoje o nosso discurso seja o da construção do futuro.” Assim a presidenta do SinPsi, Fernanda Magano, deu o tom da cerimônia de posse da diretoria “Um Sindicato para Cuidar”, eleita para o triênio 2016-2019. 

O evento, que ocorreu na última sexta-feira, 28 de outubro, no centro de São Paulo, reuniu entidades da Psicologia e movimentos sociais parceiros, como a Frente Antimanicomial de São Paulo e Economia Solidária, o Ecosol.

Após apresentar, um a um, os membros da comissão eleitoral, os diretores eleitos e os funcionários do sindicato, a mestre de cerimônia Célia Zenaide convocou para a formação da mesa o presidente da CUT/SP, Douglas Izzo; o presidente da Confederação Nacional de Trabalhadores da Seguridade Social (CNTSS), Sandro Alex de Oliveira; a vice-presidenta da Federação Nacional dos Psicólogos (Fenapsi), Shirlene Queiroz; o presidente do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo (CRP), Aristeu Bartelli; o presidente eleito do Conselho Federal de Psicologia (CFP), Rogério Giannini; e a secretária em exercício da Secretaria Municipal de Mulheres de São Paulo, Dulce Xavier.

Abrindo a mesa, o presidente do CRP/SP parabenizou a nova diretoria, colocou o Conselho à disposição e falou sobre o período adverso que o Brasil está vivendo.

“Esse germe conservador, de destruição de direitos, já está aí há algum tempo. Mas conseguimos alguns avanços, como a Lei Maria da Penha, que nos fez questionar algumas coisas que antes pareciam comuns”, afirmou.

“Certamente a Psicologia é um desses últimos espaços de luta, de resistência, de permanência. Me deixa feliz perceber que colegas sustentam a força que também se faz no direito dos trabalhadores e trabalhadoras, de condições dignas, corretas e equânimes de trabalho”, disse Aristeu.

O ex-presidente do SinPsi e presidente eleito do CFP, Rogério Giannini, fez uma fala de despedida emocionada, lembrando de sua atuação no sindicato. 

“Quero deixar um recado a essa gente jovem, que está chegando agora no movimento sindical: essa entidade é estratégica para a Psicologia no Brasil, para o movimento sindical, para diversos movimentos que atuam na defesa da cidadania e dos direitos humanos, bem como para a defesa da democracia”, ressaltou.

Após felicitar a nova diretoria, Giannini disse ser preciso dedicação, coragem e força para o debate. 

“Entendam que a partir de agora vocês são psicólogas sindicalistas. Quem ainda tem dúvida sobre o que seja isso vá aos livros de História, para entender o que foi o suor e sangue de tanta gente para conseguir ter o direito a um sindicato. Vocês são a primeira coluna da defesa dos direitos dos trabalhadores” – finalizou.

Esperança

Substituindo Denise Motta Dau, Dulce Xavier mencionou seu histórico de militante pelos direitos das mulheres.

“Sou militante desde antes da CUT existir. A gente só avançou e conquistou o que conquistou porque os movimentos sociais estavam presentes e articulados”, salientou, lamentando o fim das secretarias municipais de Mulheres, da Igualdade Racial e de Direitos Humanos, anunciado pelo novo prefeito de São Paulo, João Doria Junior. Segundo Dulce, tais secretarias serão integradas à Secretaria da Assistência Social.

“Um retrocesso. Trabalhamos com a igualdade de gênero, o respeito, a busca da igualdade racial. Queremos desconstruir uma cultura que nos coloca em segundo plano. As políticas afirmativas que estavam sendo desenvolvidas nessa cidade foram exemplo para o Brasil inteiro. Foram projetos arrojados que estão sendo riscados das políticas públicas. Mas não tenho dúvidas de que temos condição de reverter esse quadro, e é retomando a luta que sempre soubemos fazer. O movimento sindical sempre foi pioneiro em muitas lutas, então vamos celebrar o momento e celebrar a esperança”, afirmou.

Em seguida, Douglas Izzo, presidente da CUT/SP, destacou a conjuntura atual, de agenda com reforma da previdência, com flexibilização da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), de promoção da terceirzação do trabalho.

“Fernanda está assumindo o cargo em um momento de ataques e retrocessos para a classe trabalhadora, de um governo que não passou pelo crivo do voto popular. Todas essas propostas apresentadas por esse governo não foram acordadas com o povo, pois não foi esse programa que venceu as eleições de 2014”, explicou, colocando a CUT à disposição para a luta e convidando os presentes para o Dia Nacional de Greve, em 11 de novembro. 

“Vamos fazer o nosso papel, o de construção da luta, da defesa intransigente dos trabalhadores. Os golpistas estão dizendo que receberam uma herança maldita. Eles se referem ao jovem negro da periferia ingressando na universidade federal pela política de cotas, ou pelo Prouni ou pelo FIES. Ou seriam a herança maldita as 450 escolas técnicas federais criadas no governo legítimo? Ou ainda o reajuste que tivemos de 72% acima da inflação no último período? Ou o maior projeto de combate à fome, que é referência para ONU?”, provocou Douglas. 

O presidente cutista também citou a proposta de massacre que é a PEC 241, que esvazia recursos para a Saúde, a Educação e para as políticas sociais nos próximos 20 anos.

Sandro Alex, presidente da CNTSS, seguiu a linha da esperança, lembrando que a narrativa de derrota da esquerda brasileira não é real.

