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Filme com João Miguel e Jean-Claude Bernardet faz alegoria sobre solidão

‘Periscópio’, de Kiko Goifman, será lançado amanhã (27) junto à exposição ‘Máquinas do Olhar’. Filme e mostra ficam em cartaz no CineSesc, em São Paulo

Dois homens vivem sozinhos em um apartamento. Élvio, interpretado por João Miguel, é uma espécie de secretário, enfermeiro e cuidador de Eric, vivido pelo crítico e diretor Jean-Claude Bernadet. O clima entre os dois é pesadíssimo, cheio de provocações, ironias e ofensas. O mundo lá fora parece nem existir tanta é a solidão e a dependência que eles têm entre si. Este é o enredo de Periscópio, filme de Kiko Goifman, que estreia nesta quinta-feira (27) no CineSesc.

Filmado integralmente em um apartamento na cidade de São Paulo, o longa-metragem é uma ficção bem non-sense com atuações impecáveis tanto de João Miguel quanto do francês naturalizado brasileiro Jean-Claude. A relação dos dois homens não fica totalmente clara e suas histórias anteriores não interessam. O que o espectador vai sentir desde os primeiros momentos é a tensão entre eles, um desgaste emocional que, ao que tudo indica, não tem mais jeito. Ambos parecem esperar a morte, a única solução plausível para o conflito.

O ponto de virada no filme e na vida de Élvio e Eric acontece quando brota do chão do apartamento um estranho objeto de ferro e luz. Não se sabe como aquele periscópio foi parar ali, mas fica evidente que sua presença muda radicalmente a rotina e a relação dos dois homens. Em um primeiro momento, o susto; depois, o desfrute, afinal alguém no mundo se interessa por aquelas vidas miseráveis e desinteressantes.

Além de babar uma gosma transparente, o olho mecânico vê tudo o que eles fazem e tem uma cabra em seu interior. Para Eric, o objeto é feminino por isso a chama de “coisa”; para Élvio, é “o troço”, no masculino. Não interessa o gênero, o que importa é que os homens agora têm companhia e fazem de tudo para mostrar que suas vidas não são ordinárias: fazem banquetes em que comem como porcos, se maqueiam, dançam juntos (ao som de DJ Dolores) e interagem com a cabra e o peixe Jack. Enfim, preenchem os vazios de suas vidas.

O problema é que quem está calejado e machucado por tanta solidão e descaso não suporta a possibilidade de perder novamente a atenção alheia. A cabra que estava dentro do periscópio já sumiu; o que fazer se a coisa, assim como apareceu, for embora inesperadamente? “Você pensa? Você julga? Você me julga? Quem é o mais estúpido entre nós dois: você ou eu? Eu ouço o teu silêncio. Agora você vai ouvir o meu silêncio”, provoca Eric com seu charmoso sotaque.

Periscópio não é um filme para entender e sim para sentir, sonhar. Com roteiro de Goifman e Jean-Claude, o longa-metragem é um tratado subjetivo sobre a solidão contemporânea em tempos de reality shows e muita exposição nas redes sociais. É como se o filme gritasse: “É preciso mostrar-se interessante para pessoas que têm vidas tão ordinárias quanto a nossa”.

Além da solidão, o filme de Kiko Goifman também aborda a relação entre patrão e empregado em que os papéis afetivos acabam se confundindo e abrindo espaço para sentimentos de exploração, dominação e dependência.

O longa-metragem estreia no mesmo dia em que será aberta a exposição Máquinas do Olhar no saguão do CineSesc. Inspirada no filme, a mostra apresenta este universo que revela o interesse que temos em dispositivos para conceber e fabricar imagens, que nos permitem ver além dos limites do olho e da mente.

Periscópio
Direção: Kiko Goifman
Roteiro: Kiko Goifman e Jean-Claude Bernardet
Empresa produtora: PaleoTV
Produção: Jurandir Müller
Produção executiva: Evelyn Margareth Barros
Fotografia: Julia Zakia
Montagem: Vânia Debs e Olívia Brenga
Elenco: João Miguel e Jean-Claude Bernardet
Duração: 82 minutos
Ano: 2013
País: Brasil
Cartaz: Laerte Coutinho

Exposição Máquinas do Olhar
Abertura: 27 de agosto, às 19h
Onde: CineSesc (Rua Augusta, 2.075, São Paulo)

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