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Grito dos Excluídos reafirma luta por direitos e contra a privatização

A 23º edição do Grito dos Excluídos realizada neste dia 7 de setembro levou 15 mil pessoas às ruas da capital paulista, segundo os organizadores. Sob o mote “Por Direitos e Democracia, a Luta é Todo Dia!”, a atividade partiu da Praça Oswaldo Cruz, na região do Paraíso, seguiu pela Avenida Paulista e desceu a Avenida Brigadeiro Luís Antônio em direção ao Monumento às Bandeiras, no Parque do Ibirapuera, onde terminou às 12h30.

Se no ano passado os movimentos alertavam sobre os impactos do golpe no Brasil, neste ano eles reforçam a necessidade de ampliar a mobilização popular nas bases como caminho para reverter os retrocessos como a aprovação da Reforma Trabalhista que retira ou altera conquistas como o registro na carteira de trabalho, banco de horas, intervalo das refeições, além de oficializar o chamado “bico”.

Secretária de Combate ao Racismo da CUT-SP, Rosana Silva, ressaltou a publicação lançada pela Central em parceria com a Frente Brasil Popular São Paulo, entregue durante o Grito, que escancara o rosto dos 46 deputados federais e dos três senadores eleitos por SP que aprovaram o roubo dos direitos trabalhistas previstos para entrarem em vigor a partir do dia 11 de novembro. 

“Estamos mostrando os traidores que não se importam com o povo brasileiro. Esses mesmos que agora podem votar até outubro a reforma da Previdência, o que, na prática, seria o fim da aposentadoria”, afirma.

Coordenador da Central de Movimentos Populares (CMP), entidade que organiza o Grito, Raimundo Bonfim aponta que os projetos que atacam a classe trabalhadora precisam ser denunciados diariamente para que a população tenha noção de que será ela quem pagará a conta. 

“Lutaremos até o fim para reverter todas as reformas nefastas aprovadas neste período de golpe. Jamais nos daremos por vencidos. Sairemos de canto a canto, de periferia em periferia, denunciando esta atrocidade, como sempre fizemos”, garante.

Secretária nacional de Políticas Sociais e Direitos Humanos da CUT, Jandyra Ueharal, lembrou que neste dia 7, a CUT lança em todo o país um Projeto de Lei de Iniciativa Popular para revogar a Reforma Trabalhista, uma campanha que pretende alcançar mais de 1,3 milhão de assinaturas.

“Os projetos de terceirização e da Reforma Trabalhista aprovados representam o retrocesso de um século. E a nossa tarefa neste segundo semestre é resistir, fortalecer este instrumento de agitação nas bases e reverter o que o golpe fez até agora”, avalia.

Xô, privatização

A campanha “SP não está à venda”, que vem sendo trabalhada por movimentos populares, sindicatos e centrais sindicais, como a CUT e a CMP, também esteve presente durante o Grito deste ano com coleta de assinaturas.

Os participantes apontaram os ataques também presentes na administração do prefeito João Doria, do PSDB, ao anunciar mudanças no Passe Livre estudantil e a privatização de parques, praças, serviço funerário, espaços de cultura e de lazer, entre outros.

Ainda que a campanha seja focada na cidade, o governador Geraldo Alckmin, do mesmo partido, também foi lembrado, já que há alguns anos ele vem implementando a mesma lógica de privatização e terceirização, como fez com os centros de pesquisa, de gestão, de formação e de transparência e como vem fazendo com algumas linhas do Metrô.

Diretora de Políticas Sociais, Deise Capelozza, do Sindicato dos Trabalhos da Produção, Transporte, Instalação e Distribuição de Gás Canalizado do estado de São Paulo (Sindgasista) lembrou o enfrentamento que sua categoria tem feito há anos no estado paulista.

“Nossa luta é antiga contra as privatizações desde a década de 1990. Vimos o avanço da terceirização, demissões em massa, e desrespeito à organização sindical”, relata.

Da mesma forma, o ilegítimo Michel Temer foi apontado como aquele que quer vender o Brasil, que promove cortes de investimentos nos programas sociais, como da educação e moradia, além das privatizações de setores como os da energia e da desintegração petrolífera que avança e ameaça a soberania nacional.

“Infelizmente vemos agora o Brasil todo à venda. É um absurdo o que estão fazendo com a Eletrobras, promovendo o desmonte de uma empresa estratégica no setor energético”, lamenta Deise.

Dionísio Reis Siqueira, secretário de Relações Sindicais e Sociais do Sindicato dos Bancários e Financiáveis de São Paulo, Osasco e Região, também destacou a luta de sua categoria por emprego e direitos.

“Estamos indo para todas as regiões da cidade, incluindo as periferias e municípios próximos. Debatemos sobre as ameaças que sofrem os bancos públicos porque defendemos os investimentos que se dão a partir deles. O contrário ao que é público significa desemprego, alta taxa de terceirização e retrocesso.”

Além das campanhas na capital, o dirigente também lembrou a campanha “Se é público, é para todos”, que os bancários têm trabalhado em âmbito nacional para alertar o que está em jogo no Brasil.

Periferia grita

Do Grajaú, distrito da zona sul de São Paulo que já foi considerado há alguns anos  pelo Mapa da Desigualdade da Rede Nossa São Paulo como o pior bairro no quesito qualidade de vida, a moradora Cícera Moreira relata os desafios que a população hoje vive.

“Precisamos de moradia digna e social para as pessoas de baixa renda. Também temos que fortalecer a formação das crianças, dos adolescentes e dos jovens. Eu, aos 56 anos, participando há quatro anos do Grito, vejo o quanto a periferia é excluída, abandona pela prefeitura e pelo estado de São Paulo”, afirma.

Durante a marcha, os participantes bateram panelas vazias em referência à exclusão e pobreza do povo brasileiro que vive hoje a realidade do desemprego.

Cartazes também lembraram do genocídio da juventude negra e da perseguição às comunidades tradicionais, como a que tem ocorrido na capital com o povo Guarani Mbyá na Terra Indígena do Jaraguá, na zona oeste da capital.

Ao lados das filhas gêmeas de 4 anos, do marido e da mãe, Alba dos Santos Silva, moradora da Casa Verde, zona norte de São Paulo, acredita que políticas públicas são urgentes.

“Os governos muitas vezes viram as costas para a população mais pobre. A discriminação pelos sem teto e pelo sem terra é muito grande. Vivemos um momento em que muita gente não tem onde morar e sequer tem dinheiro para pagar aluguel por estar desempregada. O poder público cuida mais dos bairros nobres da cidade do que de quem precisa. E não é esse futuro que quero para as minhas filhas”, diz.

A CUT-SP e seus sindicatos também estiveram presentes nos Gritos dos Excluídos realizados nas cidades de Aparecida do Norte, Campinas, Osasco e Sorocaba.

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