“Enquanto estamos aqui, neste ato político de posse deste sindicato, centenas e centenas de brasileiros estão reunidos em diversos lugares deste país, fazendo luta social. O movimento sindical brasileiro deu muito ao povo brasileiro, conseguindo trazer avanços civilizatórios fantásticos. E eu tenho muito orgulho de ser militante da esquerda brasileira e posso dizer: há esperança. A esquerda brasileira está viva, o movimento social brasileiro é pungente!”

Encerrando a mesa, Shirlene Queiroz representou a Fenapsi, que também é presidida por Fernanda Magano.

“Uma vez, eu estava com estudantes, falando sobre reforma psiquiátrica, e eles estavam tão distantes, tão distantes.. então pensei que tem um lado que pulsa quando algo nos é tirado. Psicólogas precisam se dar conta que são trabalhadoras, precisam estar articuladas e unidas na garantia de direitos. Mais que isso: precisamos fazer grande parte da sociedade pensar. Temos um grande espaço de atuação profissional. A Psicologia, ao longo de sua história, passou por todo um processo de compromisso social, de cuidado com a profissão, para que hoje seja reconhecida como profissão que defende a democracia”, frisou.

Segunda mesa

Em seguida foi formada a segunda mesa da cerimônia, com o novo secretário de Administração e Finanças do SinPsi, Vinícius Saldanha; a nova secretária de Políticas Sociais do SinPsi, Cinthia Vilas Boas; e a presidente empossada, Fernanda Magano. As falas foram breves, mas contundentes:

“Essa não é apenas uma cerimônia de posse, mas um encontro para reafirmar nosso compromisso com os movimentos da Psicologia, reafirmar a parceria com o sistema conselhos de Psicologia e com as demais entidades aqui presentes. É preciso dizer que ainda há muito psicólogo e muita psicóloga que não entendem a necessidade da nossa luta estar articulada a toda a classe trabalhadora. Ainda prevalece o discurso de que a Psicologia deve ser neutra. Sim, temos nosso compromisso ético e técnico, mas temos obrigação de nos posicionar em relação às questões mais amplas da sociedade, porque acima de tudo somos trabalhadores. Viva a Psicologia, viva a classe trabalhadora e por último, mas não menos importante, fora, Temer! Fora, fascistas! Fora, golpistas!”, disse Vinícius, dirigente de Sorocaba.

Com uma fala pontual e não menos emocionada, Cinthia Vilas Boas, de Campinas, mencionolu seus dez anos de história e vivência no movimento social. 

“Como mulher negra, psicóloga, trabalhadora do SUAS e agora sindicalista, crio uma expectativa de construção coletiva e crescimento de diálogo. Tenho expectativa de fazer presença em diversas frentes para a valorização da profissional. Fortalecer a luta pela Saúde, pela Educação, pela segurança, pelas diversidades, pelas questões de gênero, pelas questões raciais. Expectativa de participar das mesas de negociações, de luta pela redução da jornada de trabalho para 30 horas semanais. Quero ouvir a psicóloga sindicalista e a psicóloga que não é sindicalista. Vamos fazer acontecer também em Campinas!”, exaltou a novo dirigente sindical.

Encerrando as falas, Fernanda era toda gratidão pelas presenças e mostrava toda a disposição para o enfrentamento:

“O sindicato tem muita história. Já são 43 anos desde a sua formação. Esteve presente quando a CUT ainda estava se formando. Quando ainda era uma associação, participou da construção da lei que regulamentou a Psicologia neste país e tem uma importância histórica, por ter feito um grupo de resistência á ditadura militar”, contou.

Ela lembrou de duas grandes perdas este ano para a Psicologia – Marcus Vinicius, o Matraga, e Fabio Belonni, professor e militante da luta antimanicomial.

“Marcus dizia que a gente tem uma franja vermelha dentro da Psicologia. Pois tenho orgulho de fazer parte dessa franja, de construir essa história. Sendo assim, é uma honra ter a presença do Douglas e do Sandro aqui, que fazem a construção da nossa central e do ramo da seguridade social. Também não posso deixar de agradecer a amizade, o carinho, o afeto e apoio que a Shirlene tem tido no decorrer desses anos, na Fenapsi”, disse.

Fernanda apontou na plateia o ex-dirigente Marcos Collen, militante da luta antimanicomial, irmão de Eduardo Collen Leite, o Bacuri, que foi torturado e morto pela ditadura militar.

“Estou muito feliz por você estar aqui, Collen. Que possamos enfrentar os problemas, pegar a memória do Bacuri e fazer juntos a nossa história, para que PEC nenhuma venha nos derrubar”, ressaltou.

Por fim, uma homenagem ao amigo e companheiro de luta, Rogério Giannini:.

“Vamos sentir muita falta de você, companheiro, nessa luta do movimento sindical, mas sabemos que é muito importante que você esteja à frente do CFP neste momento. Temos muito a trocar e construir juntos. É fora, Temer, mas vamos pautar as nossas lutas e a defesa da trabalhadora e do trabalhador, as políticas de mulheres, de gênero, o movimento LGBTT, as políticas de raça. Sigamos firmes!”, finalizou.

O novo corpo diretor é formado por 12 psicólogas e dois psicólogos, reforçando a importância da representatividade feminina na categoria. São profissionais atuantes nas áreas de saúde, trânsito e sistema prisional, dentre outras.

Veja fotos da posse clicando aqui.

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