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‘A Psicologia quer contribuir para um Brasil melhor’, afirma Ana Bock

Em uma entrevista sobre a história da Psicologia no Brasil, a psicóloga e membro da secretaria executiva do CBP, Ana Maria Mercês Bock, fala sobre a evolução do maior congresso da Psicologia no Brasil. Ela esteve presente em todas as edições do Congresso e afirma: “A categoria profissional reconhece o Congressão, cada vez mais, como lugar de encontro com a ciência”.

Ana Bock fala sobre a representatividade dos psicólogos/as e estudantes no IV CBP, o estreitamento da psicologia brasileira com a dos países da América Latina, a expectativa em relação ao evento e os reflexos provenientes dos debates para o futuro da profissão. “Vejo com otimismo a capacidade da psicologia, como ciência e profissão, contornar as dificuldades, aceitar os desafios e ousar criar o que o Brasil precisa”, avalia.

Confira a entrevista.

Ascom IV CBP: A senhora participou de todas as edições do CBP. Como enxerga o evento e a importância dele para a psicologia como ciência e profissão?

Ana Bock: A Psicologia, no final dos anos 90, precisava e pedia por espaços que reunissem a diversidade da ciência e da profissão. Muitos espaços específicos de área foram criados com o avanço da organização das psicólogas, mas tornava-se necessário criar um espaço brasileiro que reunisse TODA A PSICOLOGIA. Foi isto que fez o CBP. Foi surpreendente a resposta de todos a esta iniciativa. O Fórum de Entidades da Psicologia Brasileira –FENPB, responsável pelo evento, pode, com o CBP, ter uma expressão completa e concreta de sua finalidade.

IV CBP: Como a senhora vê a evolução do CBP nestas quatro edições? O que mais lhe chamou atenção em termos de crescimento?

AB: O CBP cresceu em tamanho, mas cresceu principalmente em reconhecimento. A categoria profissional reconhece o CBP, cada vez mais, como lugar de encontro com a ciência. A profissão esteve, de certa forma, durante muitos anos depois de sua regulamentação, isolada e nenhum espaço era criado para que ela pudesse, a sua maneira, apresentar suas ideias, suas experiências e seus avanços; para que ela pudesse orientar a ciência naquilo que ela acumulava na prática. A ciência, por outro lado, achava que a profissão lhe dava pouca importância. O CBP ousou reunir estes dois âmbitos. Acho que ainda temos muito caminho pela frente, mas cresce o número de simpósios que reúnem a ciência e a profissão. É isto que me chama atenção no projeto do CBP; é isto, para mim, que se deve esperar de um congresso que pretende fazer avançar a Psicologia.

IV CBP: E o envolvimento da categoria, tanto profissionais quanto estudantes, no CBP. Como a senhora observa a presença dessas pessoas no evento? Houve mais adesão, mais envolvimento?

AB: Não é fácil reunir os milhares de psicólogos, de estudantes e pesquisadores que estão por este país. Concentrá-los em São Paulo exige disposição de cada um, mas exige vontade política dos coletivos. É preciso organização para trazer a Psicologia a São Paulo. Neste sentido, sabemos que reunir 10 a 15 mil congressistas não é tarefa fácil. Mas o número de inscritos, desde os primeiros momentos, mostra a disposição de todos. São estudantes que pesquisam e querem mostrar seu trabalho; são estudantes que fazem estágios ou projetos de extensão e querem partilhar suas experiências; são professores que trazem consigo um conjunto de estudantes que quer ver de perto a psicologia reunida. A alegria que se apresenta nos corredores, nas salas, nos eventos culturais, na escultura humana (que vem se tornando tradição no CBP) é algo delicioso e avançado. A Psicologia amadurece a cada CBP. A Psicologia se reconhece a cada CBP.

IV CBP: O CBP é um palco para apresentação de práticas acerca dos diversos fazeres psicológicos. Como a senhora enxerga esse processo de mostra generalizada e, consequentemente, intercâmbio de experiências? Tem alguma atividade que, na sua opinião, que tomou mais fôlego a partir dos debates gerados pelo congresso?

AB: Eu diria que a Psicologia cresceu como um todo. É só verificar o quanto cresceu o FENPB. Eram apenas cinco entidades, em 1998. Hoje são 24 ou mais. Isto é crescimento da Psicologia e o CBP tem papel importante nisto.

IV CBP: A participação internacional é um instrumento importância na troca de experiências entre países, além de aproximá-los. Como a senhora vê essa participação no Congressão ao longo dessas quatro edições?

AB: A Psicologia sempre dialogou com a Psicologia de outros países. O CBP recebe estas contribuições e as considera importantes; várias entidades estrangeiras e vários profissionais e pesquisadores estrangeiros estiveram nos CBPs. Mas, talvez o maior crescimento tenha sido do diálogo com a Psicologia dos países da América Latina. A Psicologia, ao se desenvolver, reconheceu a semelhança com os problemas, os sofrimentos e as urgências que existiam nos outros países da América Latina. Não hesitou. Foi em busca deles e o CBP pode receber também este novo interesse e estas contribuições.

IV CBP: Em uma análise de conjuntura realizada pelo CFP a senhora falou sobre o legado do passado e as expectativas em relação ao futuro na psicologia quando ela fez 50 anos. Como a senhora vê hoje esse cenário? Qual a expectativa em relação ao futuro da Psicologia tendo em vista todos os debates que já foram gerados e que ocorrerão no CBP?

AB: Eu diria que estamos no meio do caminho e que há muitas pedras. Vejo com otimismo a capacidade da psicologia, como ciência e profissão, contornar as dificuldades, aceitar os desafios e ousar criar o que o Brasil precisa. Ainda teremos muito que enfrentar para que o compromisso da Psicologia com a realidade brasileira se amplie de tal maneira que não tenhamos risco da volta ao antigo. Mas os jovens estão aí, nas diversas escolas de psicologia, querendo uma formação que seja crítica e que garanta a possibilidade de entender e interferir na difícil realidade brasileira. O CBP é também isto: o encontro da juventude da psicologia em um espaço de perguntação, de questionamentos, de ousadias.

IV CBP:Qual o principal legado do CBP na sua opinião?

AB: Reunir a Psicologia permitindo uma identidade que não exclui as diversas contribuições produzidas no Brasil.

IV CBP: Como membro da secretaria executiva do IV CBP, o que a senhora adianta que o público possa esperar do Congresso? Como estão os preparativos a expectativa para essa quarta edição?

AB: A secretaria executiva carrega as experiências passadas e quer sempre ir adiante. A cada CBP se inventa algo novo. Neste evento, um espaço de debate das questões atuais e cruciais da realidade brasileira será criado. “Falando sério” será um espaço interdisciplinar, onde a psicologia receberá outros profissionais que possam apresentar suas leituras sobre problemas da realidade brasileira. A Psicologia quer avançar nas suas possibilidades de contribuição para um Brasil melhor. Este CBP, além de tudo que já existia (até a escultura humana), trará esta novidade.

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