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Fora, Brasil! Plebiscito informal alimenta, do Paraná ao Rio Grande do Sul, o sonho do separatismo

No sábado, 1º de outubro, às vésperas das eleições municipais, um contingente superior a 600 mil pessoas, segundo números fornecidos pelos dirigentes do movimento separatista “O Sul é meu país”, saiu às ruas em mais de 500 cidades da região para opinar em uma consulta organizada pela confraria. 

O objetivo era saber se a população regional é favorável ou contrária à separação dos três Estados – Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul – do resto do País. De acordo com o presidente da comissão organizadora do evento, Celso Deucher, historiador, filósofo e principal ideólogo do movimento, o resultado apontou que 95,74% dos votantes querem a secessão. Uma quase unanimidade. 

O referendo não teve nenhum valor legal. Para Deucher, serviu como demonstração de força a uma ideia que cresce a cada dia. “Em setembro de 2017, queremos colocar 2 milhões de pessoas nas ruas.”

O projeto inicial era realizá-lo no dia das eleições, 2 de outubro, e previa a instalação de urnas a 100 metros de todos os locais onde houvesse votação para prefeito e vereador. Uma decisão do Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina desautorizou as duas medidas, assim como a utilização do termo plebiscito.

“Fomos obrigados a antecipar para o sábado e alteramos o nome para plebisul”, afirma o dirigente. Ainda segundo ele, a medida fez com que o referendo deixasse de ser realizado em outros 186 munícipios sulistas. 

O movimento, com cerca de 25 mil simpatizantes ativos, nasceu em 1992 na cidade de Laguna, Santa Catarina, inspirado pelo descontentamento com a situação de “colônia que vivemos no Sul do Brasil” e, principalmente, porque o governo federal “recolhe riquezas e devolve pobrezas”.

Segundo Deucher, dados contidos no Portal da Transparência mostram que, entre 2011 e 2014, o Sul arrecadou para os cofres da União perto de 501 bilhões de reais e obteve um retorno da ordem de 119 bilhões. “Brasília abocanhou de todo nosso esforço produtivo mais de 380 bilhões de reais.” 

A verdade é que o movimento não possui um modelo de concepção claro, objetivo, daquilo que pretende como uma nova nação. Não há qualquer definição de poderes constituídos, seja para o Executivo, seja para o Judiciário ou o Legislativo.

Todas as questões são genéricas, confusas e sem qualquer tipo de especificidade. Aliás, surpreende que mais de 600 mil pessoas se arrisquem a apoiar um projeto que não sabe aonde pretende chegar.

Desta mixórdia, a única certeza dos dirigentes é que haveria uma reformulação territorial no continente verde-amarelo e a crença de que o Sul seria contemplado com uma espécie de oásis de ética e prosperidade. 

No aspecto político-ideológico, Deucher faz questão de afirmar que o movimento não discute esses temas e opina apenas em caráter pessoal. Mas arrisca a dizer que “nós” queremos um modelo parlamentarista e um sistema administrativo que chamou de “confederação municipalista”, em que  as relações de governo se dariam entre a União e o município.

“Nosso modelo não prevê espaço para essa classe intermediária composta de governadores e deputados estaduais. São entes que gastam em demasia sem nenhuma utilidade. Precisamos de um sistema em que 80% das competências sejam de responsabilidade do município, e o resto da União”, frisou sem especificar como isso seria na prática. 

Não haveria Câmara de Vereadores aos moldes atuais, onde os representantes do povo são eleitos pelo voto direto e secreto. “Isso não funciona. Cada um dos eleitos defende os seus interesses ou de grupos.”

Deucher imagina um Legislativo Municipal sem um número definido de participantes, repleto de pessoas escolhidas pelas comunidades que representam, sem salário ou qualquer tipo de benefício para exercer a função. Uma espécie de Ágora da antiga Atenas.

Reconhece que o movimento é acusado de racista, xenófobo e nazista, mas atribui todo esse estigma à Rede Globo, que, desde os anos 1990, “pela falta de argumentos consistentes em combater nossos ideais, preferiu partir para uma série de acusações infundadas”.

Afirma que a organização é apartidária, mas defende em seus estatutos o que chama de “capitalismo liberal, sem espaço para o socialismo”. Assim, seus integrantes podem ser de “esquerda ou direita” na vida privada, mas no seio do movimento “aideológico” as pautas de discussão já estão previamente definidas.

A convivência com o que nos é diferente é uma das virtudes de democracia. O oásis sulista corre risco de nascer igual, monótono e autoritário. 

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