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Em Seminário, Apeoesp e CUT defendem ampliar apoio à imprensa popular e combater oligopólios da comunicação

Desengavetar a regulamentação dos artigos da Constituição que combatem os oligopólios da comunicação e disciplinam a renovação e a concessão das emissoras públicas de rádio e televisão (artigos 220 e 223) e mobilizar as entidades sindicais e populares para que liderem uma ampla campanha de apoio material aos jornais e rádios da mídia alternativa, com compra de assinaturas e espaços publicitários.

Estas foram as principais conclusões do Seminário “A mídia e os Movimentos Sociais”, realizado pela Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) nesta quinta-feira (1/7) no Hotel Braston, na capital paulista. O evento reuniu jornalistas e editores da Revista Fórum, dos jornais Brasil de Fato e Hora do Povo, do Blog do Azenha e da ONG Ação Educativa, que debateram com as lideranças dos professores, diretores de escolas, dos supervisores de ensino sobre a criminalização dos movimentos sociais pela “grande” mídia e a construção de alternativas aos conglomerados da mentira.

Na avaliação da presidenta da Apeoesp, Maria Izabel Azevedo Noronha (Bebel), é fundamental que a reflexão proposta pelo Seminário seja interiorizada por cada uma das lideranças e compartilhada com a base, para por um ponto final na hipocrisia de meios de comunicação. Bebel condenou a prática autoritária dos barões da mídia que desrespeitam a liberdade de expressão, lançando mão de calúnias e desinformações contra as entidades representativas e suas lideranças, na ânsia de manter privilégios. “Vamos incentivar e descentralizar este debate em nossas subsedes, ampliando apoios à mídia alternativa, e trabalhar a proposta do professor Doc Comparato, realizando uma ação junto ao Congresso Nacional para desengavetar os artigos relativos à democratização da comunicação”, enfatizou Bebel.

“Ocorreram inúmeros avanços durante os últimos anos, mas há dois setores em que o governo foi extremamente tímido e que precisam ser enfrentados, pois representam uma ameaça à democracia: o sistema financeiro, dominado por meia dúzia de famílias nacionais e internacionais, e a mídia, igualmente concentrada em poucas mãos”, declarou Vagner Freitas, que representou a CUT Nacional no evento. Na avaliação do dirigente, “para que a comunicação seja efetivamente um direito, é necessário quebrar com o monopólio da desinformação existente, altamente nocivo para a democracia brasileira”.

Citando o trabalho desenvolvido pela Secretaria Nacional de Comunicação da CUT ao longo de todo o ano passado, que desembocou na realização de um Seminário cutista e na própria Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) que envolveu representação dos movimentos sociais, empresários e governos no mês de dezembro, Vagner lembrou que é preciso “perseverar”, pois são inúmeros os obstáculos para tirar as resoluções aprovadas num evento de tal magnitude do papel, a fim de que ele não se torne “um fiasco”.

“Felizmente o Brasil pode contar com pessoas abnegadas como os jornalistas que temos aqui e com o vanguardismo da Apeoesp, que aponta caminhos para enfrentarmos pasquins como o da Barão da Limeira (Folha de S. Paulo) e derrotarmos o tucanato nas próximas eleições”, frisou. Entre os exemplos de instrumento contra-hegemônico estruturados pelo campo democrático-popular, Vagner nominou a Rede Brasil Atual, estrutura que congrega um portal de notícias, rádio e revista, “para fazer o enfrentamento e construir um país melhor”.

O presidente estadual da CUT, Adi dos Santos Lima, fez um paralelo entre as tentativas da mídia de sabotar a luta popular no início da década de 80 e hoje, mostrando o seu coerente alinhamento com os interesses mais retrógrados e anti-democráticos. Como contraposição e avanço concreto, Adi anunciou para o mês de agosto a entrada no ar da 1ª TV do Trabalhador, dos Metalúrgicos do ABC.

Para a jornalista Conceição Leme (Blog do Azenha), a sociedade tem o direito à informação ilegitimamente negada pela chamada grande mídia, que historicamente atua em consonância com as estratégias patronais contra os interesses da grande maioria. Conceição lembrou do início da sua vida profissional e da luta dos metalúrgicos em São Bernardo na década de 80, frisando que “30 anos depois, continuamos com o mesmo buraco: a mídia”. Entre os exemplos de tentativa de coerção informativa, ela citou a greve dos professores, com toda a blindagem realizada em torno do desgoverno Serra. “Precisamos construir coletivamente uma alternativa à midiona, que já era. Temos de arranjar outro caminho”, destacou

