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Morre Eduardo Galeano, escritor que se tornou referência para intelectuais latino-americanos

“Na maioria dos países, a vida vale pouco ou nada, principalmente quando é a vida de um pobre.”
(Eduardo Galeano)

O escritor e jornalista uruguaio Eduardo Galeano morreu hoje (13) aos 74 anos, informaram os diários uruguaios El País e Subrayado. Galeano é considerado um dos maiores autores da literatura latino-americana.  Ele estava internado em um hospital em Montevidéu e morreu devido a complicações de um câncer de pulmão, que já havia sido tratado em 2007.

Entre suas obras mais famosas estão As Veias Abertas da América Latina, Memórias do Fogo, Os Dias Seguintes, Crônicas Latino-Americanas. Em suas obras, ele misturou os gêneros de ficção, jornalismo, análise política e histórica.

Galeano nasceu em 3 de setembro de 1940 em Montevidéu e começou a escrever aos 14 anos no jornal El Sol. Em 1958, passou também a escrever crônicas de arte. Nos anos 1960, trabalhou como editor do jornal semanal Marcha e no diário Época.

Após o golpe de estado em 1973, Galeano teve de deixar o Uruguai e foi viver na Argentina. Quando voltou ao seu país em 1985, ele fundou o semanário Brecha.

Referência

O escritor uruguaio Eduardo Galeano nasceu em 1940, em Montevidéu em uma família de classe média. Começou no jornalismo na década de 60, como chefe de redação e diretor dos jornais Marcha e Época, ambos na capital uruguaia. Em 1971, Galeano publica sua obra mais conhecida, As Veias Abertas da América Latina, que se torna referência para compreensão das mazelas do Continente.

Clássico entre os intelectuais da esquerda latino-americana, o livro analisa a América Latina desde sua origem. Na obra, Eduardo Galeano explica como a riqueza e a fartura de toda uma região tornaram-se sua ruína.

“Nossa derrota esteve sempre implícita na vitória alheia. Nossa riqueza gerou sempre nossa pobreza para alimentar a prosperidade dos outros: os impérios e seus agentes nativos. […] o bem-estar de nossas classes dominantes – dominantes para dentro, dominados para fora – é a maldição de nossas multidões, condenadas a uma vida de bestas de carga”, diz o escritor.

O presidente do SinPsi, Rogério Gianinni, lamenta a perda de um dos escritores mais relevantes para a esquerda latino-americana e cita o livro com um de seus preferidos.

As Veias Abertas da América Latina me inspiraram a ter uma visão de latinidade. É um livro denso, sobre exploração econômica e dominação política escrito com paixão, mas sem perder o rigor. Galeano nos mostrou uma américa latina viva, culturalmente relevante e que traz uma contribuição civilizatória para a humanidade. Leitura essencial para toda a militância”, recomenda o dirigente sindical.

Após o golpe no Uruguai, em 1973, Galeano foi preso. Ao sair da cadeia, exilou-se na Argentina, onde dirigiu a revista Crisis, de viés político e cultural. Em 1976, mudou-se para a Espanha, com medo da repressão do regime militar do general argentino Jorge Videla.

Na Europa, começou a escrever a trilogia Memória do Fogo, com os livros Os Nascimentos, as Caras e as Máscaras e O Século do Vento. Com o fim da ditadura uruguaia, em 1985, ele retornou a Montevidéu.

Poucos são aqueles que, décadas depois de entregar ao mundo uma grande criação, lembram dela e simplesmente dizem que “foi uma etapa que está superada”. Eduardo Galeano é um desses. E nem isso faz com que sua obra-prima, As veias abertas da América Latina, seja menos reverenciada.

O escritor lançou mais de 40 obras. Além das já citadas, algumas de suas principais publicações são De Pernas pro Ar, Dias e Noites de Amor e de Guerra, Futebol ao Sol e à Sombra, O Livro dos Abraços, As Palavras Andantes e Vagamundo.

Em 1975 e 1978, Eduardo Galeano recebeu o prêmio Casa de Las Américas. A trilogia Memória do Fogo foi premiada pelo Ministério da Cultura do Uruguai em 1982, 1984 e 1986, anos de lançamento de cada um dos três livros. Nos Estados Unidos, o escritor e jornalista foi homenageado com o American Book Award, em 1989, e com o Prêmio à Liberdade Cultural, da Lannan Foundation, em 1999. Em 2001, recebeu o título de Doutor Honoris Causa, concedido pela Universidade de Havana, em Cuba.

Galeano esteve no Brasil em 2014, quando abriu a 2ª Bienal do Livro de Brasília. Na ocasião, ele surpreendeu todos ao informar que não leria novamente As Veias Abertas da América Latina. “Para mim, a prosa da esquerda tradicional é pesadíssima. Meu físico [atual] não aguentaria. Eu cairia desmaiado”, brincou.

Veja aqui a entrevista concedida pelo escritor uruguaio, em 2013, ao comentarista político da TV Brasil, Emir Sader.

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