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Doria celebra rua vazia na Cracolândia, mas ignora novos fluxos

Nas redes sociais, prefeito comemorou resultado na região, mas seguidores reagiram com fotos de outros pontos de uso de drogas

O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), usou as redes sociais na noite da quarta-feira 3 para comparar as ações de sua gestão a do ex-prefeito Fernando Haddad no tratamento aos usuários de drogas que vivem na chamada Cracolândia.

No Twitter, o prefeito postou duas fotos da esquina da Rua Helvétia com a Alameda Dino Bueno, no centro da capital: uma de dezembro de 2016 – onde se vê uma aglomerado de pessoas, lonas e abrigos – e outra recente, com a rua vazia. No texto, a Prefeitura afirma tratar-se do resultado do “tratamento humano para os dependentes químicos e ação policial firme contra o tráfico de entorpecentes”. Cliquei aqui para ver o post no Twitter.

A postagem da Prefeitura, porém, é um recorte conveniente do que acontece na região. A reportagem de CartaCapital esteve no local há cerca de um mês. Embora na exata esquina o chamado “fluxo” tenha diminuído, ele é visível a poucos metros dali. Trata-se da mesma esquina, com um outro enquadramento. A própria Prefeitura fala em “antiga” Cracolândia.

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A reação à postagem de Doria foi imediata, com diversos seguidores rebatendo o prefeito, inclusive com fotos. O principal argumento dos cidadãos era de que a cracolândia se espalhou. A Praça Princesa Isabel e a região da Estação Julio Prestes, a poucas quadras de onde a foto da Prefeitura foi tirada, abrigam boa parte dos usuários que deixaram a Helvétia.

Em maio de 2017, após a operação da Prefeitura que retirou os usuários de drogas das principais áreas de consumo e venda, Doria já tinha falado em “fim da Cracolândia”. O prefeito emendou ainda que a partir daquela data, o uso de crack naquela região havia se tornado “passado”.

A movimentação, no entanto, não acabou. Com a ação, os usuários foram expulsos da Alameda Dino Bueno e da Rua Helvétia, onde funcionavam as tendas do programa De Braços Abertos, da gestão Haddad, e se direcionaram para a Praça Princesa Isabel, onde permanecem. Há, ainda, forte concentração de usuários nos arredores da Estação Julio Prestes, na Luz.

Discurso cuidadoso

A mesma imagem foi usada pelo prefeito no Facebook, porém com um discurso mais detalhado e cuidadoso. Lá, Doria afirma que “shopping center de drogas ao ar livre que dominava o quadrilátero da Rua Helvetia e Al. Dino Bueno não existe mais”. Doria tem 2,9 milhões de seguidores no Facebook e 770 mil no Twitter.

Mais seguidores, mais reações: embora muitos tenham de apoiado a publicação, diversos seguidores lembraram o prefeito das chamadas “minicracolândias”, como as da Vila Leopoldinha, Conceição, viaduto Paulista-Rebouças, entre outras. Clique aqui para ver o post.

Leia a nota da prefeitura sobre a matéria:

O Programa Redenção tem como um de seus objetivos diagnosticar as demais áreas conhecidas como “Cracolândias” existentes no Município, com enfoque inicial na região da Luz. Respeitando as realidades locais de cada território, propõe ações que possibilitem novos horizontes ao público-alvo através de uma abordagem multidisciplinar e intersecretarial.

O Redenção trouxe mudança visível à região da Luz. A antiga situação de permissividade que tomava conta daquela região, com um “shopping center” de drogas a céu aberto, não existe mais. Não há também a situação de controle do território pelo tráfico, como havia antes. De acordo com pesquisa realizada pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o número de pessoas que circulam pelo fluxo na região da Luz passou de 1.861 (em maio) para 414 (em julho), o que representa redução de 77%.

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