Em nome da Ação Educativa, Fernanda Campagnuci também se remeteu à greve do magistério para falar do “sumiço” dos sujeitos históricos, rotineiramente invisibilizados pela reportagem dos jornalões, da rádio e da televisão. “Claro, é preciso distinguir os donos dos meios, os patrões da mídia e os profissionais que nela trabalham. Em 17 Estados, os jornalistas encontram-se inclusive limitados por mecanismos cerceativos da liberdade, como era a lei da mordaça em São Paulo. Nesta última greve, apesar dela estar revogada, houve um memorando da Leste 3 impedindo que diretores falassem com a imprensa”. Fernanda lembrou do abuso na manipulação de palavras para descaracterizar o movimento: paralisação “supostamente” por aumento salarial, “esvaziada”, “greve política”.

Editor da Hora do Povo, Carlos Lopes abriu sua intervenção agradecendo o apoio de longa data da Apeoesp ao jornal, destacando o simbolismo positivo desta parceria, enquanto muitos recursos públicos infelizmente continuam sendo inutilizados em publicações sem qualquer compromisso com a verdade. Carlos Lopes frisou que o objetivo da grande mídia em nosso país “não é dar informação, é passar posição, pois como são panfletos se contentam com discurso ideológico”, ainda que se esmerem em negar – e mascarar – suas posições e posturas. Tais práticas tornaram-se mais evidentes a partir dos anos de neoliberalismo, quando conseguiram emburrecer uma parcela da sociedade, e hoje, quando tentam submeter tudo e todos “ao mercado, na verdade dominado por meia dúzia de monopólios”. “Conosco é diferente. Nosso único capital é a credibilidade. Por isso, enquanto eles caem no descrédito e vêem despencar suas tiragens, seguimos em frente ao lado dos setores populares. Para vencer esta batalha contamos com o apoio dos professores, que irradiam opinião”, acrescentou.

O escritor e editor da Revista Fórum, Renato Rovai, também destacou o apoio da Apeoesp, “desde a nossa primeira edição” e do papel dos professores em levar mais longe a batalha de idéias. Após fazer um breve relato sobre a história da imprensa brasileira, que se formou desde o império como tribuna de educação e formação para a luta política, assumindo bandeiras, o escritor demonstrou como na atualidade a grande mídia faz de tudo para camuflar suas opções. Hoje, avaliou, a imprensa se coloca cada vez mais como partido, tentando dar consistência à oposição de direita. Rovai citou alguns números de pesquisa recente realizada pela Secretaria de Comunicação do governo federal para que todos refletissem: 96,6% dos brasileiros dizem ver televisão – sendo que destes 30,3% têm acesso por antena parabólica; 80,3% ouvem rádio, destes 17,6% por celulares; e 46,1% dos brasileiros maiores de 16 anos costumam acessar a internet, metade deles todos os dias. “São dados que apontam que precisamos dar maior atenção às novas mídias”, sublinhou.

Segundo Alípio Freire, do Brasil de Fato, o encontro foi altamente positivo pois não foi de lamúrias em relação à mídia venal, mas de proposições sobre como melhor enfrentá-la. “Um dos pontos centrais é o controle social das verbas e concessões”. De acordo com Alípio, a grande mídia comercial é uma das instituições mais desmoralizadas do país, pois é vista cada vez mais como “responsável pela reprodução ampliada da ideologia dominante. “Seu papel é pautar a conversação da sociedade. A imprensa seleciona os nichos e pauta o que devemos debater e sob que ângulo. Assim, estimula o debate sobre a preservação do espermatozóide do pitbull, enquanto fecha espaço aos grandes temas”. A respeito do “pântano de palavras”, Alípio Freire foi didático: “o MST invade as terras, os EUA ocupam Bagdá; os donos de terra pedem justiça, os iraquianos se rebelam em oposição à democratização do país. É desta forma que a mídia comercial disputa a hegemonia”.

O presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Roberto Franklin de Leão, lembrou como a mídia (anti) brasileira como a Folha de S. Paulo contribuiu com seus veículos (automóveis, no caso) para ações da famigerada Oban (Operação Bandeirantes) contra os que considerava inimigos do Estado. “A Folha hoje é a publicação mais cínica, desavergonhada e sem vergonha. Foi muito importante esta definição da necessidade de articular nossas mídias, pois atualmente a tal liberdade de imprensa é a do dono do jornal dizer o que ele quer”, asseverou.

Entre outros, prestigiaram o debate representantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), do Centro do Professorado Paulista (CPP), do Sindicato dos Supervisores de Ensino (Apase) e do Sindicato dos Diretores de Escolas do Estado de São Paulo (Udemo).

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