Representantes de Geraldo Alckmin não vão a audiência na Câmara, situação do Sistema Cantareira é questionada e técnicos dizem que Sabesp deveria ter feito projeção mais conservadora sobre volume
Brasília – Marcada pela ausência total de representantes do governo de São Paulo e de dirigentes das empresas que administram o gerenciamento do sistema hídrico daquele estado. Assim foi a audiência pública realizada pela Câmara dos Deputados nesta quinta-feira (13) para discutir a crise de abastecimento nos municípios paulistas. O evento só não foi perdido por conta da presença do presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente Guillo, e da representante do Ministério Público, a procuradora Sandra Shimada.
Os participantes disseram ter dúvidas sobre a veracidade da atual capacidade de armazenamento dos reservatórios, criticaram o governo paulista pelo otimismo exagerado em relação ao problema e a falta de transparência na apresentação dos dados.
De acordo com informações do presidente da ANA, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) enviou documento à agência fazendo uma projeção de 15 metros cúbicos de água entrando nos reservatórios no início do ano, quando a entrada foi de 4 metros cúbicos no mesmo período. “Não é possível fazer administração do volume morto (volume de água que fica estocado em barragens, abaixo do que é usado para abastecimento) como se não fosse para uso em emergência, isso é uma projeção de futuro que se adapta às medidas que estão sendo tomadas no curto prazo”, colocou.
Dependente de chuvas
Vicente Guillo acentuou que a ANA, pelos seus estudos, não acredita que o Sistema Cantareira tenha 11% de reserva atualmente, como afirma o governo de São Paulo, porque o sistema está com 20% negativo do seu volume e, dessa forma, o abastecimento da região depende de chuvas. O dirigente da agência também criticou o anúncio do governador Geraldo Alkmin de realização de obras para superar o problema, porque segundo ele, a curto prazo, só a chuva e a adoção de medidas como o racionamento são viáveis.
“Dizer que uma obra resolve é tirar o foco do problema, porque as obras começam agora, mas precisam de dois ou mais anos para entrar em funcionamento. Uma obra que está programada e pode ficar pronta em nove meses em São Paulo está ligando um rio que está seco a outro que também está seco, ou seja, você depende de chuvas”, afirmou.
De acordo ainda com Vicente Guillo, “foi a persistência em olhar para o futuro de maneira otimista que colocou São Paulo numa situação pior do que deveria”. Na opinião do presidente da ANA, as decisões sobre a questão deveriam ter sido tomadas levando-se em conta um cenário mais conservador. “Mas o governo de São Paulo agiu como se estivéssemos num período de normalidade, e não estamos”, frisou.
Conforme dados apresentados por ele, seriam necessários 100 metros cúbicos por segundo no sistema, para que fosse dada continuidade à retirada de 23 metros por segundo. “Mas essa média de chuvas é superior aos máximos históricos da região”, disse.
Informações inacessíveis
Já a procuradora Sandra Shimada afirmou que o governo não tem disponibilizado planos nem políticas de racionamento, o que dificulta o trabalho do Ministério Público nas investigações sobre o problema. “Para sabermos se há alternativas e melhores soluções, precisamos de informações, mas nada está acessível”, ressaltou, acrescentando que as vistorias feitas pelo MP apresentaram divergências entre os dados apurados pelos procuradores e os dados da Sabesp – justamente em razão da falta de transparência no trato da questão.
“Se não houver um dilúvio, vai faltar água. A falta com a verdade por parte do governo para enfrentar a crise joga com otimismo para chuvas futuras”, acentuou o deputado Guilherme Campos (PSD-SP), autor do requerimento da audiência, que foi realizada pela à Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio da Câmara.