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Fragilidade da esquerda pode facilitar saída pela direita, alerta o presidente da CUT

“Precisamos estar atentos à fragilidade da esquerda mundial”, afirmou o presidente da CUT, Artur Henrique, durante sua participação no Seminário Internacional sobre a Crise Mundial, na manhã deste domingo, 21, em São Paulo. Um exemplo dessa fragilidade, citado por Artur, é a força demonstrada pela direita na disputa pelo Parlamento Europeu. “Precisamos enfrentar o avanço da direita, da xenofobia, do protecionismo. A saída precisa ser pela esquerda”, afirmou.

Para Artur, “estamos correndo o risco de ficar nos debatendo com a proposta já chamada de social democracia global, que nada mais é que uma proposta de mais do mesmo. Mais do mesmo porque essa proposta, mesmo contando com a participação de vários estados nacionais, não entra na discussão realmente importante que é criar um novo paradigma, um novo modelo. Porque não enfrenta as questões essenciais que são, entre as mais importantes, o cancelamento das dívidas externas dos países, uma nova matriz energética, a implementação de uma renda cidadã mundial, como já vem acontecendo em países como o Brasil, e a garantia do emprego decente”, afirmou Artur.

Para o presidente da CUT, a resolução da crise se dará “mais pelo socialismo ou mais pelo capitalismo” a depender da capacidade de mobilização do movimento sindical e do movimento social. E conclamou a todos para novas mobilizações já agendadas, como no próximo dia 30, no Congresso Nacional, em defesa da redução da jornada de trabalho sem redução de salários, e no dia 14 de agosto, Dia Nacional de Luta Contra as Demissões.

O enfoque já havia sido abordado por outros debatedores dessa manhã. O assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, afirmou que “as crises econômicas, na esquerda, sempre foram pensadas de modo simplificado. Temos a tendência de dizer que são oportunidades, ante-salas de processos revolucionários. Isso foi verdade em algumas ocasiões, mas normalmente essas crises foram a ante-câmara de projetos autoritários”, alertou.

Para ele, a esquerda tem de “aperfeiçoar o debate teórico, mas devemos saber que a esquerda tem como principais armas a sua unidade e sua determinação política”. Comentando a necessidade de integração regional da América Latina, cuja responsabilidade afirma ser também dos governos, Marco Aurélio afirma que “o processo de integração não pode se fundir integralmente na questão comercial, pois isso aumentaria as assimetrias entre os países. Nosso projeto tem de ter como base a integração produtiva, a troca tecnológica, científica, social”, diz.

O professor Theotônio dos Santos, da Universidade Federal Fluminense, que dividiu a mesa de debates com Marco Aurélio, já havia apontado um problema crucial, a seu ver, no modo como a crise está sendo enfrentada mesmo por governos considerados mais progressistas que os anteriores, e que sem dúvida tem relação com as maiores ou menores possibilidades de a esquerda ou a direita saíram fortalecidas da crise.

“A crise esgota uma proposta do capitalismo, que é o neoliberalismo. Mas o capitalismo não tem uma só proposta”, alerta o professor. Ele diz: “Atualmente a completa inutilidade do sistema financeiro é reconhecida por todos. O sistema financeiro não tem nenhum papel. Mesmo assim, todos os governos dizem: temos de salvá-lo. Ora, mesmo correndo o risco de ser irresponsável, eu digo que temos é que deixar quebrar mesmo. O gigantismo do sistema financeiro é sustentado pelas dívidas públicas dos governos, que ficam dependentes dos bancos para refinanciar as dívidas. O Estado é que tem dado as condições para a sobrevivência desse sistema sem função alguma para o desenvolvimento”, diz. Portanto, a partir da análise de Theotônio dos Santos, pode-se inferir que as novas regras para o sistema financeiro internacional, defendida em fóruns como o G-20, são apenas cosméticas.

Gustavo Codas, assessor do governo do presidente paraguaio Fernando Lugo, logo depois faria um retrospecto das mudanças realizadas pelos governos progressistas eleitos nos últimos anos na América Latina. Na opinião do ex-assessor da CUT, “neste ciclo progressista temos momentos diferentes. Em 1998, temos a eleição de Hugo Chávez e, em 2008, a eleição de Mauricio Funes para a Presidência de El Salvador. De lá pra cá, essas vitórias se deram em um momento de expansão do comércio mundial. Esse crescimento deu margem para políticas sociais de aumento de renda com um processo de baixa conflitividade. No entanto, a crise deve mudar esse quadro sensivelmente. A reação, agora, quer que tudo pare por aí”, afirmou.

“Temos de sair juntos da crise, e isso só os partidos de esquerda e os governos com compromisso social podem fazer, criando novas regras para superar assimetrias”, completou, destacando a necessidade de união das esquerdas.

Unidade neste momento duramente comprometida, pelo menos na Argentina, segundo o representante do Partido Comunista argentino, Patrício Echegaray. “Os dois governos dos Kirschner aumentaram o emprego, reduziram a miséria e a indigência. Mas a concentração de renda aumentou muito, pois as políticas foram conduzidas com a ajuda dos setores capitalistas. Agora, com a crise, uma nova direita está se organizando”, afirma Echegaray.
Ele aponta como marco dessa reorganização conservadora as manifestações do agronegócio contra a tentativa do governo de taxar mais pesadamente o setor. “Essa nova direita quer retomar as relações carnais com os Estados Unidos. O governo tem ensaiado políticas anticíclicas, mas que a nosso ver são insuficientes. A gente tem pedido medidas que estimulem a economia social: cooperativas, reativação de fábricas ocupadas, e outras que enfrentem a pequenez de nosso mercado interno em comparação com nosso mercado exportador”.

Para o representante do PC da Argentina, a outra crise é a “falta de unidade do campo popular. O PC quer que a esquerda dirija-se para a criação de uma nova força de esquerda, algo como um peronismo de centro-esquerda. Nesse momento, a esquerda está dividida e escolheu o governo como principal inimigo, quando na verdade o inimigo é a direita que quer voltar em 2011”, afirmou.

Orlando Silva, representante do PC de Cuba, chamou a atenção para o canto de sereia das supostas mudanças acenadas pelo capitalismo. Lembrando que o presidente norte-americano Barack Obama já tem recuado de diversas promessas de campanha, como o fechamento da prisão de Guantánamo, em Cuba, e as condicionantes que os EUA querem impor para a prometida suspensão das restrições comerciais à ilha de Fidel Castro, Orlando afirma: “Podemos negociar qualquer coisa, mas em condições de igualdade”.

Ao abordar a questão da unidade das esquerdas e do movimento sindical, o vice-presidente da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), ligada ao PCdoB, Nivaldo Santana, defendeu a realização de uma nova Conferência Nacional da Classe Trabalhadora, a exemplo da Conclat de 1981. “Precisamos discutir como construir a unidade do movimento sindical”, disse Santana. A CTB foi criada depois que a Corrente Sindical Classista, do PCdoB, saiu da CUT, em 2007.

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