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Maria Clara Araújo, a primeira garota-propaganda trans do Brasil

“Quando me assumi uma mulher trans, procurei no Google sobre o assunto e encontrei notícias sobre morte, criminalidade, só coisa ruim”, diz Maria Clara Araújo, 19, a primeira garota-propaganda trans do Brasil que, em parceria Lola Cosmetics, pode começar a transformar a forma como essas mulheres são vistas e representadas.

Lançada em setembro, a coleção Oh!Maria segue o ideal da marca de cosméticos, que é criar produtos para todos os públicos. “Tê-la como a garota-propaganda da nossa marca dá chance para que outras meninas trans percebam que têm o direito de ser o que bem entenderem”, afirma a assessoria de imprensa da Lola.

Para a jovem de Recife, ser garota-propaganda foi, a princípio, assustador, por considerar que não se enquadra no modelo de beleza que as marcas costumam procurar. “Eu sou uma mulher negra e estou longe de ser magra. Além disso, a mídia brasileira só escolhe modelos muito específicos para representar a mulher trans, que é no meio satirizador, patologizador, e de humilhação e criminalidade”, mas ela afirma que essa é uma oportunidade de expandir a representação das mulheres.

Isso, no Brasil, significa uma quebra de padrões que vai além da estética, uma vez que o país é líder em mortes por transfobia e o mercado formal de trabalho não atende essas mulheres. “A cidadania vai além de produzir um bom produto e obter lucro. O comércio, por si só, é passado, e somos e queremos fazer sempre parte desse presente mais justo e mais plural”, diz a assessoria da Lola.

Uma pesquisa do projeto Respeito trans versus Transfobia, da Transgender Europe, revela que em 2014 ao menos 226 trans foram mortas no mundo todo, sendo que metade dessas mortes ocorreram apenas no Brasil. 

A essa realidade, Maria Clara acrescenta: “A imagem dessas mulheres também está condicionada à prostituição. Elas não aguentam a situação que vivem na escola, a família coloca para fora de casa, então não há mercado de trabalho formal que atenda essas meninas, por isso a prostituição se torna um meio de sobrevivência, não uma opção. Indo contra todas essas tendências, receber um convite de representar uma marca é uma atitude humanizadora”.

Mas essa não é primeira conquista da jovem mulher. No começo deste ano, ela foi aprovada na UFPE, a Universidade Federal de Pernambuco, para cursar pedagogia, uma trans a mais no ensino superior público do Brasil. Além disso, ela batalhou para conseguir usar seu nome social na faculdade, alcançando este direito não só para si, mas para todas as pessoas trans da UFPE.

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